Alemanha abre os arquivos sobre a Colônia Dignidade no Chile

Berlim, 26 Abr 2016 (AFP) - A Alemanha vai abrir antecipadamente os arquivos mais recentes, de 1986 a 1996, sobre a Colônia Dignidade, fundada no Chile por um ex-nazista e local de torturas e abusos sexuais durante a ditadura de Augusto Pinochet, anunciou nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier.

"Decidimos reduzir dez anos no prazo de proteção, assim, vamos colocar à disposição dos historiadores e da imprensa os arquivos do período 1986 a 1996", indicou o chefe da diplomacia em Berlim, depois da difusão de um filme sobre esta colônia.

Steinmeier recordou que esse prazo de proteção era de 30 anos e que os arquivos anteriores a 1985 já podiam ser consultados.

Cerca de 120 ex-habitantes da colônia decidiram abrir um processo coletivo para obter uma reparação pelo que consideram prejuízos causados por "uma das seitas mais perigosas da história da Humandiade", nas palavras de seu advogado e ex-vítima, Winfried Hempel.

O grupo pede um milhão de dólares para cada ex-colono, e o processo foi apresentado tanto contra o Chile quanto contra a Alemanha, acusada de não ter protegido seus cidadãos.

Steinmeier reconheceu que a gestão por parte das autoridades alemãs da época da Colônia Dignidade não esteve "à altura da história do ministério alemão das Relações Exteriores".

"Durante longos anos, entre os anos 60 e os 80, diplomatas alemães no Chile olharam para o outro lado", afirmou.

"Em todo caso, fizeram muito pouco para a proteção de seus concidadãos nessa colônia", concluiu.

Fundada em 1961 como uma obra de caridade no sul do Chile, Colônia era publicamente um sítio quase idílico, onde os homens se dedicavam à agricultura, as mulheres, às tarefas domésticas e as crianças participavam de corais e grupos de dança.

Mas em seu interior se escondeu por mais de três décadas um sórdido sistema de doutrinação e trabalho escravo, e que, nos 17 anos de ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) foi usado como centro de detenção e torturas de presos políticos e opositores.

Mesmo depois de descoberta a verdade e interrompidas as brutalidades, as autoridades alemãs não mostraram "determinação nem transparência necessárias para identificar os responsáveis e tirar lições adequadas", admitiu Steinmeier.

Um ex-cabo do exército nazista, Paul Schäfer, fundou a colônia, localizada 350 km ao sul de Santiago.

Ele a dirigiu usando de brutalidade e abusava sexualmente de menores. Em 1997, sete anos depois da volta da democracia ao Chile, choveram denúncias contra Schäfer, foragido até que, em 2005, foi encontrado na Argentina.

Ele morreu na prisão em 2010, cumprindo 20 anos de prisão.

A Colônia Dignidade foi reconvertida em complexo turístico e agrícola sob o nome de Villa Baviera, e tenta desde então viver com a mesma estética de uma aldeia tipicamente alemã, cercada de montanhas e muito verde.

Hoje vivem ali apenas 160 pessoas, idosos em sua maioria.

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