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(Entrevista) Crise na Europa fez América do Sul repensar projetos de integração

09/02/2012 08h50

Por Beatriz Farrugia

SÃO PAULO, 9 FEV (ANSA) - A crise econômica e financeira na Europa impulsionou uma maior articulação nos blocos regionais sul-americanos, de acordo com especialistas consultados pela ANSA.

Essa articulação, porém, refere-se apenas a diálogos e adoções de medidas pontuais e comerciais para evitar um contágio da crise, e não a uma integração de fato, com avanços institucionais.

"Se bem houve uma maior articulação entre os países da região, tanto no âmbito da Unasul, quanto no da Celac, não se pode dizer que avançou a integração em termos de aprofundamento institucional, na direção do que seria a União Europeia", afirmou o professor da Unesp e coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Luis Fernando Ayerbe.

"O efeito da aproximação é mais em termos de se precaver contra a crise, tomando medidas comuns", acrescentou o especialista.

Para o professor de Economia e Política Internacional da Universidade Mackenzie Arnaldo Cardoso, esse tipo de articulação ocorre porque "fortalecer as possibilidades de negócio e as relações no âmbito regional se torna muito oportuno e interessante" em momentos de crise externa.

Já a professora do Núcleo de Estudos Internacionais da UFRJ Ariane Roder Figueira destacou que a crise externa também pode ser uma oportunidade para os mercados regionais, principalmente o Mercosul.

"Uma das tendências é que o comércio se fortaleça entre os membros do bloco, já que os mercados extra-zona passam por turbulências, direcionando, desse modo, esforços empresariais no desenvolvimento de negócios e na ampliação de oportunidades na própria região".

Se, por um lado, as tensões europeias levaram a uma maior convergência em adoção de medidas protecionistas e a um fortalecimento dos mercados regionais, por outro, elas fizeram com que os países sul-americanos refletissem sobre as desvantagens de formar um bloco como a União Europeia.

"Talvez essa crise tenha deixado um pouco claro os perigos de você avançar quando não há uma grande harmonia entre os membros, uma grande disparidade", pontuou Ayerbe.

Segundo Figueira, "o significado da crise na Europa para a evolução do bloco apenas representará, no caso do Mercosul, maior cautela em relação aos próximos passos".

"A crise na Europa revela alguns ensinamentos, tais como: a necessidade de criação de mecanismos de controle nos blocos de integração regional que supervisione de forma mais eficiente a indisciplina nos gastos públicos e a relação do endividamento e o PIB, principais fatores que têm levado à derrocada econômica de alguns países europeus; e também como lidar com as assimetrias regionais e qual deve ser o papel desempenhado pelas principais economias do bloco", afirmou.