Transferida de hospital, menina blogueira faz Paquistão repensar relação com Talebã
A menina paquistanesa Malala Yousafzai, de 14 anos, baleada por membros do Talebã por defender a educação feminina, foi transferida nesta quinta-feira de helicóptero para um hospital militar mais bem equipado, segundo autoridades do país.
O ataque contra a menina blogueira, que narrava o cotidiano no vale do Swat, área de atuação do Talebã, motivou uma série de protestos em vários setores da sociedade paquistanesa contra o grupo extremista. Analistas apontam que um consenso mais amplo contra o Talebã pode estar sendo gestado no país.
Malala está em estado crítico após ter sido baleada na cabeça e no pescoço na terça-feira, depois de sair da escola, na região do vale do Swat, bastião de extremistas no Paquistão.
Médicos disseram que Malala ainda está inconsciente, mas moveu seus braços e pernas na noite passada. Um deles informou à agência France Presse que a menina tem "70% de chance de sobrevivência".
"Ela teve melhoras neurológicas significativas, mas os próximos dias serão críticos (para sua recuperação)", disse outro médico.
Agora, ela será tratada na UTI de um hospital militar da cidade de Rawalpindi.
Outras duas estudantes foram feridas no episódio, e uma continua em estado grave. O ataque a Malala provocou uma onda de protestos e críticas ao Talebã, que disse ter alvejado a menina por ela "promover o secularismo" e ser pró-Ocidente.
Um porta-voz do grupo radical disse que ela não será poupada caso sobreviva.
Em entrevista à BBC Urdu, a seção paquistanesa do Serviço Mundial da BBC, Ehsanullah Ehsan, porta-voz do Talebã, reiterou as ameaças à vida da menina e disse que "é uma regra muito clara da Sharia (a lei islâmica) que qualquer mulher, que por qualquer meio tenha um papel na guerra contra os mujahedins (termo pelo qual os militantes são conhecidos), deveria ser morta".
'Diário de uma estudante'
Malala tornou-se conhecida ainda em 2009, aos 12 anos, quando manteve o blog Diário de uma estudante paquistanesa na BBC Urdu.
Os depoimentos de Malala na época podem ser lidosaqui(em inglês).
Na época ela comentava os impactos na comunidade das medidas do Talebã, que naquele ano havia fechado mais de 150 escolas para meninas, e explodido outras cinco no vale de Swat.
O clima já era tenso na época e havia uma ameaça constante de que escolas de meninas pudessem ser alvo de ataques. Malala relatava na época que muitas de suas colegas haviam se mudado com suas famílias para cidades maiores como Lahore, Peshawar e Rawalpindi.
"Eu tive um sonho terrível ontem com helicópteros do Exército e o Talebã. Tenho tido esses sonhos desde o início da operação militar em Swat. Minha mãe fez meu café da manhã e eu fui para a escola. Estou com medo de ir à escola porque o Talebã emitiu um alerta banindo todas as meninas de frequentarem as escolas", dizia um post da garota no dia 3 de janeiro de 2009.
"Na volta da escola para casa, ouvi um homem dizendo 'eu vou te matar'. Eu acelerei o passo e depois de um tempo olhei para trás para ver se ele ainda me seguia, mas para o meu alívio ele estava falando com alguém no celular e deve ter ameaçado outra pessoa pelo telefone".
Para M Ilyas Khan, correspondente da BBC em Islamabad, a vida famíliar jamais será a mesma, e é provável que ela tenha que viver sob proteção policial ou seja forçada a buscar asilo político no exterior.
Nova posição frente ao Talebã
O ataque motivou uma série de protestos nas ruas de várias cidades do Paquistão e pode ter impactos na relação entre governo, parlamentares e o Talebã.
"A inabilidade do governo de reconstruir (as escolas) juntou-se à sua ambivalência em relação ao Talebã, o que deu espaço aos militantes para levarem a cabo atos de sabotagem com impunidade. A questão é: isso vai mudar a partir de agora?" questiona o correspondente.
"A tentativa de assassinato contra Malala Yousafzai chocou e irritou a nação. Há relatos do Parlamento sugerindo que um consenso mais amplo contra o Talebã pode estar sendo discutido - algo que os políticos paquistaneses nunca atingiram antes", acrescenta.
O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, disse que o ataque contra Malala não afetará a luta do país contra os militantes islâmicos e em favor da educação feminina. O governo também ofereceu uma recompensa do equivalente a cerca de R$ 200 mil reais por quem oferecer pistas sobre os agressores de Malala.
Já o diretor do Comitê Independente de Direitos Humanos do Paquistão, Zohra Yusuf, disse que "esse trágico ataque contra uma criança tão corajosa" envia uma mensagem assustadora para todos que lutam para as mulheres e meninas paquistanesas.
O crime também foi criticado pela maioria dos partidos políticos paquistaneses, celebridades de TV e outros grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional.
A campanha articulada de Malala em prol da educação de meninas lhe rendeu admiradores e reconhecimento dentro e fora do país. Ela apareceu em TVs nacionais e internacionais falando de seu sonho de um futuro em que a educação no Paquistão prevalecesse.
O ataque contra a menina blogueira, que narrava o cotidiano no vale do Swat, área de atuação do Talebã, motivou uma série de protestos em vários setores da sociedade paquistanesa contra o grupo extremista. Analistas apontam que um consenso mais amplo contra o Talebã pode estar sendo gestado no país.
Malala está em estado crítico após ter sido baleada na cabeça e no pescoço na terça-feira, depois de sair da escola, na região do vale do Swat, bastião de extremistas no Paquistão.
Médicos disseram que Malala ainda está inconsciente, mas moveu seus braços e pernas na noite passada. Um deles informou à agência France Presse que a menina tem "70% de chance de sobrevivência".
"Ela teve melhoras neurológicas significativas, mas os próximos dias serão críticos (para sua recuperação)", disse outro médico.
Agora, ela será tratada na UTI de um hospital militar da cidade de Rawalpindi.
Outras duas estudantes foram feridas no episódio, e uma continua em estado grave. O ataque a Malala provocou uma onda de protestos e críticas ao Talebã, que disse ter alvejado a menina por ela "promover o secularismo" e ser pró-Ocidente.
Um porta-voz do grupo radical disse que ela não será poupada caso sobreviva.
Em entrevista à BBC Urdu, a seção paquistanesa do Serviço Mundial da BBC, Ehsanullah Ehsan, porta-voz do Talebã, reiterou as ameaças à vida da menina e disse que "é uma regra muito clara da Sharia (a lei islâmica) que qualquer mulher, que por qualquer meio tenha um papel na guerra contra os mujahedins (termo pelo qual os militantes são conhecidos), deveria ser morta".
'Diário de uma estudante'
Malala tornou-se conhecida ainda em 2009, aos 12 anos, quando manteve o blog Diário de uma estudante paquistanesa na BBC Urdu.
Os depoimentos de Malala na época podem ser lidosaqui(em inglês).
Na época ela comentava os impactos na comunidade das medidas do Talebã, que naquele ano havia fechado mais de 150 escolas para meninas, e explodido outras cinco no vale de Swat.
O clima já era tenso na época e havia uma ameaça constante de que escolas de meninas pudessem ser alvo de ataques. Malala relatava na época que muitas de suas colegas haviam se mudado com suas famílias para cidades maiores como Lahore, Peshawar e Rawalpindi.
"Eu tive um sonho terrível ontem com helicópteros do Exército e o Talebã. Tenho tido esses sonhos desde o início da operação militar em Swat. Minha mãe fez meu café da manhã e eu fui para a escola. Estou com medo de ir à escola porque o Talebã emitiu um alerta banindo todas as meninas de frequentarem as escolas", dizia um post da garota no dia 3 de janeiro de 2009.
"Na volta da escola para casa, ouvi um homem dizendo 'eu vou te matar'. Eu acelerei o passo e depois de um tempo olhei para trás para ver se ele ainda me seguia, mas para o meu alívio ele estava falando com alguém no celular e deve ter ameaçado outra pessoa pelo telefone".
Para M Ilyas Khan, correspondente da BBC em Islamabad, a vida famíliar jamais será a mesma, e é provável que ela tenha que viver sob proteção policial ou seja forçada a buscar asilo político no exterior.
Nova posição frente ao Talebã
O ataque motivou uma série de protestos nas ruas de várias cidades do Paquistão e pode ter impactos na relação entre governo, parlamentares e o Talebã.
"A inabilidade do governo de reconstruir (as escolas) juntou-se à sua ambivalência em relação ao Talebã, o que deu espaço aos militantes para levarem a cabo atos de sabotagem com impunidade. A questão é: isso vai mudar a partir de agora?" questiona o correspondente.
"A tentativa de assassinato contra Malala Yousafzai chocou e irritou a nação. Há relatos do Parlamento sugerindo que um consenso mais amplo contra o Talebã pode estar sendo discutido - algo que os políticos paquistaneses nunca atingiram antes", acrescenta.
O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, disse que o ataque contra Malala não afetará a luta do país contra os militantes islâmicos e em favor da educação feminina. O governo também ofereceu uma recompensa do equivalente a cerca de R$ 200 mil reais por quem oferecer pistas sobre os agressores de Malala.
Já o diretor do Comitê Independente de Direitos Humanos do Paquistão, Zohra Yusuf, disse que "esse trágico ataque contra uma criança tão corajosa" envia uma mensagem assustadora para todos que lutam para as mulheres e meninas paquistanesas.
O crime também foi criticado pela maioria dos partidos políticos paquistaneses, celebridades de TV e outros grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional.
A campanha articulada de Malala em prol da educação de meninas lhe rendeu admiradores e reconhecimento dentro e fora do país. Ela apareceu em TVs nacionais e internacionais falando de seu sonho de um futuro em que a educação no Paquistão prevalecesse.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.