Justiça israelense condena pregador islâmico, em dia de novos ataques

Jerusalém, 27 Out 2015 (AFP) - A Justiça israelense condenou a 11 meses de prisão, nesta terça-feira, o líder de uma organização islâmica, acusada pelo governo de ter um papel-chave nos protestos nos arredores da Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.

O xeque Raed Salah, chefe do "Movimento Islâmico - braço norte", foi condenado por incitação ao ódio, por um discurso feito em 2007. Nele, Salah convoca "todos os muçulmanos e árabes a ajudarem os palestinos e a lançarem uma Intifada islâmica" para defender Jerusalém e a mesquita Al-Aqsa. Esse movimento é ligado à Irmandade Muçulmana.

O tribunal endureceu essa condenação depois que o xeque recorreu da sentença anterior, pronunciada em março de 2014. Além dos 11 meses de prisão, a Justiça sentenciou Salah a oito meses de prisão sob sursis. O advogado do líder islâmico disse que recorrerá da pena.

Também nesta terça, dois palestinos esfaquearam e feriram seriamente um soldado israelense na Cisjordânia ocupada antes de serem baleados e mortos por outros soldados, anunciou um comunicado do Exército.

O soldado atacado sofreu "ferimentos moderados" perto do Gush Etzion, um grupo de assentamentos israelenses entre Belém e Hebron. "Os militares responderam ao ataque abrindo fogo" contra os agressores, segundo o Exército.

Posteriormente, um porta-voz militar confirmou à AFP que os dois palestinos foram mortos.

Já uma fonte do Hospital Shaare Zedek de Jerusalém informou que o soldado ferido está em condições estáveis, apesar de "ter recebido golpes profundos no rosto".

Em outro incidente em Hebron, um palestino foi morto a tiros quando tentou esfaquear um soldado israelense, que saiu ileso do ataque.

"Um suspeito palestino se aproximou de um ponto de passagem e quando dois soldados verificavam seus documentos ele sacou uma faca e tentou apunhalar um dos militares. Os soldados reagiram disparando contra o agressor, que morreu, informou o Exército.

A parte sul da cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, tem sido palco nos últimos dias de uma série de ataques com faca contra israelenses, especialmente membros das forças de segurança, por parte de palestinos.

Vários dos agressores foram mortos a tiros.

No total, 59 palestinos, um árabe israelense, um eritreu e nove israelenses morreram desde 1º de outubro em episódios de violência, incluindo esfaqueamentos, tiroteios e protestos.

Esses ataques com faca e suas consequências provocaram temores de que a espiral de violência desencadeie uma terceira intifada.

A ONG de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) acusou Israel "de assassinato ilegal de palestinos e uso intencional da força sem justificativa" em Jerusalém oriental, afirmando que "em quatro casos foram mortos palestinos pelas forças israelenses sem que significassem um perigo", ao que denomina "execuções extrajudiciais".

O sistema judicial israelense já recebeu queixas pelo uso excessivo da força. O procurador-geral, Yehuda Weinstein, afirmou na segunda-feira que "o uso de armas de fogo para prevenir um risco imediato para vidas humanas é apenas admissível quando o mesmo é real ou para a segurança policial ou outras, quando já não se possa contar com outros meios".

Premiê sobe tom com ministrosNesse clima, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, advertiu seu gabinete nesta terça, após declarações polêmicas sobre a presença israelense na Esplanada das Mesquitas, uma fonte de tensão com os palestinos e que provocou a recente onda de violência.

Em meio aos esforços diplomáticos, a subsecretária do Ministério das Relações Exteriores, Tzipi Hotovely, provocou o temor dos palestinos ao afirmar que sonha "ver a bandeira israelense tremulando no Monte do Templo", o nome que os judeus atribuem à Esplanada das Mesquitas.

A Esplanada também é considerada sagrada pelos judeus.

"Deveríamos hastear a bandeira. Esta é a capital israelense, e é o local sagrado para os judeus", disse ela, em uma entrevista.

O gabinete de Netanyahu reagiu rapidamente e reiterou a manutenção do "status quo" de 1967, que estipula que os muçulmanos podem rezar no local, e os judeus podem apenas visitar, sem orações.

A política reafirmada no sábado não mudou, e o primeiro-ministro "explicou claramente que espera que todos os membros do governo atuem da maneira correspondente", exorta um comunicado oficial.

Os palestinos acusam Israel de avançar para chegar ao ponto em que os judeus tenham a possibilidade de rezar no local, que fica na Cidade Antiga de Jerusalém, nas ruínas do antigo templo hebraico.

O aumento da presença dos judeus no local, o fato de alguns visitantes rezarem de maneira clandestina, apesar das proibições, e as declarações incendiárias dos políticos provocaram o aumento da tensão.

Os distúrbios na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental, área anexada por Israel em 1967, deflagraram uma espiral de violência, com ataques a facas que mataram nove israelenses em outubro.

Nesta terça-feira, um israelense de 76 anos que recebeu um tiro na cabeça e foi esfaqueado no peito em 13 de outubro morreu em consequência dos ferimentos.

Jovens sem perspectivasO receio do início de uma nova intifada provocou intensos esforços diplomáticos.

Na segunda-feira, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, reuniu-se com a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, para tentar encontrar uma solução à crise. Abbas reiterou suas críticas sobre a falta de respeito de Israel às regras da Esplanada, onde fica a mesquita de Al-Aqsa.

Netanyahu prometeu manter o "status quo" e acusou Abbas de incitar a violência com suas declarações.

Muitos jovens que participam dos incidentes nasceram sob a ocupação israelense e não têm perspectivas de futuro, em um momento no qual o processo de paz perde força, assim como a perspectiva do sonho de um Estado palestino.

A maratona diplomática iniciada na semana passada pelo secretário de Estado americano, John Kerry, obteve um acordo para a instalação de câmeras de segurança na Esplanada. Segundo Netanahyu, o sistema servirá para refutar as acusações de que Israel está violando o "status quo" e para mostrar a origem das provocações.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) criticou a iniciativa, porém, ao advertir que permitirá a Israel exercer ainda mais controle sobre o local, com a possibilidade de usar as câmeras "contra os palestinos".

A aplicação do plano também gerou problemas, depois que a equipe jordaniana responsável por instalar as câmeras acusou a polícia israelense de impedir o trabalho.

Amã tem a custódia dos locais sagrados, anexados ao restante de Jerusalém Oriental, mas Israel tem o controle sobre o acesso.

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