Pesquisadores questionam se vitória de Napoleão em Waterloo mudaria a História

Bruxelas, 16 Jun 2015 (AFP) - Napoleão foi derrotado em Waterloo em 18 de junho de 1815, e perdeu definitivamente o poder, mas muitos questionam se, caso tivesse vencido, ele teria construído o império que sonhava, de Finisterre até a China, ou se a Segunda Guerra Mundial teria acontecido.

Essas perguntas fascinam há anos os escritores, e também os historiadores mais rigorosos.

Para começar, se tivesse vencido os ingleses de Wellington e os prussianos de Blücher na batalha de Waterloo, no sul de Bruxelas, o imperador teria retomado seu caminho para o norte da Alemanha, considera o historiador Helmut Stubbe da Luz, consultado pela AFP.

"Bremen, Hamburgo e Lübeck teriam se convertido em francesas de novo", sustenta este especialista de Hamburgo, a grande cidade portuária alemã incorporada ao império francês no final de 1810.

Ainda que esse cenário deva ser tomado com reservas, reconhece Da Luz, já que, inclusive se Napoleão tivesse derrotado a coalizão em 18 de junho, as monarquias europeias não teriam se dado por vencidas e teriam continuado lutando.

Waterloo "foi uma vitória total para os Aliados, mas (se o resultado tivesse sido o contrário) não seria uma vitória total para Napoleão", explica o historiador belga Philippe Raxhon, especialista nessa histórica batalha.

Supondo que Bonaparte tivesse vencido seus inimigos diretos, "de terem realizado seus projetos originais de 1810, então tivesse invadido de novo a Rússia e extendido seu império, potencialmente, até as fronteiras da China", considera Stubbe da Luz.

No século XIX, o escritor francês Louis Geoffroy imaginou um cenário ainda mais atrevido. Em seu livro "Napoleão e a conquista do mundo, 1812-1832", escrito em 1836, descreve como Bonaparte consegue submeter a China, convertida em uma simples "província da Ásia".

Nesta ucronia -gênero literário que imagina o que aconteceria se um evento histórico não tivesse acontecido- Geoffroy volta três anos antes de Waterloo.

"Escrevi a história de Napoleão desde 1812 até 1832, desde Moscou em chamas até sua monarquia universal e sua morte. Vinte anos de uma grandeza que crescia incessantemente e que o elevou a uma onipotência acima da qual não há nada mais que Deus", escreveu como introdução o autor, cujo nome real era Louis-Napoléon Geoffroy-Château.

Grandeza? Para Stubbe da Luz, no final das contas, "Napoleão era um ditador".

"Mas não um ditador reacionário como o Czar da Rússia", diz. Para o historiador, um reino napoleônico na Europa continental, equilibrado pela supremacía marítima inglesa, não significaria inevitavelmente um retrocesso para a Humanidade.



Alemanha menos forte

"A ditadura de desenvolvimento que Napoleão exportou para os países sob sua dominação supôs uma regressão em comparação com o progresso da Revolução Francesa", mas não foi má para as sociedades da Alemanha, Holanda, Itália e Espanha, opina. Ali introduziu "a igualdade de direitos para as minorias religiosas e a população rural, o direito de voto para os homens, um sistema jurídico sem comparação ou um espaço econômico extendido", enumera o especialista.

Com prudência, Stubbe da Luz imagina uma Europa continental dominada pela França durante todo o século XIX. Nesse caso, a Alemanha não teria se feito tão forte, e portanto "provavelmente não teria disposição de provocar a Primeira Guerra Mundial".

Imaginar uma história paralela é um exercício de voo alto para os historiadores. "As causas dos acontecimentos são inumeráveis", lembra Philippe Raxhon, da Universidade de Liège.

Os escritores romancistas, por outro lado, não têm pudores em se deixar levar por sua imaginação.

Em seu 'best seller' "Fatherland", publicado em 1992, o britânico Robert Harris imagina uma Alemanha se preparando para a visita, em 1964, de Joseph P. Kennedy" (o pai de "JFK") a Adolf Hitler, vencedor da Segunda Guerra Mundial. Uma guerra que, segundo outros cenários, não teria acontecido se Napoleão tivesse vencido em Waterloo.

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