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Tensão entre EUA e China aumenta enquanto mundo busca cura para coronavírus

Aly Song
Imagem: Aly Song

19/05/2020 10h16

A disputa entre os Estados Unidos e a China sobre a gestão da crise do coronavírus pela OMS aumenta, enquanto o mundo espera estratégias conjuntas e acelera a busca de uma cura para a covid-19, que já matou mais de 318.000 pessoas.

Acusando a Organização Mundial da Saúde (OMS) de ser um "fantoche da China", o presidente americano, Donald Trump, ameaçou congelar indefinidamente o financiamento para essa agência da ONU e até retirar seu país, se não houver "melhorias substanciais" em 30 dias.

Em resposta, o governo chinês acusou Trump, nesta terça-feira, de usar a China para "fugir de suas obrigações" com a OMS.

"É um erro de cálculo, e os Estados Unidos escolheram o alvo errado", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.

Já a União Europeia (UE) expressou nesta terça seu apoio à OMS. "É hora da solidariedade, não de apontar o dedo, ou prejudicar a cooperação multilateral", disse a porta-voz da diplomacia europeia, Virginie Battu.

A polêmica eclodiu em plena assembleia geral da OMS, na qual os 194 países-membros concordaram, nesta terça, quanto à necessidade de uma investigação independente sobre a resposta da Organização à pandemia.

Aprovado por consenso, este texto prevê o lançamento "o mais rápido possível de um processo de avaliação imparcial, independente e abrangente" da ação internacional coordenada pela OMS diante da pandemia, incluindo as decisões da organização durante o desenvolvimento da crise.

Remédio ou vacina

Trump considera que a OMS ignorou informes sobre o aparecimento do vírus e censura a organização por ser muito indulgente com as autoridades chinesas a respeito da gestão da pandemia. Nos Estados Unidos, já são mais de 90.000 mortos e 1,5 milhão de infectados.

Apesar da tensão entre a OMS e Washington, surgiram sinais de otimismo com os resultados encorajadores no desenvolvimento de uma cura, ou de uma vacina, em cuja produção mais de 100 laboratórios no mundo estão envolvidos.

Na China, um medicamento em fase de testes na prestigiada Universidade de Pequim ("Beida") permitiria não apenas acelerar a cura dos doentes, mas também imunizar temporariamente para a covid-19, segundo o pesquisador Sunney Xie em entrevista à AFP.

E, nos Estados Unidos, a empresa de biotecnologia Moderna, uma das mais avançadas na corrida pela vacina, anunciou resultados preliminares encorajadores em testes em oito voluntários, antes de realizar testes em larga escala em julho.

Para o presidente chinês, Xi Jinping, uma possível vacina chinesa seria um "bem público global". E o presidente francês, Emmanuel Macron, também considerou que "todos deveriam ter acesso" a ela.

Mas enquanto esse momento não chega, Trump surpreendeu o mundo ao anunciar que está tomando hidroxicloroquina - alvo da controvérsia entre cientistas - "há uma semana e meia", com a aprovação do médico da Casa Branca, apesar de apresentar "nenhum sintoma" da doença.

"Comemos o que encontramos"

Na América Latina e no Caribe, a covid-19 já deixou 30.600 mortes (de 548.000 infectados). Mais da metade foi no Brasil, país com mais de 16.000 vítimas fatais, embora os especialistas considerem que as estatísticas ocultam uma realidade muito mais trágica.

No Chile, moradores de Santiago entraram em confronto com a polícia na segunda-feira, protestando contra a falta de comida e trabalho.

"Trabalho com banho e tosa de cães (...) tenho quatro filhos. O governo não me ajuda, porque tenho um negócio", lamentou Paola Garrido.

Na Venezuela, que decretou toque de recolher em um município na fronteira com a Colômbia, o coronavírus exacerbou sua já severa crise econômica.

"Cozinhamos com lenha, comemos o que encontramos", resume Héctor, um chefe de família que vive em San Cristóbal, no oeste do país.

No Peru, um motim desencadeado pelo medo do novo coronavírus em uma prisão deixou 14 feridos entre detentos e agentes penitenciários. Até agora, 30 presos morreram de covid-19 e mais de 645 foram infectados em presídios lotados no país.

Embora a situação continue complicada no Equador, um dos países mais atingidos da América Latina - com quase 34.000 casos, incluindo 2.800 mortos - Guayaquil, foco da pandemia no país, começará a diminuir as restrições na quarta-feira.

Questionado pelas severas medidas de confinamento que envolveram o uso da força, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, condicionou que uma abertura gradual da economia do país em 6 de junho seja precedida por uma "quarentena completa e rigorosa".

Um pouco de ar para a economia

À espera de um tratamento ou vacina para conter o coronavírus, que já infectou 4,8 milhões de pessoas, e em meio ao medo de uma segunda onda de infecções, o mundo tenta dar um pouco de alívio para a economia.

Para lidar com o forte impacto econômico na UE, França e Alemanha propuseram um plano de reativação de 500 bilhões de euros.

Continente mais afetado com 167.668 mortes (1.919.572 infecções), a Europa continua caminhando em direção ao desconfinamento, com a reabertura gradual de bares e restaurantes em países como Portugal, Alemanha e Dinamarca, e locais emblemáticos como a Basílica de São Pedro, no Vaticano; Mont Saint-Michel, na França; ou a Acrópole, em Atenas.

Outro país gravemente atingido pelo vírus, com quase 28.000 mortes, a Espanha também avança nesse sentido, apesar de Madri e Barcelona ainda estarem sob restrições. Cerca de 95% dos espanhóis consideram as medidas tomadas contra a pandemia necessárias, ou muito necessárias, aponta uma pesquisa do instituto público Centro de Investigações Sociológicas.

Ainda assim, a confiança no Executivo de Pedro Sánchez neste momento de crise parece dividida. Há uma semana, na Espanha, protestos são convocados nas redes sociais e apoiados por partidos de direita, pedindo a renúncia do primeiro-ministro.

No Oriente Médio, a Esplanada das Mesquitas de Jerusalém reabrirá suas portas depois do Eid al-Fitr, as festividades que encerram o Ramadã. A celebração será neste fim de semana.

Perto dos 300.000 casos de contágio e totalizando 2.837 mortes, a Rússia acredita que sua situação está se estabilizando, com menos de 10.000 casos adicionais pelo quarto dia consecutivo. Seu primeiro-ministro Mikhail Mishustin retomou suas funções nesta terça, três semanas após ser hospitalizado.