Governo sírio está disposto a participar em negociações de paz

Beirute, 24 dez 2015 (AFP) - O governo da Síria está "disposto a participar" das negociações previstas para o fim de janeiro em Genebra para tentar acabar com a guerra civil, mas deseja saber quais grupos de oposição participarão do diálogo, para excluir aqueles que considera "terroristas".

No terreno, vinte civis, entre eles sete crianças, morreram em ataques aéreos lançados pelo regime de Bashar al Assad contra uma localidade situada a sudeste de Damasco, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Dezenas de pessoas também ficaram feridas durante estes ataques no centro de Hammuriyé, localidade da Guta oriental, o maior reduto rebelde na província de Damasco, regularmente bombardeado pelo regime, destacou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

"A Síria está disposta a participar no diálogo entre sírios em Genebra, sem interferência estrangeira", declarou em Pequim o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem, após um encontro com seu colega chinês, Wang Yi.

A China é um dos aliados do regime de Bashar al-Assad.

"Nossa delegação estará preparada, uma vez que recebamos a lista da delegação da oposição. Esperamos que este diálogo nos ajude a criar um governo de união nacional", disse o chanceler do regime de Bashar al-Assad.

A crescente presença do Estado Islâmico (EI) estimulou, pela primeira vez em quase cinco anos de conflito, os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU - incluindo Rússia e China - a adotar em 19 de dezembro uma resolução que estabelece um mapa do caminho para uma solução política à guerra civil na Síria.

A resolução prevê negociações entre a oposição e o regime de Damasco. O diretor-geral da ONU em Genebra, Michael Moller, afirmou que as conversações devem acontecer na Suíça no fim de janeiro.

O chanceler também afirmou que a Síria espera receber uma lista de "organizações terroristas" que não terão a permissão de participar nas negociações.

O tema é crucial porque o regime de Damasco classifica como "terroristas" todos os grupos que pegaram em armas para exigir a saída de Assad, sem estabelecer diferenças entre os rebeldes ou os jihadistas da Frente Al-Nosra ou do EI.

A Jordânia, encarregada pelos 17 países do Grupo de Apoio à Síria de preparar uma lista de grupos considerados terroristas que serão excluídos das negociações, já informou em 22 de dezembro existir um "consenso absoluto" para descartar a Frente Al Nosra e o EI.

Além das negociações entre a oposição e o regime de Damasco, assim como um cessar-fogo, o texto da resolução aprovada prevê um governo de transição em seis meses e eleições em 18 meses.

"Este governo (de união nacional) formará um comitê constituinte para refletir sobre uma nova Constituição com uma nova lei eleitoral, de forma que eleições legislativas possam ocorrer dentro de 18 meses", assegurou o ministro sírio das Relações Exteriores.

Mas o processo pode ser afetado pelas divergência na comunidade internacional sobre o destino de Assad: os ocidentais querem que ele deixe o poder, mas os russos apoiam o presidente sírio.

As grandes potências demonstraram a intenção de implementar este processo para por fim a um conflito que já deixou mais de 250.000 mortos. De acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), 4,4 milhões de sírios fugiram do país desde 2011.

EI avança no leste, governo no oesteNo campo militar, o EI prosseguia com seu avanço ante às forças leais ao presidente Assad e ampliava o controle em uma cidade do leste do país, após combates e ataques que deixaram 26 mortos.

O EI passou a controlar um bairro industrial de Deir Ezzor, a 450 km de Damasco, após uma violenta ofensiva iniciada na quarta-feira, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

As forças iraquianas avançavam nesta quinta-feira em Ramadi para expulsar os últimos jihadistas desta cidade situada a 100 km de Bagdá, mas o fazem com prudência porque está minada de artefatos e ante a possível presença de civis.

Os combates causavam estragos nos arredores da antiga sede do governo provisório, no centro de Ramadi, capital da província de Al Anbar (oeste), povoada majoritariamente por sunitas.

Desde 2014, o EI controla quase toda a província petroleira de Deir Ezzor, mas metade da capital de mesmo nome segue sob controle do governo.

Se o grupo radical se apoderar da cidade, ela seria a segunda capital de província, depois de Raqa, no norte, a cair no controle dos jihadistas.

Japão investiga sequestroAo mesmo tempo, o governo japonês informou que está investigando o suposto sequestro de um jornalista do país por um grupo armado na Síria, notícia divulgada pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

"Sabemos que a RSF publicou esta informação, mas não podemos comentá-la", disse o porta-voz do governo do Japão, Yoshihide Suga.

"Garantir a segurança dos japoneses no exterior é nosso dever", completou, antes de afirmar que o governo mobilizou "ao máximo várias redes de informação".

De acordo com a RSF, o jornalista Jumpei Yasuda foi sequestrado em julho de 2015 quando investigava na Síria, entre outros temas, a execução pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) de seu colega Kenji Goto, um dos dois japoneses decapitados em janeiro.

"Jumpei Yasuda está em perigo, os sequestradores iniciaram uma contagem regressiva", afirmou a RSF.

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