Obama recebe o número 1 do Partido Comunista vietnamita

Washington, 7 Jul 2015 (AFP) - O presidente Barack Obama recebeu nesta terça-feira (7) o líder do Partido Comunista Vietnamita na Casa Branca para um raro encontro no Salão Oval, duas décadas após os dois ex-inimigos normalizarem relações.

O encontro entre Nguyen Phi Trong - o primeiro secretário-geral do Partido Comunista Vietnamita a visitar os Estados Unidos e a Casa Branca - ocorre num momento em que Washington deseja reforçar seus laços militares, de comércio e políticos com Hanói.

Os esforços americanos para desenvolver um relacionamento mais próximo com seu ex-inimigo da Guerra Fria foi estimulado por um desejo de limitar a influência regional da China.

Algumas centenas de manifestantes se reuniram em frente à Casa Branca durante a chegada de Trong, pedindo o respeito aos direitos humanos no Vietnã - uma questão que gerou preocupação entre alguns legisladores americanos quanto ao profundamento dos laços.

Muitos manifestantes carregaram cartazes com slogans como "Liberdade de expressão no Vietnã agora" e pediram que Hanói liberte presos políticos.

Antes do encontro, um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado classificou a visita como "orientada para o futuro" e ressaltou que as autoridades americanas esperavam uma "conversa substancial" sobre uma série de questões, incluindo as tensões no Mar da China Meridional e preocupações envolvendo direitos humanos.

Mensagem errada"Há um bom impulso nesse relacionamento agora. Encaramos esta visita como uma oportunidade para continuar construindo sobre esta dinâmica positiva", disse o funcionário.

A visita é incomum pelo fato de Trong não manter nenhuma posição formal no governo e, ainda assim, ser recebido no Salão Oval, da mesma maneira que um chefe de Estado.

"Ele é a pessoa sênior na liderança vietnamita, e havia amplo consenso de que fazia sentido tratar a visita como uma visita do líder máximo do país", explicou o funcionário do departamento de Estado.

"Não é uma reunião típica para o presidente, com certeza", ressaltou.

O encontro - que ocorre logo após o 40º aniversário do fim da Guerra do Vietnã e 20 anos depois da normalização das relações, levada adiante sob o governo do ex-presidente Bill Clinton - provocou críticas.

Em uma carta aberta ao presidente, nove membros do Congresso - tanto do Partido Democrata quanto do Republicano - se queixam de que o convite a Trong envia a mensagem errada devido ao histórico de direitos humanos no Vietnã.

"Este sistema autoritário de partido único é a causa da situação deplorável dos direitos humanos no Vietnã", disse a carta, pedindo que Obama exija a libertação dos presos políticos no Vietnã.

John Sifton, especialista em Ásia para a Human Rights Watch, disse não ocorreram muitas mudanças no Vietnã para justificar uma reunião no Salão Oval.

"O Vietnã continua sendo um Estado completamente autocrático e antidemocrático governado por um partido único, liderado por Trong, no qual a repressão, a tortura e a perseguição religiosa são a norma", disse Sifton à AFP.

"O presidente Obama não deve se reunir com o secretário-geral Trong", acrescentou.

"Mas se ele precisar (se encontrar), ele deve subir o tom sobre as questões de direitos humanos - especialmente se os dois países estiverem planejando anunciar um novo nível em suas relações diplomáticas", completou.

Avanços conquistadosSegundo o comunicado da Casa Branca ao anunciar o encontro, o presidente americano pretendia aproveitar a reunião com Trong para destacar os avanços realizados nos últimos 20 anos.

Segundo o comunicado, esta visita sem precedentes de um chefe do PCV permitiria abordar as negociações em curso sobre um amplo acordo de livre comércio Ásia-Pacífico, a questão dos direitos humanos e a cooperação em termos de defesa.

"Não é um encontro clássico para o presidente", admitiu um alto funcionário americano, assinalando que o líder do Partido Comunista vietnamita é o verdadeiro homem forte de seu país.

A chegada do líder vietnamita ocorreu no âmbito da normalização das relações entre os dois antigos inimigos e com perspectivas favoráveis, já que a administração Obama elegeu o continente asiático como destaque em sua política externa e pretende reforçar laços com estas nações.

O Vietnã, por sua vez, quer desenvolver a cooperação militar com os Estados Unidos, num momento em que os países da região acusam a China de mostrar cada vez mais agressividade na gestão da disputa territorial no Mar da China meridional.

A questão do embargo de armas também estava na agenda. Em outubro, Washington anunciou o levantamento parcial da medida, autorizando a venda ao Vietnã de equipamentos de defesa de segurança marítima, como barcos de patrulha armados. Qualquer outra entrega de armas ao regime comunista permanece proibida.

Se a Casa Branca reconhecer que foram alcançados alguns avanços - em especial uma redução do número de presos políticos - garante que o tema não será ignorado: "Esta é uma preocupação (...) que transmitimos a eles constantemente", disse um funcionário consultado.

Em uma reunião no verão de 2013 na Casa Branca com o presidente vietnamita, Truong Tan Sang, Obama insistiu no respeito das liberdades de expressão, de culto e de reunião.

"Temos em mente a história muito complexa compartilhada por Estados Unidos e Vietnã, mas pouco a pouco fomos capazes de estabelecer um repeito mútuo e a confiança", explicou na época.

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