SP entra em sala global de professor de Harvard
São Paulo - Estudantes brasileiros terão este mês e em novembro a oportunidade de participar de uma "sala de aula" online global comandada por um professor de Harvard que virou celebridade com um curso divulgado na TV e na internet. A Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas abriu a seleção para dez vagas do projeto concebido por Michael Sandel, astro da série Justice, que trata de dilemas morais. Três delas serão reservadas a alunos do Curso Estado de Jornalismo e leitores do jornal.
As aulas serão realizadas simultaneamente em Boston, São Paulo, China e Índia em três dias: 26 deste mês, 2 e 30 de novembro. Em cada país haverá grupos de até 20 alunos que poderão interagir entre si e com Sandel, professor de Filosofia Política. Em São Paulo, as aulas serão realizadas a partir das 11h30 (a expectativa é de que elas acabem às 13 horas) na sede da Direito GV, na Bela Vista, região central.
A FGV vai recrutar alunos de Economia, Administração e Direito da própria fundação e de Ciências Sociais e Direito da Universidade de São Paulo. As vagas reservadas a leitores do Estado têm como pré-requisito ser estudante de graduação ou mestrado, fluência em inglês e ter lido o livro Justice: o que é fazer a coisa certa?, lançado pela editora Civilização Brasileira. Também no caso dos leitores, a seleção dos candidatos caberá à FGV.
"A ideia é selecionar pessoas com interesse na área, que falem bem inglês e participem de fato da interação proposta por Sandel", diz Ronaldo Macedo, professor de Ética, Teoria do Direito e Filosofia Política da FGV e da USP. Macedo coordena o projeto das salas de aulas globais com o diretor da Direito GV, Oscar Vilhena.
A ideia de hospedar o curso na FGV partiu do próprio Sandel, que esteve no Brasil em agosto, quando revelou com exclusividade o projeto da classe mundial ao jornal O Estado de S. Paulo. "Gostamos da ideia porque o Sandel está fazendo sucesso com uma coisa diferente em termos de educação e de comunicação de temas filosóficos e éticos contemporâneos. Não é fácil fazer isso e ele, ao meu ver, conseguiu", disse Macedo. "A GV há muito tempo tem esse compromisso, com técnicas de pedagogia, inovação, interatividade e método socrático, algo que o Sandel explora bastante."
Para o professor, a contribuição de Sandel também é importante porque o tema da ética, especialmente em escolas de Direito, é abordado hoje de maneira "banalizada". "Se você pegar os livros que existem no mercado, eles são na maioria quase que pregações de educação, moral e cívica. Partem da presunção de que o advogado tem de ser ético e, com base nisso, se dedicam a ensinar ‘boas maneiras’", diz Macedo. "Não é assim que se faz.
A educação ética passa em primeiro lugar por você compreender, começar a pensar de maneira mais organizada e complexa sobre alguns temas. Todos nós temos posição em questões como aborto ou bioética. Tanto na USP quanto na GV vejo alunos treinados para pensar como o Supremo decidiu uma questão. Mas para pensar sobre o que é certo ou errado, quais são os limites, há poucos espaços."
A ideia da classe global foi sugerida a Sandel por uma startup de tecnologia. No projeto piloto, que teve apoio da NHK, TV pública japonesa, o professor fez uma série de seis aulas durante um ano e meio com estudantes em Tóquio, Xangai e Boston. "Em cada aula abordei uma questão: a distância entre ricos e pobres, limites morais na resposta ao terrorismo e questionamentos éticos ligados às Olimpíadas, como meios de melhorar performance com a ajuda de drogas e modificações genéticas", revelou Sandel ao jornal O Estado de S. Paulo em agosto. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.