As duas visões da Argentina dos candidatos Macri e Scioli

Em Buenos Aires

  • David Fernández/EFE

    Candidatos argentinos cumprimentam as mulheres de seus adversários no último debate antes do segundo turno da eleição presidencial

    Candidatos argentinos cumprimentam as mulheres de seus adversários no último debate antes do segundo turno da eleição presidencial

Os dois têm origens familiares semelhantes, são da mesma geração e alegam ser bons amigos, mas Daniel Scioli, 58, e Mauricio Macri, 56, defendem modelos de país diferentes em temas fundamentais para a sociedade argentina.

Scioli se apresenta como a continuidade a 12 anos de gestão "kirchnerista", mas com um estilo diferente da confrontação permanente adotado pela presidente Cristina Kirchner. O candidato afirma que corrigirá o rumo do atual governo, mas sem cair nas políticas liberais, que representam uma "volta ao passado".

Macri se apresenta como a "verdadeira mudança", mas baseou sua campanha eleitoral em discutir questões formais. Promete dialogar e propõe união, mas evita definições políticas. As promessas de campanha diferem de suas posturas prévias e dos projetos revelados por seus colaboradores.

  • Disputa cambial

Scioli: Propõe a liberação progressiva da banda cambial, a medida que se recupere o nível das reservas do Banco Central, atualmente em cerca de 26 bilhões de dólares, com a repatriação de capitais, financiamento externo e liquidação de dólares do setor agrário. Defende ainda um dólar a 10 pesos (atualmente a 9,65 no câmbio oficial) e afirma que não haverá uma desvalorização brusca. Quer reduzir a inflação anual a um dígito em 4 anos e rejeita um novo endividamento com o Fundo Monetário Internacional ou "se ajoelhar diante dos fundos abutres", mas considera imprescindível resolver a questão da dívida. Promete desenvolvimento e proteção da indústria argentina e das pequenas empresas, além de impulsionar o mercado interno.

Macri: Eliminará a banda cambial assim que assumir. Propõe abrir a economia. Nega uma 'mega-desvalorização' e diz que o atual governo "já desvalorizou de 3 para 15 pesos", atual preço do dólar no mercado paralelo. Considera que o preço do dólar deve ser fixado "pelo mercado". Afirma que vai liberar as importações e eliminar as retenções sobre as exportações agrícolas, exceto a soja. Promete chegar à "pobreza zero" com crescimento e obras de infraestrutura. Pagará os fundos especulativos para voltar aos mercados financeiros.

  • Subsídios x déficit fiscal

Scioli: Conservará os programas sociais e os subsídios. Defende a estatização de empresas e o sistema estatal de aposentadorias. Promete reconhecer um sistema de reajuste automático do piso das aposentadorias.

Macri: Durante a campanha prometeu ampliar os auxílios às famílias e manter os programas sociais. Defende as empresas estatizadas (YPF e Aerolíneas Argentinas) mas votou contra a estatização. Reduzirá o gasto público e eliminará subsídios aos serviços de luz, água e gás.

  • Relação regional

Scioli: Fortalecer e ampliar o Mercosul, consolidar a Unasul e dar maior dinamismo à Celac. Já se reuniu e tem o apoio dos líderes regionais: Dilma Rousseff, Tabaré Vázquez (Uruguai), Evo Morales (Bolívia), Michelle Bachelet (Chile), Raúl Castro (Cuba), Rafael Correa (Equador) e Luiz Inácio Lula da Silva.

Macri: Promete uma virada na política externa. Buscará retomar as relações com os Estados Unidos e a Europa como prioritárias. Revisará a aproximação com China e Rússia, países que Kirchner converteu em sócios estratégicos. Quer "descongelar" as relações com Grã-Bretanha, abaladas pelo conflito envolvendo as Ilhas Malvinas. Defende o "abandono do eixo bolivariano" e o pedido para que o Mercosul execute a "cláusula democrática" para suspender a Venezuela.

  • Trabalhadores

Scioli: Promete continuar com os acordos paritários (ajuste salarial por negociações coletivas com o aval do governo) e em elevar a 30 mil pesos líquidos (3 mil) a faixa mínima para a cobrança do imposto de renda.

Macri: defende a eliminação dos acordos paritários e a remuneração da produtividade com base nos empregadores. Promete devolver o imposto de renda pago pelos trabalhadores.

  • Direitos Humanos

Scioli: Apoia o prosseguimento dos julgamentos contra os que violaram os direitos humanos na ditadura, em favor da memória, justiça e verdade.

Macri: Uma vez defendeu "deixar de olhar para trás e acabar com a questão dos direitos humanos", mas na campanha negou terminar com os julgamentos.

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