Vice-presidente da Argentina depõe em caso de corrupção

BUENOS AIRES, 10 Jun 2014 (AFP) - O vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, de 51 anos, prestou um depoimento de cerca de sete horas à Justiça nesta segunda-feira, na condição de acusado em um caso de corrupção, procedimento durante o qual insistiu em sua inocência.

"Respondi algumas perguntas do juiz e do promotor e, agora, vamos postar o texto completo da declaração no meu Facebook", disse Boudou aos vários jornalistas que o aguardavam na entrada do tribunal da capital argentina.

Boudou testemunhou em uma corte federal que investiga a compra da empresa Ciccone Calcográfica, única emissora de cédulas e documentos oficiais do país, na época em que ele foi ministro da Economia, em 2010.

Pela primeira vez na história argentina, um vice-presidente em exercício é interrogado em um caso de corrupção.

O interesse do vice-presidente em publicar seu testemunho completo no Facebook está relacionado à sua denúncia de que ele está sendo vítima de uma campanha da imprensa.

Boudou fez um pedido de última hora ao juiz responsável pelo caso, Ariel Lijo, para que permitisse que sua declaração fosse gravada para ser posteriormente divulgada. A solicitação foi negada no início da audiência, informou uma fonte judicial.

Na semana passada, o magistrado havia negado outro pedido de Boudou para que a audiência fosse transmitida ao vivo.

"Vou dizer a verdade. Não tenho uma estratégia de defesa", declarou Boudou ao deixar sua casa em Puerto Madero, no centro de Buenos Aires, a cerca de dez minutos dos tribunais.

"Eu poderia não ter ido, não me apresentar, mas irei, direi a verdade", reiterou o vice-presidente, que nos últimos dias recebeu o apoio de representantes da presidente Cristina Kirchner.

Ele aparentava tranquilidade ao chegar ao tribunal.

O ex-ministro da Economia foi o mentor da reestatização dos fundos de aposentadorias e pensões, processo que sofreu muita oposição de alguns setores econômicos no país.



- 'Amado, acreditamos em você' - A audiência começou às 11h e se estendeu por pelo menos sete horas.

Segundo a Justiça, o interrogatório busca esclarecer se Boudou "se beneficiou de sua condição de funcionário público" para favorecer a empresa impressora de papel-moeda quando ocupava o cargo de ministro da Economia em 2010.

Nos próximos dias, outros seis indiciados serão interrogados até 13 de junho. Após essa primeira fase, o juiz terá dez dias úteis para decidir se dará prosseguimento ao processo dos indiciados, segundo o centro de informação judicial (CIJ), subordinado à Suprema Corte argentina.

"Força Amado, acreditamos em você", diziam cartazes de simpatizantes do vice-presidente reunidos em frente ao tribunal.

Algumas horas antes da chegada de Boudou, um grande esquema de segurança foi montado nos arredores do tribunal, que foi fechado ao público.

A intimação judicial indica que o vice-presidente, junto "com José María Núñez Carmona, teria adquirido a empresa falida e monopólica Ciccone Calcográfica quando era ministro da Economia (durante o primeiro mandato de Cristina Kirchner), por meio da sociedade The Old Fund e de Alejandro Vandenbroele, com o objetivo final de obter um contrato do Governo Federal para a impressão de documentos oficiais".

O ex-ministro da Economia, que se tornou vice-presidente em 2011, havia sido intimado a depor em 15 de julho. Ele pediu que a data fosse antecipada, alegando querer esclarecer o seu papel no caso o mais rápido possível. Ele diz ser vítima de uma campanha da mídia e de setores econômicos.

"Vale a pena entrar nessas brigas. Aqui o que está em jogo é se o poder está no povo, ou em poucas mãos que tomam as decisões", disse o vice-presidente à rádio Província antes de se apresentar à Justiça.

Boudou toca guitarra elétrica e é fã de motocicletas. Ele é um ex-militante da direita liberal que se converteu ao peronismo.

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