Grandes potências e Irã traçam linhas gerais de histórico acordo nuclear



Lausanne, Suíça, 3 Abr 2015 (AFP) - As grandes potências e o Irã alcançaram nesta quinta-feira, em Lausanne, um compromisso que esboça as grandes linhas de um histórico acordo destinado a impedir que Teerã fabrique a bomba atômica.

Após uma maratona diplomática de mais de 18 meses de negociações entre Genebra, Viena, Nova York e Lausanne, os negociadores conseguiram concordar sobre a maioria dos pontos-chave do texto.

"Hoje, os Estados Unidos, junto a aliados e associados, alcançaram um entendimento histórico com o Irã", afirmou o presidente americano, Barack Obama.

Obama disse acreditar que, após implementado, o acordo "impedirá que esse país obtenha uma arma nuclear".

O presidente americano explicou que a aplicação do acordo final, previsto para antes de 30 de junho, será submetida a verificações sem precedentes. "Se o Irã trapacear, o mundo saberá", acrescentou.

O pré-acordo fechado em Lausanne supõe um ponto de inflexão nas negociações sobre o programa nuclear iraniano, que afeta as relações internacionais há mais de 12 anos.

"Uma solução integral, negociada, a questão nuclear iraniana contribuirá para a paz e para a estabilidade na região do Oriente Médio", disse o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em uma nota.

Como destacaram os países ocidentais, o compromisso obtido nesta quinta-feira não coloca um ponto final na história, já que todos os detalhes técnicos deverão ser acordados antes de três meses.

"A redação [de um acordo final] deve começar imediatamente para ser concluída até 30 de junho", escreveu o presidente iraniano, Hassan Rohani, em sua página no Twitter.

Enquanto isso, centenas de iranianos celebravam nas ruas de Teerã este compromisso. "Seja qual for o resultado das negociações, nós vencemos!", disse feliz o ator Behrang Alavi.



6.000 centrífugasSegundo o acordo-quadro, o Irã aceita reduzir em dois terços o número de suas centrífugas capazes de fabricar urânio suficiente para obter uma bomba atômica.

Assim, Teerã manterá somente 6.000 unidades das 10.000 ativas atualmente (em um total de 19.000). A comunidade internacional exigia a manutenção de poucas centenas de centrífugas.

O Irã também se comprometeu a não enriquecer urânio durante pelo menos 15 anos no complexo nuclear de Fordo, construído no interior de uma montanha e que passará agora a desenvolver um programa com fins médicos.

Em relação ao delicado ponto das sanções, o acordo prevê que as medidas unilaterais dos Estados Unidos e dos países europeus serão suspensas quando o Irã cumprir seus compromissos.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) será a encarregada de validar os pontos do acordo. A violação pode levar à reativação dessas sanções.

As resoluções das Nações Unidas contra o Irã também serão suspensas à medida que Teerã cumprir os pontos-chaves do acordo.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, que supervisionou as negociações de Lausanne, afirmou que o acordo final deverá ser ratificado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Um dos atores da negociação, a Rússia saudou o compromisso em Lausanne e disse que constitui um reconhecimento do "direito incondicional" do Irã de desenvolver um programa nuclear civil.

A França também elogiou o avanço das negociações, mas advertiu que "ainda há muito trabalho por fazer".



Acordo ameaça sobrevivência de IsraelO anúncio do compromisso suscitou a forte reação contrária de Israel.

"Se for aplicado, o acordo de princípios ameaçará a sobrevivência de Israel", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao presidente Barack Obama - informou seu porta-voz nesta sexta-feira (horário local).

"Um acordo ameaçaria a sobrevivência de Israel", escreveu o porta-voz Mark Regev, em sua conta no Twitter.

Uma autoridade do governo, que pediu para não ser identificada, falou pouco depois de "erro histórico".

"Se um acordo (final) for concluído com base no presente acordo-quadro, será um erro histórico que tornará o mundo mais perigoso", acrescentou.

O ministro israelense de Inteligência, Yuval Steinitz disse que, se Israel ficar sem uma via política, seu governo continuará contemplando uma opção militar.

O presidente americano também terá de enfrentar a oposição ao acordo em seu próprio país. A maioria republicana do Congresso já expressou seu ceticismo, nesta quinta à noite.

"Os parâmetros de um acordo final representam um afastamento preocupante em relação aos objetivos iniciais da Casa Branca", declarou o presidente republicano da Câmara dos Representantes, John Boehner, em um comunicado.



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