"Não somos militantes, somos profissionais", dizem argentinos demitidos do serviço público

Buenos Aires, 7 Jan 2016 (AFP) - Centenas de funcionários com contratos temporários que não foram renovados esta semana pelo governo do presidente argentino Mauricio Macri, num emblemático centro cultural dos Kirchner, protestaram nesta quinta-feira contra o que chamam de uma campanha de difamação para caracterizá-los como "militantes".

"Não somos nem militantes nem 'nhoques'", gritavam os funcionários, contra o termo pejorativo usado na Argentina para os trabalhadores com cargos fictícios, dentro de um sistema corrupto e amplamente utilizado no setor público.

A marcha dos "despedidos" ocorreu nos arredores do Centro Cultural Kirchner (CCK), uma obra monumental inaugurada em maio de 2015 que transformou o Palácio dos Correios do século XIX de Buenos Aires num moderno centro de cultura, museu e sala de espetáculos.

Com setores ainda em construção, o espaço ofereceu em menos de um ano obras gratuitas a todo o público entre salas que enalteciam a mítica figura peronista de Eva Perón (1919-1952) e também exibia mobiliário do falecido ex-presidente Néstor Kirchner. Nesta semana, o ministro de Meios Públicos de Macri, Hernán Lombardi, anunciou que não renovaria 600 dos 700 contratados deste centro.

Todos os funcionários foram contratados em 2015, coincidindo com a inauguração do CCK no início do ano.

Em alguns casos, informou Lombardi, contratações foram feitas em dezembro, quando estava por assumir a nova administração de direita, após 12 anos de governos de centro-esquerda de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015).

Entre cartazes que diziam "a cultura não é um gasto" e gritos de guerra contra Lombardi e Macri, Mateo Aguilar, que trabalhava na produção técnica do CCK há seis meses lamentou a medida.

"Aqui a maioria das pessoas cumprem tarefas diárias em função de suas respectivas formações", argumentou o técnico de 31 anos.

Seu maior lamento é que procuraram "desde que venceram as eleições formas de dialogar, para saber como qual seria o futuro dos cargos. Mas tive que saber pelo Twitter que perdi meu emprego", disse.

"No CCK 81% das designações forma efetuadas durante 2015. Sem concursos e por meio de universidades", escreveu Lombardi na terça-feira nessa rede social.

Segundo o ministro, os trabalhadores continuaram sendo contratados até minutos antes da troca de governo e ingressavam por meio de convênios com três universidades estatais vinculadas à militância kirchnerista.

O governo liberal do presidente Mauricio Macri, que inaugurou um ciclo de direita no país em 10 de dezembro, prometeu reduzir o aparato estatal num momento em que o déficit orçamental ultrapassou 7% do PIB.

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