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Seis coisas que você precisa saber sobre o Mali

20/11/2015 21h38

Encrustado no oeste da África, o Mali tomou o noticiário internacional nesta sexta-feira após um grupo armado cercar um hotel em sua capital, Bamako.

Durante o cerco, mais de 170 pessoas foram feitas reféns e ao menos 18 foram mortas. O ataque occorreu às 8h, hora local, quando o grupo entrou no Radisson Blue, gritando "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe).

A Al-Qaeda do Magreb Islâmico e um de seus ramos na região, o grupo radical islâmico Al-Murabitoun, reivindicaram a autoria do atentado.

Mas qual o contexto desse ataque? Que cenário politico-econômico permitiu o cerco?

1) França tem tropas no país

Em janeiro de 2013, a França enviou tropas ao Mali (que é uma ex-colônia francesa) para combater radicais islâmicos, que haviam capturado diversos territórios ao norte do país.

Um dos locais capturados pelos extremistas ligados à Al-Qaeda foi a antiga cidade de Timbuktu, que fica no deserto e é um centro histórico do estudo do islamismo, a 1 mil quilômetros ao norte da capital Bamako.

O nome Timbuktu é usado em algumas culturas ocidentais como referência para um lugar que é muito distante.

2) Grupos rebeldes atuam no país há anos

O Mali tem sido palco de revoltas de grupos extremistas islâmicos ligados a um braço do Al-Qaeda na África. Em outubro de 2011, rebeldes da etnia tuaregue lançaram uma rebelião após conseguirem armas na Líbia.

No ano seguite, tuaregues e rebeldes ligados a Al-Qaeda tomaram o controle do norte do país. Meses depois, grupos islâmicos capturaram Timbuktu, Kidal e Gao, que estavam sob o controle dos tuaregues, e começaram a destruir lugares e manuscritos sagrados para os muçulmanos, além de imporem a sharia, como é chamada a lei islâmica.

Em 2013, a pedido do governo do país e com o aval da ONU, tropas francesas intervieram no conflito, com bombardeios a posições rebeldes. Algumas tropas ainda permanecem no país africano, ao lado também de tropas da ONU. Mas, embora a insurgência islâmica tenha sido controlada, ainda há ataques esporádicos.

Em março do ano passado, um grupo islamista assumiu a autoria de um ataque a um restaurante popular entre estrangeiros em Bamako, em que cinco pessoas morreram. 

3) É ali que atua a missão mais perigosa da ONU

Na cidade de Timbuktu, no norte do país, a areia do Deserto do Sahara levada pelo vento rapidamente cobre as pegadas de traficantes e jihadistas, que agem sem problemas neste que é um dos lugares mais inóspitos do planeta.

Um local que foi "colocado no mapa" por conta de uma mistura envolvendo tráfico de drogas e a influência de extremistas islâmicos.

Diante de tal cenário, a França resolveu intervir militarmente, e a ONU enviou uma missão de paz, que rapidamente se transformou na missão mais perigosa da organização em todo o mundo.

Na missão no Mali, 53 soldados capacetes-azuis foram mortos. Na missão no Sudão, feita em parceria com a União Africana, foram 48 mortes. Na República Democrática do Congo, foram 18 mortos, enquanto no Sudão do Sul, 17 e na Costa do Marfim, 16.

4) Antes, um passado de glória

Entre os anos de 1200 e 1600, Mali foi um dos maiores impérios da África Ocidental, produzindo quase metade do ouro no mundo no século 14. Até hoje, o país é o terceiro maior produtor mundial de ouro.

Ainda no século 14, um rei que governou o oeste da África e que vivia na região onde fica hoje o Mali teria sido o homem mais rico do planeta, segundo o site americano CelebrityNetworth.com, que reúne informações sobre fortunas de personalidades diversas.

Em valores reajustados segundo a inflação atual, a fortuna pessoal de Mansu Musa I valeria o equivalente a US$ 400 bilhões (R$ 815,3 bilhões) na ocasião de sua morte, em 1331.

Nascido em 1280, Musa, que ganhou o título de Mansu, que significava "rei dos reis", foi o comandante do império mali por 25 anos. Seu reino englobava o território atualmente formado por Gana, Mali e regiões ao redor.

Musa foi um devoto muçulmano que ajudou a difundir a fé islâmica pela África e fez do império mali uma potência. Ele investiu fortemente na construção de mesquitas e escolas e fez da capital de seu império, Timbuktu, um centro de comércio, saber e peregrinação religiosa.

O império de Musa foi responsável pela produção de mais da metade do suprimento mundial de ouro e sal, de onde o governante tirou boa parte de sua grande fortuna.

5) Hoje, um dos países mais pobres do mundo

No fim dos anos 90, o país passou por um rápido crescimento econômico, aliado a um florescimento da democracia e uma relativa estabilidade social.

Isso tudo ruiu em 2012, quando o controle do norte entrou em colapso, seguido por um golpe militar inconclusivo e uma intervenção militar francesa contra os combatentes islâmicos que ameaçavam avançar para o sul.

Apesar de um governo civil ter sido restabelecido no verão de 2013, uma frágil trégua com os separatistas tuaregues foi rompida.

Além dos conflitos e golpes de Estado, o Mali vem sendo castigado nas últimas décadas por secas severas. O país está entre os 25 mais pobres do mundo e é altamente dependente da mineração de ouro e da exportação de artigos agrícolas como o algodão.

6) Reconhecido mundialmente por sua música

O país é internacionalmente reconhecido por ter produzido algumas das principais estrelas da música africana, como Salif Keita, Ali Farka Toure e Toumani Diabate.

Além disso, é conhecido pelo "Festival in the Desert" (festival no deserto, em inglês), um evento que reúne bandas de diversas partes do mundo, mas que está suspenso há três anos, justamente por conta da violência no norte do país.