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Julgamento de Mubarak e aliados gera protestos e pode reabrir antigas feridas

03/06/2012 07h20

Protestos reuniram milhares de egípcios nesta madrugada (3), após a condenação à prisão perpétua do ex-presidente Hosni Mubarak no último sábado.

As multidões que se aglomeraram no Cairo, em Alexandria, Suez e Mansoura criticavam o fato de seis importantes ministros e oficiais da era Mubarak terem sido absolvidos das acusações de participação em 850 mortes ocorridas durante a revolução egípcia, no ano passado, que culminou com a queda do ex-presidente. Muitos também pediam a pena de morte para Mubarak.

No atual clima, dizem correspondentes da BBC no Cairo, o veredicto - que, esperava-se que ajudasse o Egito a pacificar suas divisões - pode acabar reabrindo antigas feridas, diante de alegações de que os pilares do antigo regime foram mantidos e de que pessoas ligadas a ele mantêm sua força.

A praça Tahir, local-símbolo das manifestações antigoverno em 2011, voltou a ser ocupada por manifestantes, que dizem que pretendem permanecer no local. Também estiveram presentes ali figuras públicas de destaque e torcedores de futebol conhecidos como Ultras, que já estiveram envolvidos em diversos confrontos políticos.


Um cartaz dizia "mártires (em referência aos mortos na revolução do ano passado), não os abandonaremos às conspirações do velho regime. Em nome do seu sangue, haverá uma nova revolução".

 

Poucas reformas

 Slogans contra o governo militar egípcio voltaram a ecoar na Tahir. A correspondente da BBC no local, Yolande Knell, diz que a ira dos manifestantes ali se devia, principalmente, à absolvição dos membros das forças de segurança, o que foi visto pelos egípcios como um sinal de que poucas reformas foram implementadas desde o fim da era Mubarak.

"Os veredictos são uma piada. Mubarak e (seu ex-ministro do Interior Habib) Adly foram condenados, mas seus aliados não", disse à BBC o manifestante Sharif Ali. "E (Mubarak e Adly), quando voltarem à corte para apresentar seu recurso, serão libertados também."

"O principal objetivo da revolução (de 2011) era a remoção do regime", disse outro manifestante, Mohamed Fouad. "Por que ainda estamos lutando, depois de passado mais de um ano?"

Outros foram às ruas para expressar sua insatisfação com a atual situação política. Após o primeiro turno das primeiras eleições presidenciais livres, em maio, os egípcios agora têm de escolher, no segundo turno, entre Ahmed Shafiq, ex-premiê de Mubarak, e o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi.

Em comunicado após o julgamento, a ONG Anistia Internacional disse que a condenação de Mubarak "é um passo significativo contra a impunidade no Egito", mas agregou que a absolvição de membros das forças de segurança "ainda deixa muitos esperando por justiça".

Primeiro condenado

Aos 84 anos e após três décadas governando o Egito, Mubarak é o primeiro entre os líderes afetados pela Primavera Árabe a ser julgado em seu país.

Ele foi condenado como cúmplice na morte de 850 opositores de seu regime, durante os primeiros dias de protesto antigoverno, em 2011. Segundo o juiz do caso, Ahmed Refaat, o ex-presidente e seu ex-ministro Habib Adly falharam ao não impedir que as forças de segurança usassem armas letais contra manifestantes desarmados.

Mubarak ouviu seu veredicto com uma expressão impassível, em uma maca hospitalar e usando óculos escuros. Mas, ao ser levado ao presídio de Tora, teria tido uma "crise de saúde", segundo a TV estatal egípcia, e foi internado no hospital da prisão.

Seus dois filhos, que enfrentavam acusações de corrupção, foram absolvidos, mas ainda serão julgados por suposta manipulação do mercado financeiro.

Logo depois do veredicto de Mubarak, o país entrou em alvoroço - primeiro, muitos comemoraram a sentença, mas logo se revoltaram com a notícia da absolvição de aliados do ex-presidente.

Alguns apoiadores do antigo regime, por sua vez, também protestaram contra a condenação.