Andreza Matais

Andreza Matais

Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Rui Costa tenta se explicar para Lula após UOL revelar delação sobre fraude

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, procurou hoje (3) o presidente Lula (PT) para se explicar sobre informação revelada pelo UOL de que ele foi citado numa delação que menciona pagamento de propina na compra de respiradores durante a pandemia da covid-19.

A coluna apurou que Costa disse se tratar de fato requentado para atingi-lo politicamente e que a situação à época exigia compra emergencial. O presidente, contudo, ficou incomodado a ponto de cancelar uma agenda pública para não ser fotografado ao lado do ministro, segundo um auxiliar próximo.

Procurada, a assessoria do ministro nega que ele tenha tratado do assunto com o presidente. Já o Palácio do Planalto afirma que o cancelamento da agenda não tem relação com o episódio, mas com um compromisso de Lula que se estendeu. A agenda do presidente, contudo, não registra nenhuma atividade em Brasília antes das 16 horas. O evento com a participação de Rui Costa, para assinatura de contratos de concessão de energia, ocorreu entre 15h e 16h30. O compromisso foi retirado da agenda de Lula minutos antes do início.

O governo acompanha os desdobramentos do noticiário com apreensão. Por dois motivos: 1) tudo o que Lula não precisa é uma crise envolvendo o calcanhar de Aquiles do seu adversário —a pandemia; e 2) Rui Costa atua como um gerente que faz a máquina do governo andar, mas não tem amigos no Congresso, no PT e na Esplanada. Ou seja, não terá blindagem se a crise escalar.

Na campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a questionar Lula sobre o Consórcio Nordeste durante um debate, insinuando que as gestões petistas estavam envolvidas no esquema da compra de respiradores a preços superfaturados e que nunca foram entregues. Lula não respondeu.

No PT e no centrão, a notícia do suposto envolvimento do ministro em um escândalo dessa proporção foi até "comemorada". A bancada do partido na Câmara tenta convencer Lula a fazer uma reforma ministerial e avalia, em conversas reservadas, que essa pode ser uma oportunidade para o presidente colocar em cargos políticos pessoas que tenham interlocução na política.

Até mesmo os poucos amigos do ministro no Congresso o definem como introspectivo, nada afável e reconhecem que ele tem dificuldades em dialogar com Brasília. No PT ele é descrito como um "gerentão despolitizado".

O ministro "deu liga" com o presidente, mas não construiu autoridade com o Congresso, com o Judiciário e com seus colegas de ministério. Soma-se a isso o fato de o PT paulista (representados pelos ministros Fernando Haddad/Fazenda e Alexandre Padilha/Relações Institucionais) disputar poder com o PT baiano dentro do governo Lula.

Um líder do Centrão disse à coluna que o suposto envolvimento do ministro "enfraquece muito" a sua permanência na Casa Civil. Por enquanto, as críticas ao ministro ainda são feitas em conversas reservadas. Mas a ideia é convocá-lo para se explicar mesmo no período de recesso branco com o objetivo de desgastar o chefe da Casa Civil.

Continua após a publicidade

A lógica é que Rui Costa pode enfrentar o mesmo roteiro de outros colegas de Casa Civil, como Antonio Palocci e José Dirceu. Alvos de escândalos, os dois perderam os cargos quando passaram a gastar mais tempo se explicando do que exercendo suas atividades. Os escândalos envolvendo ambos tragou os governos Lula e Dilma Rousseff.

A denúncia

Conforme revelou o UOL, uma investigação da Polícia Federal encontrou indícios que ligam o ministro a irregularidades em um contrato de R$ 48 milhões para a compra de respiradores durante a pandemia. À época, ele era governador da Bahia.

O nome de Costa foi citado em delação premiada da empresária responsável pelo negócio, que devolveu R$ 10 milhões aos cofres públicos e apresentou extratos bancários de transferências a intermediários da venda.

Veja íntegra de nota enviada por Rui Costa

"Ao longo dos meus oito anos à frente do Governo do Bahia, observei o estrito cumprimento da lei, sempre me pautando por valores éticos e morais. Junto com minha equipe, trabalhei incansavelmente para minimizar a perda de vidas humanas durante a pandemia da Covid-19, tendo como base os preceitos científicos.

Continua após a publicidade

Após a não entrega dos respiradores, determinei que a Secretaria de Segurança Pública da Bahia abrisse uma investigação contra os autores do desvio dos recursos destinados à compra desses equipamentos. Os implicados foram presos pela Polícia Civil por ordem da Justiça baiana semanas após a denúncia.

A partir da apuração e investigação da Polícia Federal, por quase três anos, a Justiça Federal enviou o processo à primeira instância. Estranho que o caso volte à tona, agora, por força de uma matéria baseada nas palavras da principal autora do crime.

Reforço que jamais tratei com nenhum preposto ou intermediário sobre a compra de respiradores ou de qualquer outro equipamento de saúde durante minha gestão.

Nos duros anos da pandemia, as compras realizadas por estados e municípios no Brasil e no mundo foram feitas com pagamento antecipado. Esta era a condição vigente naquele momento.

O processo retornou à primeira instância com o reconhecimento do Ministério Público Federal e do Judiciário, através do STJ, da inexistência de qualquer indício da minha participação nos fatos apurados na investigação.

Desejo que a investigação seja concluída e que os responsáveis por esse crime, não só do desvio do dinheiro público, mas também do crime absolutamente cruel de impedir, através de um roubo, que vidas humanas fossem salvas.

Continua após a publicidade

Rui Costa
Ministro da Casa Civil"

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes