Turquia finaliza resgate após explosão em mina e totaliza 301 mortos
A Turquia finalizou neste sábado (17) os trabalhos de resgate na mina de Soma com a recuperação dos últimos corpos dos 301 mineiros falecidos nesta tragédia, que alimenta o descontentamento contra o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, a três meses da eleição presidencial.
Após quatro dias de complicadas operações, as equipes de resgate levaram à superfície os cadáveres dos dois últimos mineiros que permaneciam na jazida acidentada na terça-feira.
"A missão de resgate foi concluída. Não resta nenhum mineiro no fundo da mina", declarou o ministro da Energia, Taner Yildiz, à imprensa.
O maior acidente minerador da história da Turquia provocou uma onda de indignação contra a empresa Soma Komur Isletmeleri, acusada de priorizar a rentabilidade acima da segurança, e contra o governo islamita conservador, por ter descuidado da segurança dos mineiros.
As forças de segurança dispersaram violentamente com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água na sexta-feira uma manifestação que exigia, a poucos quilômetros do local da tragédia, a renúncia do governo de Erdogan.
"O carvão não poderá confortar o coração dos filhos dos mineiros falecidos", afirmava um cartaz carregado pelos manifestantes em Soma.
Segundo a Associação de Advogados Contemporâneos, ao menos 36 pessoas, entre elas 8 advogados, foram detidas neste sábado por tentar realizar uma declaração pública. O governador da região havia proibido qualquer tipo de manifestação.
Erdogan - que dirige a Turquia desde 2003 e pode anunciar sua candidatura à eleição presidencial de agosto - atribuiu o acidente à fatalidade, e rejeitou as acusações de negligência, ao mesmo tempo em que anunciou uma investigação para esclarecer o ocorrido.
"Os acidentes foram parte da própria natureza da mina", havia afirmado.
As fotografias dos protestos também não acalmaram os ânimos, num momento em que se aproxima o primeiro aniversário da onda de protestos antigovernamentais de 2013.
Segundo imagens divulgadas nas redes sociais, o chefe de Governo, famoso por perder a calma, teria dado um tapa em um manifestante, uma informação desmentida na sexta-feira pelo porta-voz de seu partido para a Justiça e o Desenvolvimento (AKP), Huseyin Celik.
A foto de um dos assessores do primeiro-ministro chutando um manifestante, enquanto dois policiais fortemente armados seguravam a vítima no chão, provocou grande impacto em uma Turquia de luto.
As críticas ao governo, acentuadas em dezembro pela publicação de um escândalo de corrupção que resvalou no Executivo e no próprio primeiro-ministro, não afetaram o governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que venceu as eleições municipais de 30 de março.
Após a vitória, ninguém duvida que o homem mais carismático da política turca vai disputar a próxima eleição presidencial dos dias 10 e 24 de agosto.
Por sua vez, em sua edição deste sábado o jornal Milliyet afirma que um relatório preliminar sobre as causas da catástrofe aponta a falta de detectores de monóxido de carbono na mina.
O presidente da companhia mineradora, Alp Gürkan, muito criticado pela imprensa após a catástrofe, havia se vangloriado em 2012 de ter conseguido reduzir de 130 a 24 dólares a tonelada dos custos de produção em sua mina.