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No sul da Arábia Saudita, a guerra no Iêmem não é vista mas causa mortes

28/08/2016 14h55

Najran, Arábia Saudita, 28 Ago 2016 (AFP) - À primeira vista, não parece que exista guerra em Najran, cidade saudita na fronteira com o Iêmen. As pessoas vão às lojas e restaurantes normalmente. Não se vê um soldado. Mas no hospital King Jaled, um homem chora por seu filho.

Fora de um quarto, Saleh al-Abas está chorando. Seu filho de 9 anos, Mahdi, está no leito, com a cabeça e o rosto vendados. Ele ficou ferido e seu primo de 3 anos morreu quando um foguete Katiusha caiu no sábado sobre a casa da família na hora do café da manhã.

Já são ao menos 31 civis mortos em Najran desde que os rebeldes xiitas iemenitas huthis e seus aliados começaram a bombardear o sul da Arábia Saudita em represália pelos ataques aéreos contra eles da coalizão árabe liderada por Riad.

Também morreram pelo menos 19 soldados sauditas na região de Najran, situada a alguns quilômetros da fronteira.

Os rebeldes "miram nos civis. Eles são os que mais sofrem", afirma o coronel Ali al-Shahrani, porta-voz da unidade de Defesa Civil, durante uma visita organizada para a imprensa estrangeira na localidade.

Segundo ele, os disparos de foguetes aumentaram desde a suspensão, no início de agosto, das negociações de paz realizadas no Kuwait sob a supervisão da ONU.

Um destes foguetes alcançou na sexta-feira a central elétrica de Najran, aos pés de uma montanha. Não causou feridos, mas danificou um depósito petroleiro, provocando um incêndio.

- 'A qualquer momento' -A Arábia Saudita é alvo de crescentes críticas de organizações de defesa dos direitos humanos devido ao número de vítimas em suas operações no Iêmen.

A ONU exigiu na quinta-feira a criação de um organismo internacional para investigá-las. O conflito deixou mais de 6.600 mortos, entre eles 3.800 civis, a metade dos quais por bombardeios aéreos da coalizão árabe, segundo um relatório das Nações Unidas.

Em Najran, a morte por disparos de foguete pode chegar a qualquer momento e a qualquer local.

Como há menos de duas semanas, quando quatro sauditas e três iemenitas morreram em uma loja de automóveis alcançada por vários Grad.

"Estava na loja quando, de repente, nos alcançaram", conta Suleiman Abdulthabit, de 25 anos, hospitalizado em King Jaled. Toca a cabeça para mostrar o impacto dos estilhaços.

A loja, situada em uma zona industrial, ficou destroçada.

Este tipo de ataque "pode ocorrer a qualquer momento", insiste o coronel Shahrani.

Para tentar preveni-los, Riad mobilizou baterias Patriot destinadas a parar os mísseis balísticos lançados pelos rebeldes huthis desde o Iêmen. Mas os disparos de foguetes do tipo Katiusha, de um alcance máximo de cerca de 30 km, são mais difíceis de se detectar.

Muitos habitantes são fatalistas e continuam com sua rotina.

"Só cuidamos de não nos juntarmos em locais que acabam de ser alcançados por um míssil ou um foguete", explica Fahad Juraib, de 48 anos.

"Somos fortes e pacientes", afirma Manaa al-Ghobari, outro habitante. "Continuaremos em nossos bairros o tempo que Deus quiser".

Outro homem, que vive no leste da cidade, relativiza o perigo. "Às vezes, ouve-se 'bum, bum, bum' ao longe, mas, até agora, aqui não aconteceu nada".

Segundo Juraib, os habitantes de Najran enfrentam o perigo com "muita calma", mas todos "esperam que a guerra acabe logo".

Esta perspectiva ainda parece incerta. Dezessete meses depois do começo do conflito bélico, as negociações estão em ponto morto, apesar dos últimos três meses de diálogo no Kuwait.

Para tentar desbloquear a situação, o secretário de Estado americano, John Kerry, anunciou na quinta-feira uma nova iniciativa de paz, que propõe a formação de um governo de união nacional.

O governo iemenita exilado na Arábia Saudita deu seu pré-acordo a esta iniciativa. Resta ver como responderão os rebeldes.