Presidente da Ucrânia nomeia ex-presidente da Geórgia como governador de Odessa

Odesa, Ucrânia, 30 Mai 2015 (AFP) - Mikhail Saakashvili, ex-presidente georgiano decididamente pró-ocidental e inimigo declarado de Vladimir Putin, foi nomeado neste sábado governador da região estratégica ucraniana de Odessa pelo presidente Petro Poroshenko, com o objetivo de preservar a soberania e lutar contra a corrupção.

Em Odessa, cidade de um milhão de habitantes às margens do mar Negro, o presidente Petro Poroshenko apresentou Saakashvili, a quem havia concedido um dia antes a nacionalidade ucraniana, como "um grande amigo da Ucrânia".

A nomeação foi feita com vários objetivos: "Há um grande número de problemas em Odessa: preservar a soberania, a integridade territorial, a independência e a tranquilidade", destacou Poroshenko.

"Outra guerra talvez ainda mais importante é a travada contra a corrupção", acrescentou.

Principal porto ucraniano próximo à Transnístria, região secessionista da Moldávia onde há destacamentos russos, é um dos objetivos territoriais do presidente russo Vladimir Putin, que já a citou há um ano como parte de seu projeto de Novorossiya (Nova Rússia).

É uma cidade russófona, mas até agora conseguiu resistir aos impulsos separatistas que levaram à ruptura no leste da Ucrânia e à guerra civil, que deixou desde abril de 2014 6.300 mortos. Mas a situação continua sendo muito tensa. No último mês ocorreram várias explosões misteriosas contra organizações pró-ucranianas.

No dia 2 de maio de 2014, Odessa foi palco de uma tragédia que custou a vida de 48 pessoas, principalmente pró-russos, que morreram em um incêndio depois de terem atacado e matado dezenas de partidários da unidade nacional.

"Nosso objetivo é superar os conflitos impostos artificialmente à Ucrânia", declarou Saakashvili em uma clara alusão à Rússia, acusada por Kiev e pelos ocidentais de apoiar militarmente a rebelião separatista no leste, embora Moscou desminta estas alegações.



- Inimigo jurado de Putin -

Antes de ser anunciada oficialmente, a nomeação de Saakashvili foi denunciada duramente por Moscou.

"Saakashvili, acusado de crimes contra o povo georgiano, é nomeado governador de Odessa, onde os neonazistas queimaram pessoas com impunidade total: é um símbolo profundo da democracia ao estilo de Kiev observada com satisfação pelo Ocidente", advertiu em sua conta no Twitter o delegado para os direitos humanos da chancelaria russa, Konstantin Dolgov.

Mikhail Saakashvili, presidente da Geórgia entre 2004 e 2013, chegou ao poder após a chamada "Revolução Rosa", primeira de uma série de levantes populares em ex-repúblicas soviéticas em reação à influência atual do Kremlin.

Sempre foi próximo das autoridades pró-europeias da Ucrânia. Durante a "Revolução Laranja" de 2004 e também durante o movimento de contestação de 2013-2014 discursou às massas na praça Maidan de Kiev, onde a revolta contra o anterior regime pró-russo foi arquitetada.

Jurista carismático formado nos Estados Unidos e na França e que fala cinco idiomas - entre eles o ucraniano - voltou seus esforços para a luta contra a corrupção.

O balanço de seu mandato na Geórgia é moderado. Seus opositores denunciaram seu autoritarismo e está sob ordem de busca e captura, acusado de "abuso de poder", razão pela qual viajou aos Estados Unidos, onde viveu até seu retorno para se instalar na Ucrânia.

Em 2008 seu país perdeu para a Rússia em uma guerra relâmpago o controle do território separatista pró-russo da Ossétia do Sul, cuja "independência" foi imediatamente reconhecida por Moscou.

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