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Chanceleres se reúnem para acordo entre Colômbia e Venezuela

26/08/2015 08h57

BOGOTA e CARACAS, 26 AGO (ANSA) - As ministras de Relações Exteriores da Colômbia e da Venezuela, María Angela Holguín e Delcy Rodríguez, se reúnem nesta quarta-feira (26) em Cartagena para tentar resolver o problema diplomático do fechamento unilateral da fronteira por parte do governo de Caracas.   

Além das duas chanceleres, participarão alguns ministros - de ambos os lados - de pastas importantes para resolver a situação, como da Defesa, do Interior e de Comércio. O encontro tentará viabilizar uma solução para o que o governo venezuelano chama de "paramilitarismo de direita", responsável por mortes e pelo contrabando de drogas e de combustíveis na fronteira. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que a reunião desta quarta será importante se "todos tiverem capacidade para ouvir verdades muito duras que levaremos à mesa de negociação". Ressaltando o que vem afirmando desde o dia 20, quando fechou a fronteira, Maduro destacou que "não abrirá" o local até que "sejam garantidas condições mínimas e que haja paz". Já para o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, é preciso que a Venezuela "respeite" os cidadãos do país, em uma referência às mais de mil pessoas que já foram deportadas do território vizinho."Ao governo da Venezuela nós exigimos respeito por todos os colombianos, desde os mais humildes até os mais poderosos, desde os mais próximos ao nosso governo até aqueles que nos criticam ferozmente", declarou o líder. Ele lamentou ainda que o fato esteja sendo usado como bandeira de campanha eleitoral "nos dois lados da fronteira".Segundo Santos, "todo ser humano", sem importar seu status migratório, "merece ser tratado com todo o respeito e dignidade". "Invadir as residências, tirar os habitantes à força, separar as famílias, não as deixar pegar seus poucos bens e marcar as casas para que elas sejam demolidas são procedimentos totalmente inaceitáveis e lembra episódios amargos da humanidade que não podem ser repetidos", ressaltou. O mandatário voltou a falar que a Colômbia "sempre esteve disposta a cooperar" e que é a parte "mais interessada" em acabar com a atuação dos grupos contrabandistas e de tráfico de drogas. Apesar de ressaltar que a solução só será resolvida pelas vias diplomáticas, o governo de Bogotá adotou algumas medidas para ajudar todos aqueles que foram deportados ou que estão fugindo das seis cidades da região de Táchira que estão em "estado de exceção". Segundo o jornal "El Tiempo", já há a base de um acordo para que caminhões colombianos atravessem a fronteira para recolher os objetos que foram deixados pelas famílias que foram deportadas e o Ministério de Minas garante um subsídio para que as cidades fronteiriças não fiquem sem combustíveis.O governo também está organizando seis centros para receber as pessoas que deixaram a Venezuela e fornecendo alimentação e itens básicos de higiene. A Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) emitiu um comunicado sobre a situação entre os dois países onde afirma que está "profundamente preocupada" com o "crescente sentimento xenófobo em uma das duas nações, que afetam os refugiados que buscam a segurança".   

- Fechar fronteira é a 'ponta do iceberg', diz Maduro: O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, voltou a atacar a "direita paramilitar" e destacou que o fechamento da fronteira em Táchira é apenas a "ponta do iceberg". "Não vamos mais aceitar ataques de paramilitares, de grupos criminosos contra a economia, mais contrabando, mais abusos da oligarquia criminal da Colômbia contra a Venezuela. Agora está começando a resposta da Venezuela contra a violência paramilitar", disse o mandatário. Ressaltando que o povo colombiano é "respeitado e amado e convivemos com eles em paz", Maduro chamou de "vinte pragas" aqueles que atuam para minar a segurança na região.   

Segundo ele, o governo de Bogotá "não fala nada sobre a base paramilitar que estamos desmantelando e que criou um bordel terrível, com escravas sexuais"."Eu vou convocar o presidente Santos para explicar detalhes disso e vou enviar um documento especial para que ele leve provas porque eu parto do princípio que ele não conhece isso e que ele só sabe o que sai no "El Tiempo", "Semana" e "Caracol" [jornais colombianos]", ressaltou.   

Com o aumento no tom do discurso, diversos analistas internacionais afirmam que Maduro está focando a questão na fronteira para ter uma "bandeira eleitoral" e desviar a atenção do povo na crise econômica. - Entenda o caso: Colômbia e Venezuela dividem 2.219 quilômetros de fronteira, considerada uma das mais ativas da América Latina. Desde a década de 1980, com o aumento do tráfico de drogas e combustíveis, os problemas diplomáticos se tornaram frequentes.   

Especialmente, entre os anos de 2002 e 2010, durante os governos de Álvaro Uribe (Colômbia) e Hugo Chávez (Venezuela), a situação voltou a ser caótica. Por grandes diferenças ideológicas de direita e esquerda, houve uma crise diplomática em 2007 - em uma troca humanitária que não foi realizada com sucesso - e as relações bilaterais foram congeladas. Já em julho de 2010, outra briga por causa da atuação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ocasionou o rompimento das relações diplomáticas. No entanto, com a posse de Juan Manuel Santos pouco tempo depois as conversas por vias diplomáticas foram retomadas. A atual crise, que teve o ápice com o fechamento da fronteira, ocorre desde o último dia 20.   

Inicialmente previsto por apenas 72 horas, o chefe de Estado venezuelano mudou de ideia no dia seguinte e determinou que o acesso terrestre ficasse fechado por tempo indeterminado.   

A medida foi tomada porque três soldados da Venezuela ficaram gravemente feridos enquanto participavam de uma ação para combater o tráfico de drogas em San Antonio del Táchira. De acordo com o governo, eles foram vítimas de uma "emboscada" de venezuelanos e colombianos envolvidos com o narcotráfico. (ANSA)
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