Rajoy rejeita por enquanto formar governo na Espanha

Madri, 22 Jan 2016 (AFP) - O chefe de governo espanhol em fim de mandato, o conservador Mariano Rajoy, renunciou nesta sexta-feira postular-se a formar um governo, como propôs o rei Felipe VI, após uma rodada de consultas com os diferentes partidos do Congresso, informou a Casa Real.

"Sua Majestade, o Rei, ofereceu-lhe ser candidato à presidência do governo. Dom Mariano Rajoy Brey agradeceu à sua Majestade, o Rei, por tal oferta, que declinou", destacou a Casa Real em um comunicado emitido após a rodada de consultas de Felipe VI para nomear um candidato.

Depois, o próprio Rajoy explicou à imprensa: "Mantenho minha candidatura, mas não posso apresentá-la hoje porque não só não tenho a maioria, como tenho uma maioria contra", explicou em coletiva de imprensa Rajoy, que atualmente conta com apenas 119 votos a favor do seu partido e cerca de 180 contra em um Congresso com 350 assentos.

A partir da quarta-feira, o rei Felipe VI iniciará nova rodada de consultas com o objetivo de encontrar um candidato para chefiar o Executivo. Rajoy parecia ser a primeira opção, após ter vencido as eleições de 20 de dezembro e mostrar-se disposto a assumir um novo mandato.

No entanto, nesta sexta-feira teve que assumir sua falta de aliados, enquanto os partidos de esquerda mostravam em seus encontros com o rei nesta sexta sua disponibilidade para formar um governo de coalizão.

"Não faria sentido que eu continuasse com o meu debate de posse quando outros já estão negociando a distribuição do governo", afirmou Rajoy, líder do conservador Partido Popular (PP).

"Conseguimos que o candidato do PP se retire", comemorou o líder do partido de esquerda radical Podemos, Pablo Iglesias, que horas antes tinha mostrado perante o monarca a predisposição em pactuar um Executivo com o partido socialista PSOE.

Governo da mudançaEste governo seria formado pelo PSOE (89 deputados), o Podemos (65) e o comunista-verde Esquerda Unida (IU, 2 assentos), disse Iglesias, que reivindicou sua vice-presidência.

O líder socialista, Pedro Sánchez, recebeu a proposta com certa contenção, considerando que primeiro é preciso falar de "programa" e "políticas", mas admitiu que têm que tentar costurar acordos.

"Os eleitores do Podemos não entenderiam, e tampouco os eleitores socialistas, que não nos entendamos", disse Sánchez.

O terceiro parceiro deste hipotético governo, o líder da IU, Alberto Garzón, pediu para iniciar um diálogo o quanto antes para que haja "um governo de mudança" como em Portugal e Grécia, "a periferia europeia massacrada pela política de estabilidade da União Europeia e da troika" (UE-FMI-credores) após "quatro anos de brutais cortes na Espanha".

A manobra inesperada de Pablo Iglesias prepara o terreno para um pacto de esquerdas similar ao que governa em Portugal desde novembro. Para facilitar esta aliança, o Podemos deixou de colocar como condição indispensável a realização de um referendo de autodeterminação da Catalunha, rejeitado frontalmente pelo PSOE.

Em troca, Iglesias, de 37 anos, aliado do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, pediu para seu partido "responsabilidades de governo centrais", medidas sociais contra os despejos e para ajudar os desempregados sem benefícios.

Também pediu a este Executivo para agir contra a corrupção, reformar a justiça e o sistema eleitoral e pagar as dívidas, mas paulatinamente: "o déficit deve ser reduzido em um ritmo mais lento".

Parlamento fragmentadoAs eleições legislativas de 20 de dezembro deixaram um Congresso muito fragmentado, fruto do castigo dos eleitores ao governo conservador por sua política de austeridade e aos escândalos de corrupção surgidos nos partidos tradicionais.

O Partido Popular de Rajoy, no poder desde 2011, venceu, mas só obteve 28,7% dos votos e 119 de 350 cadeiras, que dificultam enormemente a formação de um governo. Sua ideia é aliar-se ao PSOE e ao Cidadãos (40 deputados), os únicos que por enquanto lhe garantiram a abstenção.

"Daria uma boa mensagem aos investimentos de fora da Espanha, aos mercados", insistiu nesta sexta-feira.

Os socialistas descartaram desde o princípio um acordo com o PP e se decantam por uma aliança de esquerda que, para seguir adiante, precisaria também da abstenção dos liberais do Cidadãos ou o apoio de nacionalistas bascos e catalães.

"O governo que propõe o senhor Sánchez não é nem moderado, nem centrado", criticou Rajoy, lembrando ao seu rival que seu partido dispõe de maioria absoluta no Senado espanhol para bloquear sua ação de governo.

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