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Campanha anticorrupção ameaça servidores em meio a alta de suicídios na China

22/10/2014 17h38

Carrie Grace

Editora de China da BBC

Para a China e o mundo, Dong Xuegang é apenas um número.

Na manhã de 14 de setembro, Dong, um funcionário de nível médio na cidade de Yuncheng, na província de Shanxi (nordeste da China), pulou para a morte de sua janela, no 9º andar, deixando a esposa e o filho, aos 51 anos.

Na noite anterior, ele havia sido interrogado por investigadores do Partido Comunista, devido a suspeitas de que havia recebido propina de empreendedores imobiliários e subornado seu superior para receber uma promoção.

Especialistas dizem que isso é consequência da pressão da batalha anticorrupção do presidente Xi Jinping.

Xi Jinping prometeu tolerância zero à corrupção entre os membros do partido e avisou que estava indo atrás de "ambos os tigres e as moscas", ou seja, tanto os suspeitos com posições mais altas na hierarquia quanto aqueles na base do sistema.

Os dados são incompletos, mas sugerem que a taxa de suicídio entre funcionários do Partido Comunista e do governo pode ser 30% superior a média observada do resto da população urbana da China.

Pressão

A mídia estatal amplifica a pressão com a cobertura diária de prisões, investigações, julgamentos e sentenças.

O Partido Comunista Chinês não lamenta os danos colaterais em vidas humanas. Xi Jinping disse que esta é uma batalha de vida ou morte para a sobrevivência do próprio partido.

Há 65 anos, a revolução foi saudada por muitos chineses porque eles viram o Partido Comunista como menos corrupto e mais comprometido com a justiça social que o governo nacionalista anterior.

Agora, a China é uma das sociedades mais desiguais do mundo, e o partido é acusado de ser uma máquina para o autoenriquecimento daqueles que o controlam.

Desde que chegou ao poder há dois anos, Xi Jinping embarcou numa missão pessoal para reconstruir o Partido Comunista e ajustá-lo ao século 21. A província de Shanxi tem sido tratada como a linha de frente da campanha anticorrupção da China. A região enriqueceu baseada no setor de mineração e construção civil, assim como seus dirigentes partidários. Os negócio na região operam à base de propina.

Mas agora Shanxi vive uma sequência impressionante de prisões – que atingem desde o secretário do partido na província ao chefe de polícia e seus subordinados. Todos temem ser o próximo.

"Ele entrou em pânico." Essa é a avaliação de Gao Qinrong, o jornalista investigativo que revelou a história do suicídio de Dong Xuegang.

Gao cumpriu oito anos de prisão depois de expor a corrupção de um chefe local do partido e ainda recebe ameaças de morte de inimigos poderosos.

Mas ele diz que a campanha anticorrupção do presidente está funcionando e o suicídio de Dong Xuegang é mais uma prova disso.

"Você pode achar que a morte seria a perspectiva mais assustadora, mas esses funcionários estão com medo de perder sua fortuna e sua reputação e também teme serem forçados a dar informações sobre outros."

"Eles simplesmente não conseguem viver enfrentando tudo isso. Preferem acabar com tudo rapidamente", disse ele.

Medo e honestidade

Gao Qinrong acredita que o medo pode fazer o partido honesto. Nós conversamos do lado de fora dos altos muros da prisão de Shanxi, onde ele esteve preso, com guardas armados nos observando das torres de vigilância. Ele disse que há agora 60 funcionários do Partido Comunista cumprindo pena ali por corrupção.

"Foi uma experiência muito dolorosa estar na prisão, porque eu sabia que era inocente. Eu até pensei em me matar, mas eu aprendi sozinho a ficar forte", disse ele. "Acredito que a política de Xi Jinping de tolerância zero pode mudar as coisas."

Mudar a cultura do Partido Comunista chinês é uma tarefa hercúlea, e há críticos de que Xi Jinping está conduzindo mal a campanha.

Alguns membros do partido se queixam de que as ações são muito duras e prejudicam o crescimento econômico. Há os que o acusam também de estar usando as investigações anticorrupção para abater seus inimigos políticos.

Críticos de fora do partido dizem que Xi Jinping faz sua campanha em nome do Estado de direito, mas dirige uma máquina investigativa que responde apenas a si mesmo.

Além do mais, advogados e jornalistas que lutam por uma maior transparência têm sido presos em seu governo.

Mas o professor Wang Yukai, da Academia de Governança da China, diz que os críticos deveriam parar, pois a sobrevivência do Partido Comunista está em jogo e o presidente tem apoio público.

Enquanto Pequim se prepara para uma reunião vital da liderança do Partido Comunista nesta semana, a luta contra a corrupção continua no topo da agenda.