Papa viaja a Lesbos para falar do drama dos migrantes na Europa

Cidade do Vaticano, 15 Abr 2016 (AFP) - O papa Francisco viaja neste sábado à ilha de Lesbos para manifestar sua solidariedade para com a Europa ante o drama dos milhares de migrantes que o velho continente está expulsando.

"Vou junto a meus irmãos, o patriarca (ortodoxo) de Constantinopla, Bartolomeu, e o arcebispo (ortodoxo) de Atenas e de toda a Grécia, Jerônimo, para manifestar a proximidade e solidariedade, tanto aos refugiados como aos cidadãos de Lesbos e a todo o povo grego por sua generosa hospitalidade", anunciou o pontífice durante sua audiência de quarta-feira na praça de São Pedro.

Lesbos, que passou de ilha paradisíaca a um gigantesco centro de detenção, se transformou devido à chegada em massa da Turquia de migrantes e refugiados procedentes da Síria, Afeganistão, Iraque e Paquistão.

- Maré de migrantes -A ilha de Lesbos vive um êxodo humano de proporções bíblicas, com milhares de migrantes que vivem em acampamentos improvisados à espera de serem expulsos, apesar da dramática travessia vivida para chegar até esse local.

O sumo pontífice argentino, que deseja ser considerado o papa dos pobres e dos sem voz, permanecerá quatro horas em Mitilene, a capital da ilha. Será recebido pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que o acompanhará ao centro de refugiados de Moria, no porto, para uma oração pelas vítimas dos naufrágios.

A visita-relâmpago do papa Francisco, convidado pelo patriarca Bartolomeu e pelo presidente grego, Prokopis Pavlopoulos, acontece em um momento em que a crise migratória abriu fendas na unidade europeia.

O papa argentino, filho de migrantes italianos, é muito sensível ao tema e desde que foi eleito, em 2013, manifestou sua solidariedade para com os migrantes de todo o mundo, como o fez em 2013, na ilha italiana de Lampedusa, e este ano, na Ciudad Juárez, na fronteira entre o México e os Estados Unidos.

A visita a Lesbos acontece uma semana depois do início das expulsões de imigrantes para a Turquia, em virtude do acordo entre a União Europeia e Ancara para frear a crise.

A Igreja católica condenou o acordo entre a UE e a Turquia, e pede que sejam tomadas medidas mais a fundo para frear guerras como as da Síria e, principalmente, o comércio de armas.

Em declarações à Rádio Vaticano, o cardeal de Gana, Peter Turkson, criticou a ajuda financeira que o grupo Estado Islâmico (EI) recebe. "Esse grupo parece poderoso, mas na realidade conta com fundos, tem acesso à dinheiro, armas, etc.", afirmou.

As organizações católicas que trabalham no terreno, como a Cáritas, o Serviço Jesuíta para Refugiados e Mensageiros da Paz, classificaram de "desumano" o acordo migratório entre a UE e a Turquia.

Segundo a organização jesuíta, mais de 150.000 refugiados e migrantes desembarcaram este ano na Grécia, dos quais mais da metade chegaram a Lesbos, entre eles 22.000 menores de idade não acompanhados.

- Divisão - Os frequentes chamados de Francisco para que os católicos da Europa recebam migrantes aborrecem alguns setores católicos.

As comunidades católicas aceitam com bons olhos os refugiados cristãos, principalmente os da Síria, mas temem a afluência de migrantes de religião muçulmana.

Francisco pediu que não se faça diferença entre os migrantes por sua religião ou procedência.

"A Europa sobreviveu a um sem-fim de invasões ao longo de sua história. Mas sempre foi capaz de superar e seguir adiante, enriquecida pelo intercâmbio cultural que trazem consigo", explicou o papa em um recente encontro com cristãos franceses.

O patriarca Bartolomeu também pediu que sejam abertas as portas aos migrantes e que não se diferencie entre os que migram por razões econômicas e os que pedem asilo.

O encontro do patriarca com Francisco e Jerônimo na ilha grega do Egeu oriental "representa uma mensagem forte para todo o mundo", declarou Bartolomeu ao jornal italiano Il Messaggero.

O patriarca recordou a tradição de hospitalidade dos cristãos, mencionando a epístola de São Paulo aos Hebreus: "Não esqueceis a hospitalidade porque, ao praticá-la, alguns sem sabê-lo, acolheram anjos".

O patriarca assegurou que compartilha da posição do papa Francisco, de não distinguir entre os migrantes econômicos que fogem da miséria e os que abandonam seu país fugindo da guerra.

"A economia globalizada cria uma série de crises de identidade no mundo contemporâneo, fome e miséria em inúmeras regiões de nosso planeta, e isso é uma ofensa a Deus", acrescentou.

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