Topo

Exército de Israel admite possível morte por engano de adolescente palestino

17.out.2015 - Soldado israelense observa bairro palestino em Jerusalém Oriental - Uriel Sinai/The New York Times
17.out.2015 - Soldado israelense observa bairro palestino em Jerusalém Oriental Imagem: Uriel Sinai/The New York Times

Em Beit Ur al Tahta

21/06/2016 18h10

O Exército de Israel admitiu nesta terça-feira que pode ter matado por engano um adolescente palestino de 15 anos, ao abrir fogo contra pessoas que atiravam pedras e bombas incendiárias na Cisjordânia ocupada.

Os dirigentes palestinos denunciaram um "assassinato" e um novo episódio de uso excessivo da força de parte do Exército israelense.

Em um primeiro momento, o Exército israelense tinha afirmado que Mahmud Badran e outros quatro adolescentes que ficaram feridos atiravam pedras e coquetéis molotov em uma estrada da Cisjordânia por onde circulam israelenses. Os projéteis feriram três pessoas.

Mas na manhã desta terça-feira, uma porta-voz do Exército israelense afirmou à AFP que "segundo os primeiros elementos da investigação, parece que pedestres alheios aos incidentes foram atingidos por engano".

Badran, de 15 anos, morreu e seus quatro primos com idades entre 16 e 17 anos, ficaram feridos, segundo a versão da militar.

A estrada 443, cenário de incidentes frequentes, é utilizada pelos israelenses para deslocamentos entre Jerusalém e Tel Aviv.

Jovens palestinos se posicional com frequência nas localidades e cidades próximas à beira da estrada para lançar projéteis contra os carros com placa israelense.

'Mentirosos'

Mas nesta noite de ramadã, familiares da vítima e testemunhas deram outra versão do ocorrido.

Mahmud e seus primos "decidiram essa noite irem juntos ao Aqua Park", em Beit Sira, localidade vizinha a Beit Ur al Tahta, explicou à AFP o pai do adolescente, Rafat Badran, de 51 anos.

Durante o período de jejum do ramadã, é comum para os muçulmanos dormirem tarde.

Após várias horas de banho, eles fizeram o caminho de volta para casa em carro, através de um túnel situado sob a rodovia 443.

Por volta da 1h30 local, "um veículo se aproximou pela estrada 443, homens armados saíram e atiraram contra seu veículo", quando saía do túnel, acrescentou Rafat Badran, com os olhos avermelhados pelo choro.

A família, avisada, foi ao local dos fatos. Mas "os soldados impediram que nos aproximássemos e atiraram contra nós. Proibiram às ambulâncias palestinas recuperar os feridos", explicou.

"O próprio Exército disse ter cometido um erro? São uns mentirosos, é o governo de mentirosos de [Benjamin] Netanyahu e de [Avigdor] Lieberman", afirmou, em alusão ao premiê e ao ministro da Defesa israelenses.

"Este assassinato a sangue frio consolida nossos apelos [à ONU} para uma investigação imediata e em profundidade das execuções extrajudiciais israelenses, em especial de crianças palestinas", disse em um comunicado Sabe Erekat, número dois da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Outra moradia destruídaOrganizações de defesa dos direitos humanos acusam Israel de usar de forma excessiva a força contra os palestinos.

O Exército está no centro de uma grande polêmica depois que um soldado atirou na cabeça de um atacante palestino que estava no chão após um ataque contra militares em 24 de março na Cisjordânia. O estado-maior pressionou para que o militar fosse julgado.

Durante a noite, soldados israelenses demoliram a casa da família de um palestino que foi morto em março após um ataque com faca durante a visita do vice-presidente americano Joe Biden em Israel, informou o Exército israelense.

No dia 8 de março, Bashar Masalha, 22 anos, matou um turista americano de 29 anos e feriu vários israelenses em um bairro turístico de Tel Aviv.

As tropas israelenses destruíram o apartamento da família, que fica no segundo andar de um edifício de três pavimentos, na localidade de Haja, norte da Cisjordânia.

O governo justifica as destruições de casas com o objetivo de encerrar a atual onda de violência, mas alguns comandantes das forças de segurança questionam sua eficácia.

As organizações de defesa dos direitos humanos criticam a destruição de moradias, que constitui uma punição coletiva e afeta duramente as famílias.

Desde o início do atual ciclo de violência em Israel e nos territórios palestinos, morreram 209 palestinos, 32 israelenses, dois americanos, um eritreu e um sudanês, segundo contagem da AFP.

De acordo com as autoridades israelenses, a maioria destes palestinos morreu em ataques com facas, armas de fogo ou lançando veículos contra israelenses.

Outros morreram em confrontos com as forças de segurança ou vítimas de ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza.

Conflito entre Israel e Palestina é discutido há décadas; entenda