Turquia volta a atacar posições do PKK no norte do Iraque

Istambul, 26 Jul 2015 (AFP) - A Turquia voltou a atacar neste domingo posições do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no norte do Iraque, um dia após seus bombardeios contra os rebeldes curdos provocarem o fim da trégua em vigor desde 2013.

Por volta das 20H00 local (14H00 de Brasília), vários aviões F-16 decolaram da base de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, em direção às montanhas Kandil, onde estão as bases de retaguarda do movimento rebelde, informou a CNN e a NTV.

Um dia antes, dois soldados turcos morreram em um atentado com carro-bomba no distrito de Lice, perto da grande cidade de maioria curda de Diyarbakir (sudeste), após a chegada de um comboio de gendarmes que haviam sido chamados ao local pelo incêndio de um veículo.

O ataque não foi reivindicado até o momento, mas leva o selo do PKK, em rebelião desde 1984 contra as forças de segurança turcas.

Horas antes, o movimento curdo havia ameaçado romper o cessar-fogo proclamado unilateralmente em 2013 devido aos bombardeios turcos contra suas bases no norte do Iraque.

Esta brusca escalada da tensão entre o governo islamita-conservador turco e os rebeldes curdos da Turquia coincide com a decisão de Ancara de atacar os jihadistas do Estado Islâmico (EI), atingindo suas posições em território sírio.

Desde a noite de sexta-feira, caça-bombardeiros F-16 turcos realizam diversos ataques contra instalações, campos, hangares e depósitos de munições do PKK nas montanhas Kandil, no extremo norte do território iraquiano.

As operações deixaram um morto e três feridos nas fileiras do PKK, segundo a organização.

"Foram rompidas as condições de manutenção do cessar-fogo", proclamaram as Forças de Defesa do Povo (HPG), a ala militar do PKK, em seu site. "Diante destas agressões, temos o direito de nos defendermos".

TensõesOs embaixadores dos 28 países da Otan se reunirão na terça-feira, a pedido da Turquia, para analisar a situação diante do agravamento da tensão entre Ancara, os rebeldes curdos e os jihadistas do Estado Islâmico, informou a Aliança neste domingo.

A Turquia "pediu a reunião diante do agravamento da situação após os cruéis ataques terroristas dos últimos dias, e também para informar aos seus aliados sobre as medidas que está tomando".

"Os aliados da Otan acompanham de muito perto a situação e estão solidários com a Turquia", destacou o comunicado.

Ancara recorreu ao artigo 4º do tratado do pacto, que permite a um membro da Aliança convocar o grupo diante de "uma ameaça a sua integridade territorial, independência política ou segurança", acrescenta a nota.

O governo turco do presidente Recep Tayyip Erdogan iniciou em 2012 negociações de paz com o chefe do PKK detido, Abdullah Ocalan, para tentar colocar fim a uma insurgência que deixou 40.000 mortos desde 1984. Mas as negociações não levaram a nenhum acordo.

"Sob o pretexto de uma ofensiva contra o grupo Estado Islâmico, o governo declarou guerra a todas as organizações terroristas", disse o professor David Romano, da Universidade do Estado do Missouri (Estados Unidos), à AFP. "Acredito que quer atacar mais o PKK que o EI".

A Casa Branca, que acaba de fechar um acordo com Ancara para utilizar a base turca de Incirlik (sul) em sua campanha antijihadista na Síria e no Iraque, defendeu o direito dos turcos de "realizar ações contra alvos terroristas", segundo seu conselheiro adjunto de segurança nacional, Ben Rhodes.

Ancara ordenou os bombardeios após uma série de ataques na última semana contra suas forças de segurança atribuídas a militantes próximos ao PKK.

O movimento separatista reivindicou na quarta-feira o assassinato de dois policiais em Ceylanpinar (sudeste), na fronteira com a Síria. Disse ter agido em resposta ao atentado suicida de Suruc (sul) atribuído ao EI, que na segunda-feira deixou 32 mortos e uma centena de feridos entre militantes da causa curda.

A comunidade curda da Turquia acusa o governo de apoiar os jihadistas, coisa que Ancara nega.

O principal partido curdo na Turquia denunciou a estratégia de Erdogan de atiçar tensões. "Seu objetivo é que o país arda para obter plenos poderes", criticou o Partido Democrático dos Povos (HDP).

Em muitas cidades da Turquia, a tensão é palpável há uma semana. Quase todas as manifestações contra Erdogan são reprimidas pela polícia.

Neste domingo, um policial morreu durante confrontos com manifestantes de extrema esquerda no bairro de Gazi, em Istambul, informou a agência pró-governamental Anatolia.

O policial, gravemente ferido por um tiro quando realizava prisões neste bairro, morreu no hospital.

E na noite de sábado um homem foi abatido durante confrontos entre a polícia e manifestantes pró-curdos em Cizre (sudeste), informaram fontes médicas.

Com o objetivo de acalmar os ânimos, o principal partido curdo cancelou a "grande marcha pela paz" antijihadista prevista para este domingo em Istambul e proibida pelo governador.

Desde sexta-feira, as autoridades turcas realizam uma operação sem precedentes contra supostos militantes do EI, do PKK e da extrema esquerda. Segundo dados oficiais, 590 pessoas foram detidas em todo o país.

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