Tensão em Chicago após vídeo que mostra policial matando jovem negro

O chefe da polícia e o prefeito de Chicago lançaram na terça-feira à noite um pedido solene de calma, pouco antes de tornar público um vídeo chocante em que um policial branco mata com 16 tiros um adolescente negro.

Este vídeo pode exacerbar as tensões raciais na terceira maior cidade dos Estados Unidos, depois de vários casos de abuso policial que provocaram nos últimos 18 meses tensões em outras cidades do país.

Dezenas de pessoas manifestaram nas ruas da cidade, enquanto a polícia anunciou a prisão de três pessoas na madrugada desta quarta-feira.

As imagens registradas por uma câmera no painel de uma viatura da polícia revelam as condições da morte brutal no ano passado de Laquan McDonald, de apenas 17 anos.

Andando no meio da calçada, segurando na mão um objeto - uma faca segundo as autoridades -, o jovem parece não obedecer os policiais que querem controlá-lo, sem, contudo, fazer qualquer gesto ameaçador contra eles.

Enquanto o adolescente se afasta em direção à beirada da rua, o agente Van Dyke abre fogo, atingindo Laquan McDonald em cheio. Enquanto ele está no chão, o policial continua a disparar friamente.

Após a divulgação do vídeo, que logo tornou-se viral na internet, Chicago entrou em alerta.

Centenas de pessoas começaram na terça-feira à noite a se reunir em várias artérias da metrópole, bloqueando o tráfego, segundo a imprensa americana. Algumas brigas foram registradas entre os manifestantes e a polícia.

"As pessoas têm o direito de estar com raiva, as pessoas têm o direito de manifestar, as pessoas têm o direito de se expressar, mas não têm o direito de cometer crimes", avisou Garry McCarthy, o chefe da polícia de Chicago.

"Não toleraremos qualquer comportamento criminoso", acrescentou.

De acordo com o Chicago Tribune, as autoridades mobilizaram quase todos os policiais disponíveis.

"Este momento pode ser uma oportunidade de construir pontes para melhor nos entendermos, ao invés de erguer barreiras de incompreensão", declarou por sua vez Rahm Emanuel, o prefeito de Chicago.

A coletiva de imprensa conjunta, transmitida ao vivo, ocorreu poucas horas depois de Jason Van Dyke, de 37 anos, ser acusado de "assassinato premeditado".

Tal acusação de um oficial da polícia é extremamente rara nos Estados Unidos e inédita em Chicago.

Vídeo chocanteO assassinato de Laquan McDonald aconteceu em outubro de 2014, mas a polêmica aumentou nos últimos dias devido à mobilização dos moradores de Chicago que exigiam que o vídeo fosse revelado. Um juiz finalmente concordou com o pedido.

A procuradora do condado de Cook, Anita Alvarez, se viu, de repente, pressionada a acusar Van Dyke.

Este vídeo "é violento e chocante", comentou na terça-feira a procuradora.

Parentes de Laquan McDonald e organizações de defesa dos direitos dos negros acusaram a polícia de tentar abafar o caso e afirmaram que o policial só foi acusado porque as imagens foram divulgadas.

No total, entre 14 e 15 segundos decorrem entre o primeiro e o último dos dezesseis tiros de Van Dyke, de acordo com um relatório consultado pela AFP.

Durante este tempo, "McDonald jaz no chão por cerca de 13 segundos", informa o relatório.

O adolescente estava sob a influência de psicotrópicos, garante a polícia.

Van Dyke, em prisão preventiva sem fiança, declarou que sentiu-se ameaçado, de acordo com seus advogados.

Segundo um relatório da necropsia, o adolescente apresentava ferimentos à bala na cabeça, pescoço, peito, braços, uma mão, costas e coxa. Ele foi atingido por tiros pela frente e por trás.

Nos últimos 18 meses, a brutalidade policial contra negros provocou vários conflitos, como em Ferguson (centro) ou Baltimore (nordeste), e inúmeros protestos em todo o país.

As tensões também são latentes em Minneapolis (norte), onde cinco pessoas ficaram feridas por tiros na terça-feira durante uma manifestação depois da morte de um homem nengro por um policial.

Segundo o movimento Black Lives Matter, os tiros partiram de militantes racistas que pregam a superioridade dos brancos sobre os negros.

A polícia de Minneapolis anunciou na terça-feira a detenção de dois suspeitos.

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