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Onda antissemita faz milhares trocarem França por Israel

Daniela Fernandes

De Paris para a BBC Brasil

14/09/2014 07h06Atualizada em 24/09/2014 13h29

Os atos antissemitas quase dobraram neste ano na França, segundo levantamento feito pelo Conselho Representativo das Instituições Judaicas (CRIF) do país, baseado em dados do Ministério do Interior francês.

Para organizações judaicas francesas, esta onda de antissemitismo é a principal razão do significativo aumento no número de pessoas que trocam o país por Israel.

Nos primeiros sete meses deste ano, foram registrados 527 episódios antissemitas – agressões, vandalismos em sinagogas ou ameaças –, um aumento de 91% em relação ao mesmo período de 2013.

O aumento de 126% nos ataques mais violentos (atentados ou tentativas, incêndios, agressões e vandalismo) foi ainda mais acentuado, que o de ameaças (gestos e insultos, cartas ou cartazes), que cresceram 79%.

'Fenômeno de massa'

"O antissemitismo se tornou um fenômeno de massa. É uma realidade que se instala cada dia mais profundamente e de maneira duradoura na França", afirmou o CRIF em um comunicado.

"O mais preocupante são as novas formas de violência: ataques grupais a locais de culto, agressões planejadas contra sinagogas, atos de vandalismo contra lojas de comerciantes judeus e atentados terroristas.”

Segundo os cálculos destas organizações judaicas, cerca de 5,5 mil pessoas devem se mudar da França neste ano e realizar a "aliyah" (ida para Israel) por causa do antissemitismo.

"O governo está determinado a combater esse ódio. Desde maio, a proteção de todos os locais de culto foi reforçada", afirmou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, ao jornal Le Monde.

"A polícia pode informar à Justiça sobre essas ações, mesmo se não houver prestação de queixa, para que nenhum ato racista ou antissemita fique sem punição."

De acordo com o Serviço de Proteção da Comunidade Judaica, que detalhou o número de atos antissemitas na França, houve dois picos importantes de aumento da violência neste ano.

O primeiro ocorreu em janeiro, quando o governo decidiu proibir um espetáculo, fato raro na França, do polêmico humorista Dieudonné, ligado a correntes que negam o Holocausto e conhecido fazer piadas consideradas antissemitas.

Dieudonné atrai em suas apresentações muitos jovens de periferias pobres da França, onde vivem muitas pessoas de origem muçulmana.

O segundo pico de atos antissemitas ocorreu em julho, durante manifestações de apoio aos palestinos, em reação aos ataques militares israelenses à Faixa de Gaza.

A França possui a maior comunidade muçulmana da Europa, estimada em mais de 6 milhões de pessoas e também a maior comunidade judaica do continente, com cerca de 500 mil judeus.

Inglaterra

No Reino Unido, também houve um pico recorde de atos antissemitas em julho.

Segundo a Community Security Trust (CST), que cuida da proteção da comunidade judaica britânica, houve 302 atos antissemitas, o número mais elevado já registrado em um mês.

Em julho de 2013, ocorreram 59 atos antissemitas no país, de acordo com a associação.

Em agosto, foram registrados 150 atos contra judeus no Reino Unido, o que representa o terceiro mês com maior números de agressões no levantamento da CST, realizado desde 1984.

Quase dois terços dos atos antissemitas de julho passado foram registrados em Londres e seus arredores.

Um terço dos incidentes envolveu "imagens ou linguagem relativa ao Holocausto", diz a CST.

Cartas com ameaças foram enviadas a sinagogas, que também foram alvo de pichações nas paredes, entre outros atos de vandalismo.