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Premiê sérvio é atacado em cerimônia dos 20 anos do massacre de Srebrenica

O premiê da Sérvia, Aleksandar Vucic, foi atacado durante uma cerimônia, neste sábado (11), para marcar o 20º aniversário do genocídio de Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina - Marko Drobnjakovic/AP
O premiê da Sérvia, Aleksandar Vucic, foi atacado durante uma cerimônia, neste sábado (11), para marcar o 20º aniversário do genocídio de Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina Imagem: Marko Drobnjakovic/AP

11/07/2015 15h22

O primeiro-ministro da Sérvia, Aleksandar Vucic, foi atacado por uma multidão durante uma cerimônia para marcar o 20º aniversário do genocídio de Srebrenica na Bósnia-Herzegovina.

Garrafas, pedras, sapatos e outros objetos foram atirados contra o premiê, que teve de sair correndo, protegido por seus seguranças, do cemitério na região de Srebrenica, onde 136 vítimas do massacre estão enterradas.

Vucic foi atingido na cabeça por uma pedra, e seus óculos foram quebrados, enquanto muitos gritavam ofensas ou palavras como "genocídio", em referência ao massacre.

O ministro do Interior da Sérvia, Nebojsa Stefanovic, descreveu o ataque ao premiê como "escandaloso", dizendo que foi comparável a uma tentativa de assassinato.

Em 1985, durante a Guerra da Bósnia (1992-1995), cerca de 8.000 homens e meninos muçulmanos foram mortos em Srebrenica pelo Exército bósnio da Sérvia, no que é considerada a maior atrocidade já cometida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Na época, os bósnios muçulmanos buscaram abrigo junto às forças de paz holandesas ligadas à ONU, já que a organização havia declarado Srebrenica uma "área segura" para civis. No entanto, os civis acabaram sendo mortos por forças sérvias que realizavam uma limpeza étnica na região.

No ano passado, o Tribunal de Haia considerou a Holanda culpada pela morte de mais de 300 homens e meninos muçulmanos bósnios em Srebrenica. No entanto, o Estado holandês foi eximido da culpa pelo destino de outros cerca de 7.000 homens que morreram na região, mas que não buscaram abrigo no complexo e, em vez disso, fugiram para a mata nos arredores.

Genocídio

Vucic já havia divulgado um comunicado condenando as mortes e dizendo que o que ocorreu foi um "crime monstruoso". No entanto, ele evitou o termo genocídio.

De volta a Belgrado, capital da Sérvia, Vucic pediu aos sérvios que não odiassem os bósnios muçulmanos e disse que continuaria a trabalhar pela reconciliação dos dois povos.

Vucic é um ex-nacionalista racial sérvio, que entre 1998 e 2000 foi ministro da Informação no governo de Solobodan Milosevic. Agora, ele é um político pró-Ociente que busca integrar a Sérvia à União Europeia.

Clinton

O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que está em Srebrenica, descreveu a presença de Vucic como um passo em direção à reconciliação. Ele também se desculpou por ter demorado tanto para colocar um fim à guerra.

Segundo Guy Delauney, correspondente da BBC em Srebrenica, o ataque ao premiê ilustra bem o quanto é difícil a reconciliação na Bósnia e em toda a região.

"Dezenas de milhares de pessoas vieram aqui para homenagear as vítimas de Srebrenica e mostrar solidariedade a essa cidade. Eles ouviram líderes internacionais falarem das cenas de horror que ocorreram aqui e de como isso não deveria se repetir", disse Delauney. "Mas muitos dos que estavam ali se revoltam com o fato de a Sérvia nunca usar o termo genocídio para Srebrenica. E, como já era esperado, Vucic foi hostilizado pela multidão. O imã que estava no local lembrou a todos que o momento era de se fazer orações. Mas o ódio aqui ainda permanece."