Milhares de migrantes chegam à Croácia; UE se reúne na próxima quarta

Tovarnik, Croácia, 18 Set 2015 (AFP) - Os líderes europeus se reunirão na próxima semana, em Bruxelas, para tentar superar as divisões a respeito da crise dos imigrantes, que se aglomeram aos milhares na Croácia depois de terem ficado bloqueados na fronteira entre Sérvia e Hungria.

Esta cúpula da União Europeia (UE) acontece na quarta-feira, 23 de setembro, um dia após a reunião dos ministros do Interior sobre o mesmo tema, anunciou nesta quinta-feira o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

O presidente francês, François Hollande, advertiu hoje contra os "perigos" para o espaço Schengen, se não houver um acordo sobre a acolhida dos refugiados.

Hollande defendeu que durante a Cúpula os países membros adotem a decisão de "trabalhar com a Turquia" com o objetivo de permitir que "quem está neste país possa ficar, trabalhar e ter todos os meios para poder esperar que a situação na Síria encontre uma saída".

A chanceler alemã, Angela Merkel, e seu colega austríaco, Werner Faymann, pediram a organização rápida desta cúpula para entrar em acordo sobre uma divisão obrigatória entre os países da UE de 120.000 refugiados, na maior crise migratória no continente desde 1945.

Reunidos hoje em caráter de urgência, os eurodeputados votaram a favor desta proposta. A principal dificuldade será convencer os países do Leste Europeu, contrários ao acolhimento em massa de refugiados.

Como reação, cerca de 100 políticos e intelectuais da Europa Central assinaram uma carta aberta para estimular "as autoridades e cidadãos" de seus países a prestar solidariedade aos imigrantes.

O Ministério croata do Interior anunciou, nesta quinta, que o país fechou, "até nova ordem", sete de suas oito passagens fronteiriças com a Sérvia depois da entrada em massa de imigrantes do Oriente Médio através do país vizinho.

"O trânsito está proibido nos postos fronteiriços de Tovarnik, Ilok, Ilok 2, Principovac, Principovac 2, Batina e Erdut", detalhou o Ministério em uma nota, acrescentando que mais de 11.000 imigrantes cruzaram a fronteira servo-croata desde a manhã de quarta-feira.

A pequena estação ferroviária de Tovarnik, uma localidade croata próxima à fronteira sérvia, estava tomada por migrantes que tentavam embarcar em trens com destino à capital, Zagreb. De lá, esperam seguir viagem para o oeste do continente.

"Há entre 4.000 e 5.000 pessoas tentando embarcar nos trens. Os trens estão chegando, mas não podem transportar tantas pessoas", disse o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados no Brasil (Acnur), Jan Kapic.

Em Genebra, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos considerou a atitude da Hungria xenófoba e chocante e criticou a hostilidade com os muçulmanos.

"Estou assustado com estes atos sem coração, em alguns casos ilegais, das autoridades húngaras (...) Alguns são violações flagrantes das leis internacionais", declarou Zeid Ra'ad al Hussein em um comunicado.

Fora de controleDiante desta afluência, "as coisas estão prestes a ficar fora de controle", afirmou a presidente croata, Kolinda Grabar-Kitarovic. "A Croácia demonstrou humanitarismo, mas muitos refugiados entram (no país) sem controle", disse.

Alguns voluntários da Cruz Vermelha começaram a distribuir alimentos, com prioridade para bebês e crianças.

"A situação aqui é difícil. São tantas pessoas. Não sabemos o que está acontecendo", disse o sírio Hasan Shekh-Hasan, de 25 anos, estudante de Direito.

No total, 5.650 migrantes chegaram à Croácia nas últimas 24 horas, segundo o Ministério do Interior, e serão transportados em trens e ônibus para centros de registro.

A ministra croata da Saúde, Sinisa Varga, afirmou hoje que as autoridades calculam a chegada de mais de 20.000 migrantes nas próximas duas semanas.

No entanto, o primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic, advertiu que o país tem capacidades limitadas para receber e registrar os migrantes que transitam por seu território.

Calma na fronteira Sérvia-HungriaNa manhã desta quinta-feira, quase 400 migrantes permaneciam na fronteira servo-húngara. A situação estava calma, após os distúrbios de quarta-feira, que deixaram 14 policiais feridos, segundo as autoridades. O número de migrantes feridos não foi divulgado.

Diante da intransigência da Hungria, os migrantes se viram obrigados a seguir para a Croácia.

A polícia húngara utilizou jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo na quarta-feira contra os migrantes bloqueados na Sérvia, que atiraram pedras contra as forças de segurança. Os migrantes conseguiram arrancar parte do alambrado que fechava a passagem fronteiriça de Röszke.

Em Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou "inaceitável" o tratamento da polícia húngara aos migrantes.

O ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, classificou as declarações de Ban como "estranhas e chocantes" e explicou que a polícia apenas se defendeu de migrantes agressivos.

Situação complicadaO primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, declarou em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro que também planeja construir uma cerca na fronteira com a Croácia para, segundo ele, "acabar com o negócio dos traficantes de pessoas".

A UE "nasceu para derrubar muros, não para construí-los", reagiu o presidente do Conselho italiano, Matteo Renzi.

As medidas adotadas pela Hungria foram radicais. A Polícia informou que apenas 277 migrantes entraram ilegalmente na Hungria na quarta-feira. De acordo com a nova legislação, todos foram detidos e podem ser condenados a penas de até cinco anos de prisão.

Ao mesmo tempo, na Turquia, centenas de sírios buscam uma porta de entrada terrestre para a Grécia. No decorrer do ano, 500.000 migrantes chegaram à União Europeia após longas e perigosas viagens por terra e mar.

A Bulgária reagiu nesta quinta-feira com o envio de mil soldados para a fronteira com a Turquia, ante uma situação que chamou de complicada, provocada pela crise migratória.

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