A 'amarga experiência' europeia dos refugiados afegãos que voltaram para casa

Em Cabul

  • Wakil Kohsar/AFP

    Abdul Ghafur Aryan, 24, voltou a Cabul após viver em um centro de refugiados em Fulda, a nordeste de Frankfurt, depois de uma viagem pela qual pagou US$ 7.500

    Abdul Ghafur Aryan, 24, voltou a Cabul após viver em um centro de refugiados em Fulda, a nordeste de Frankfurt, depois de uma viagem pela qual pagou US$ 7.500

Mohamed Asif sonhava com "uma vida confortável" na Alemanha. Mas sua jornada homérica até a Europa e dois meses de pesadelo nos centros de refugiados fizeram com que este afegão retornasse a Cabul, apesar da violência e do desemprego.

No ano passado, mais de 1,25 milhão de estrangeiros apresentaram um pedido de asilo na UE (União Europeia), um nível jamais registrado pelo Gabinete de Estatísticas Europeu. Os sírios são os mais numerosos, e os afegãos estão em segundo lugar, com 178.230 solicitações.

Em meio a graves problemas econômicos, Mohamed Asif Nuri, um jovem de 26 anos formado em economia, começou seu êxodo do ano passado.

Ele narra uma cansativa jornada que o levou de Cabul para Frankfurt, na Alemanha, passando por Irã, Turquia, Grécia, Macedônia, Sérvia, Croácia, Eslovênia e Áustria.

"O mais difícil foi passar pelo Irã e pela Turquia", diz ele. "Havia no nosso grupo um menino afegão gordo que tinha dificuldades para caminhar nas montanhas. Os contrabandistas deram-lhe um pontapé, ele caiu em um declive e seu corpo nunca foi encontrado".

Na Alemanha, transferido de um centro de acolhida para outro, Mohamed Asif conheceu sírios e iraquianos e constatou um problema comum a todos eles: a desconfiança em razão do "nacionalismo europeu".

"Os europeus acreditam que vamos destruir a sua cultura", diz ele. E essa desconfiança com os migrantes piorou após a noite de Ano Novo em Colônia, quando dezenas de mulheres foram abusadas sexualmente por homens apresentados pelas autoridades como majoritariamente magrebinos.

Aos dois meses, Mohamed Asif já estava farto. Voltou ao Afeganistão graças a OIM (Organização Internacional para as Migrações), sem esperar sequer que seu pedido de asilo fosse tramitado.

"A Europa foi uma amarga experiência para mim", afirma.

'Um futuro muito sombrio'

Um pesadelo igualmente sofrido por seu compatriota Abdul Ghafur Aryan, de 24 anos, que também viveu em um centro de refugiados. Ele passou três meses em Fulda, a nordeste de Frankfurt, depois de uma viagem pela qual pagou US$ 7.500.

"Os banheiros eram sujos, e a cada refeição tínhamos o direito a apenas geleia e manteiga", explica ele.

E depois há a impressão de ser tratado como um refugiado de segunda classe. Os sírios têm direito a aulas de alemão, mas os afegãos não, afirma. "Os alemães deveriam saber que o Afeganistão está em guerra, assim como a Síria. Devemos ser tratados da mesma maneira".

Abdul Ghafur embarcou em um voo fretado pela OIM há dez dias para voltar a Cabul. Um total de 135 refugiados afegãos fizeram o mesmo.

De acordo com a OIM, 1.000 migrantes afegãos pediram para deixar a Alemanha. "Deixar sua terra é especialmente difícil para os jovens e homens solteiros, devido à separação da família", diz Jochen Oltmer, especialista em movimentos migratórios da Universidade de Osnabrück (Alemanha).

"Eles perceberam que trazer sua família ao país de acolhida vai demorar vários anos, então alguns desistem", acrescenta.

Mas nem esta constatação, nem o apelo do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, aos migrantes econômicos de não viajar para a Europa desencorajam outros aspirantes, como Nomyalay Saïd.

Este antigo intérprete das forças americanas no Afeganistão não tem emprego e passa seus dias em um parque de Cabul. Se as coisas não mudarem, este jovem afegão entrará em contato com um traficante de migrantes para "ir para a Europa".

"Aqui, o futuro é muito sombrio", argumenta.

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