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Obama promete rever espionagem, mas diz que mundo hoje é mais estável

24/09/2013 15h47

Minutos depois de a presidente Dilma Rousseff afirmar na ONU que a espionagem dos Estados Unidos representa uma violação dos direitos humanos e da soberania de outros países, o presidente americano, Barack Obama, defendeu nesta terça-feira que o mundo é hoje "mais estável" por causa das ações americanas na política internacional.

Obama, porém, lembrou a promessa de seu governo de fazer uma revisão das práticas da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), órgão ao qual são atribuídas as atividades de espionagem que tiveram como alvo, segundo documentos vazados pela imprensa, até mesmo Dilma e a Petrobras.

"Assim como revemos a forma como utilizamos nossas capacidades militares extraordinárias para que estejam à altura dos nossos ideais, começamos a rever a maneira como coletamos inteligência, para equilibrar de forma apropriada as preocupações legítimas de segurança de nossos cidadãos e aliados com as preocupações de privacidade que todos compartilhamos", disse Obama à Assembleia Geral da ONU.

"Como resultado desse trabalho e da cooperação com aliados e parceiros, o mundo é mais estável do que era cinco anos atrás."

"Basta um olhar sobre as manchetes de hoje para verificar que os perigos ainda persistem", completou, citando o atentado em um shopping center no Quênia como exemplo dos "riscos" de extremismo e sectarismo que ainda existem globalmente.

"Excepcionalismo"

As declarações de Obama não foram uma resposta direta, mas sim uma sutil referência à onda de críticas desatada contra a Casa Branca pelas atividades de espionagem da NSA - inclusive as feitas por Dilma na Assembleia Geral.

Em seu discurso, a presidente enfatizou que "jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra soberania."

"Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outros países", declarou.

Em seu discurso, Obama apelou para o "excepcionalismo americano" - a doutrina segundo a qual os EUA são diferentes de todos os outros países e têm a obrigação moral de levar o mundo rumo à democracia e à liberdade - para justificar as ações de seu país no cenário global.

O presidente americano disse que os EUA têm "humildade quando se trata de determinar os eventos dentro de outros países", mas defendeu que o erro maior seria deixar o mundo à mercê dos riscos existentes.

Foco no Oriente Médio

O grosso do discurso de Obama na ONU foi dedicado ao Oriente Médio, região na qual ele disse que seu país concentrará esforços diplomáticos.

Obama disse que não tem interesse em mudar o regime no Irã nem impedir o país de ter acesso a tecnologia nuclear para fins pacíficos. Mas insistiu que o governo iraniano cumpra suas responsabilidades para com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Ele elogiou os sinais de moderação do recém-eleito presidente, Hassan Rouhani, mas disse que "palavras de conciliação precisam ser acompanhadas de ações transparentes e verificáveis".

Obama também falou extensamente sobre a Síria, país que esteve a ponto de bombardear, não fosse um inesperado acordo negociado entre Washington e Moscou mediante o qual o regime sírio entregará suas armas químicas.

Obama disse que seus únicos interesses no país são eliminar o perigo deste arsenal, garantir a segurança do povo sírio e dos aliados regionais dos EUA, e evitar que o país em crise vire um refúgio para grupos terroristas.

"Não há Guerra Fria, não há nenhum jogo maior a ser ganho", disse o presidente americano.

Mas ele qualificou de "fantasia" a ideia de que o presidente sírio Bashar al-Assad possa continuar no poder depois de um conflito que deixou mais de 100 mil mortos, nas estimativas da ONU.

Sobre o conflito entre israelenses e palestinos, Obama disse que, "da mesma forma que os palestinos não devem ser deslocados, o Estado de Israel está aqui para ficar".

Abordagem 'mais ampla'

O presidente americano também indicou que entende as críticas aos EUA na sua política para o Egito, país cujo presidente, Mohammed Morsi, foi derrubado por um regime militar.

Washington tem sido questionado por não remover ajudas ao país que deveriam ser interrompidas em caso de golpes militares.

Obama afirmou que suas decisões em relação ao Egito refletem uma abordagem "mais ampla" da política americana para o Oriente Médio.

"Os EUA vão, às vezes, trabalhar com governos que não cumprem, pelo menos do nosso ponto de vista, as expectativas internacionais mais altas, mas que querem trabalhar conosco em nossos interesses fundamentais", disse o presidente.

"Ao mesmo tempo que reconhecemos que nossa influência às vezes será limitada, e embora desconfiemos de esforços para impor a democracia pela força militar, e embora às vezes sejamos acusados de hipocrisia e inconsistência, vamos continuar engajados na região no longo prazo."

"Alguns podem discordar, mas acredito que os EUA são excepcionais, em parte porque demonstramos o desejo, através do sacrifício de sangue e riqueza, de defender não apenas nosso interesse próprio, mas os interesses de todos."