Maduro manda reforçar segurança nos protestos e anuncia prisões

De Caracas

Policiais venezuelanos prenderam seis pessoas classificadas de "bandidos", anunciou nesta quinta-feira (13) o presidente Nicolás Maduro, horas depois de ter anunciado "medidas drásticas" contra os protestos iniciados há um mês no país.

Entrevista ao Opera Mundi

  • Opera Mundi

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"Revistamos os lugares onde esses bandidos estavam escondidos, e temos seis presos. Apreendemos armas, C4 [explosivo], bombas, e continuamos as buscas", declarou Maduro, sem divulgar as identidades dos detidos.

"De madrugada, a Guarda Nacional Bolivariana controlou todo [o setor de] El Trigal em Valencia", cidade a 150 km de Caracas, onde três pessoas morreram em confrontos na quarta-feira (12).

Há um mês o país é palco de manifestações estudantis, apoiadas por políticos da oposição, que pedem a saída de Maduro. O presidente classifica os protestos como "tentativa de golpe de Estado".

"Vou tomar medidas drásticas com todos esses setores que estão atacando e matando o povo da Venezuela", anunciou Maduro, na quarta-feira.

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Número de mortos chega a 28

A procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz, fez um novo balanço dos resultados das manifestações: 28 mortos, 365 feridos, 106 presos e 41 investigações por violações de direitos humanos por parte dos policiais.

Posteriormente, 30 manifestantes - a maioria jovens - foram detidos pela Polícia Nacional no leste de Caracas, quando levantavam barricadas em uma avenida próxima à Praça Altamira.

O grupo de manifestantes tentava negociar com os policiais quando um desconhecido lançou um coquetel molotov. Os agentes, que estavam de motocicleta, reagiram com bombas de gás lacrimogêneo e foram alvo de uma enxurrada de pedras, antes de realizar as detenções.

Os detidos foram levados de motocicleta, em uma operação que durou menos de 20 minutos, enquanto cerca de 200 manifestantes fugiam pelas ruas em torno da Praça Altamira.

Protestos começaram há mais de um mês

Os protestos começaram no dia 4 de fevereiro no estado de Táchira (oeste, na fronteira com a Colômbia), depois de uma estudante ter sofrido uma tentativa de estupro em um campus universitário, e se espalharam por várias cidades do país. As três primeiras mortes ocorreram em Caracas, em 12 de fevereiro.

Diariamente, passeatas com alguns milhares de pessoas vêm tomando as ruas do país, juntando pessoas de várias idades e ocupações. Entre as principais queixas da população, estão a insegurança, a inflação, a escassez de produtos, a repressão policial e a detenção de líderes opositores.

Também pedem o fim dos chamados "coletivos", grupos armados supostamente ligados ao chavismo e apontados como os responsáveis por várias mortes e por ameaçar manifestantes.

O governo acusa a oposição, por sua vez, de ter seus próprios grupos armados agindo nas manifestações.

Apesar de a maioria das passeatas serem pacíficas, são comuns atos de violência por parte de um pequeno grupo de manifestantes. Geralmente encapuzados, eles lançam pedras e coquetéis molotov contra policiais, que respondem com gás lacrimogêneo.

Tentativas de negociação

Embora os protestos estejam reunindo cada vez menos pessoas, o governo não consegue controlar barricadas construídas todas as noites em diversos pontos do país.

Maduro insiste em chamar a oposição ao diálogo. Seus representantes ainda não compareceram às diversas reuniões organizadas pelo governo, ao contrário de setores do empresariado.

"Ninguém aceita um monólogo, nem imposições de um governo que tentou resolver a crise com mortos, feridos, torturados, detenções e presos", escreveu no Twitter o líder anti-chavista Henrique Capriles.

Os opositores, que anunciam que vão continuar nas ruas, reclamam que o governo não atende às suas reivindicações, entre elas a libertação do dirigente Leopoldo López, preso há quase um mês em um quartel militar.

Acusado de incitar a violência, López é um dos três políticos da oposição que lançaram a tática chamada de "A Saída", que consistia em ocupar as ruas para forçar a renúncia do presidente, eleito em abril de 2013.

"Se o governo não quer prestar atenção ao povo, o que nos resta é fechar a rua", declarou um dos líderes estudantis, Juan Requesens, que afirma não ter recebido de Maduro uma convocação formal para dialogar.

"Presidente, tenha a honra de ceder primeiro para conquistar a paz", disse no Twitter o analista político Luis Vicente León.

Dimensão internacional

A tensão vivida na Venezuela, que alguns tentaram comparar com a da Ucrânia e dos países da chamada "Primavera Árabe", é acompanhada de muito perto no cenário internacional.

O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu nesta quinta ao governo venezuelano que respeite os direitos humanos, em discurso no Congresso dos Estados Unidos.

"Estamos tentando encontrar uma forma de fazer que o governo de Maduro se comprometa com seus cidadãos, que os trate com respeito, que termine com essa campanha de terror contra seu próprio povo e passe a respeitar os direitos humanos", afirmou, ao reiterar que a solução para a situação do país precisa da participação de um terceiro ator.

Maduro, que rejeitou a mediação da OEA (Organização dos Estados Americanos) e rompeu relações com o Panamá, aprovou uma comissão criada pela União das Nações Sul-Americanas, que vai acompanhar o diálogo entre o governo e oposição a partir da primeira semana de abril.

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