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Ativistas sírios descrevem clima de tensão em Damasco

18/07/2012 18h17

Dois ativistas opositores do regime sírio disseram à BBC Brasil que grupos de rebeldes armados já circulam ostensivamente por Damasco. Os choques cada vez mais frequentes dessas milícias com as Forças Armadas teriam criado uma situação de guerra civil na capital - que até então se mantinha relativamente isolada dos conflitos no país.

Ali, de 31 anos, é um opositor do regime do presidente Bashar al-Assad que mora em um bairro próximo ao distrito de al-Midan, em Damasco, onde haveria uma forte concentração de tropas rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS).

Segundo ele, é possível encontrar homens do ELS fortemente armados pelas ruas do distrito. "Em cada rua há um grupo de rebeldes. Alguns chegam a ter entre 50 a 70 homens armados."

Ele afirmou que a ofensiva rebelde sobre a Damasco foi até "uma surpresa", já que a população não esperava pela chegada dos confrontos às ruas da capital.

"Na madrugada de domingo (15 de julho), eu estava passando por algumas ruas e vi vários homens armados. De início pensei que fossem da shabiha (milícia pró-governo). Mas depois vi que eram rebeldes. Foi quando tropas do governo entraram na área e os primeiros combates começaram", afirmou.

Ele também disse que tão logo a batalha inciou, correu para sua casa e levou sua irmã e os pais para um local mais seguro.

"As pessoas corriam desesperadamente para deixar o bairro. Mas logo que os combates se intensificaram e outras áreas da cidade passaram a ser campos de batalha".

Forças rebeldes, lideradas pelo ELS, fizeram uma investida que já dura quatro dias e foi apelidada de "Operação Vulcão de Damasco".

A operação deixou membros do governo sírio perplexos, segundo analistas, e levou combates a vários bairros da capital do país. Com partes do centro da cidade interditadas, milhares de moradores foram forçados a deixar a capital.

Grupos de oposição, entre eles a Irmandade Muçulmana, chamaram os confrontos em Damasco de "batalha decisiva" e convocaram uma "insurreição civil nacional" entre a população.

Em meio aos combates em Damasco, um atentado suicida nesta quarta-feira matou o ministro de Defesa, seu vice e o cunhado do presidente Bashar al-Assad.

O homem-bomba detonou os explosivos dentro do prédio sede da força de segurança nacional, deixando também um grande número de feridos.

O Conselho de Segurança da ONU deveria decidir nesta quarta-feira se impõe novas sanções ao país.

Mas o enviado da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, pediu para que a votação fosse adiada, devido ao ataque em Damasco.

Franco-atiradores

Nizar, de 28 anos, outro ativista opositor do regime e morador de Damasco, disse que a polícia síria não permitiu que pessoas se aproximassem da área onde ficava o prédio atingido pela explosão.

"Ficamos sabendo pela emissora estatal, mas eles não deixam ninguém se aproximar. Pude ver que policiais estavam muito nervosos. Do local dava para ouvir os tiroteios entre tropas do governo e rebeldes em outras regiões da cidade".

Nizar disse que os ativistas opositores têm encontrado dificuldades para registrar em vídeo os combates, devido à sua intensificação. "É impossível colocar o pé na rua, há muitos franco-atiradores dos dois lados".

Segundo ele, rebeldes usam táticas para realizar emboscadas aos veículos militares do governo. "Eles usam armas leves. A maioria carrega rifles automáticos, alguns poucos levam morteiros e lança-foguetes para destruir tanques".

"A maioria se mostra muito motivada, gritando que vai derrubar o regime em breve. Eu espero que isso aconteça", afirmou.

Comércio fechado

Segundo Nizar, tão logo os combates se intensificaram, o comércio fechou as portas e muitas pessoas não saíram mais de suas casas.

"A vida parou aqui em Damasco. Mesmo em bairros onde não há confrontos, as pessoas têm medo de sair às ruas".

Segundo ele, sírios a favor do presidente Assad se mostram abatidos e incrédulos com a a capacidade dos rebeldes de chegar tão longe dentro da capital.

"Até então, eles só assistiam aos noticiários da tevê estatal, que falava de pequenos grupos de terroristas. Agora, viram que é um exército, e bem organizado", afirmou o opositor.

Ali descreveu seu bairro como uma "cidade deserta". Afirmou também que muitas pessoas vêm deixando a cidade, levando seus pertences.

"Pessoas fugiram em grandes grupos. Meu pais, minha tia e meu irmão sairam da cidade e foram para os arredores, na casa de um parente nosso".

No entanto, segundo Ali, algumas pessoas decidiram apenas se esconder em suas casas e evitam ir às ruas. "Jovens até se aventuram nas ruas para dar apoio moral aos rebeldes, alguns protestos antigoverno até acontecem em al-Midan porque está sob controle da oposição".

Os dois opositores dizem esperar esperar que uma batalha muito maior esteja por vir, ja que o governo vem mobilizando blindados e helicópteros.

"Esta será sim uma batalha decisiva. Espero que o exército rebelde consiga sobreviver a uma ofensiva do governo", disse Ali.

"Se o Exército Livre (da Síria) não recuar, a moral ficará mais alta. E acho que o fim de Assad estará próximo", disse Nizar.