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Direitos sobre "Mein Kampf" expiram e manifesto de Hitler será publicado na Alemanha

Livro "Mein Kampf" ("Minha Luta", em alemão), escrito por Adolf Hitler - Wikicommons
Livro "Mein Kampf" ("Minha Luta", em alemão), escrito por Adolf Hitler Imagem: Wikicommons

01/01/2016 11h28

Pela primeira vez em 70 anos, o manifesto nazista Mein Kampf (Minha Luta, em português), de Adolf Hitler, poderá ser comprado na Alemanha.

A obra antissemita, que teve sua reprodução proibida após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se domínio público após a expiração dos direitos autorais, e será publicada pelo Instituto de História Contemporânea de Munique.

O objetivo da versão, que terá anotações, "é mostrar que o texto é incoerente e ruim, ao invés de poderoso e sedutor" e novas versões também deverão ser publicadas em outros países.

Apesar disso, autoridades alemãs dizem que irão limitar o acesso público ao texto em meio a temores de que poderá incentivar sentimentos neonazistas.

Historiadores dizem que o livro ajuda acadêmicos entenderem o que aconteceu no período nazista. Muitos grupos judeus elogiaram a medida, e disseram ser importante ter acesso à edição crítica para ajudar a explicar o Holocausto.

"Eu ficaria nervoso sobre qualquer coisa que possa glorificar o Holocausto ou promover Hitler. Mas eu acredito que não vai ser isso. Vai ser uma versão acadêmica anotada, disponível para estudantes, acadêmicos não para promover as visões de Hitler mas para colocá-las em contexto histórico", disse à BBC Richard Verber, vice-presidente do Conselho de Representantes dos Judeus Britânicos.

"Espero que essa edição sirva como alerta sobre o que extremismo pode alcançar, e claro, se olhamos para a Europa como um todo, a extrema-direta parece estar ganhando espaço".

Verber, no entanto, se diz contrário à ideia de que os livros sejam disponibilizados para alunos em sala de aula ou que as novas versões sejam impressas sem as anotações contextuais.

'Incitação ao racismo'

Hitler começou a escrever Mein Kampf em 1925, quando estava preso por traição à pátria, após ter participado do fracassado 'Putsch' da Cervejaria em Munique, em 1923. Ali ele expressava suas ideias racistas e antissemitas.

Quando chegou ao poder uma década depois, o livro tornou-se um texto fundamental para os nazistas, com 12 milhões de cópias impressas.

Era um presente que o governo dava a casais recém-casados, enquanto os principais membros do partido exibiam em suas casas edições folheadas a ouro.

Em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, quando o Exército americano assumiu o controle da editora nazista Eher Verlag, os direitos autorais de Mein Kampf passaram para as autoridades da Baviera. Elas garantiram que o livro só fosse reimpresso na Alemanha sob circunstâncias especiais.

Desde então, autoridades locais proibiam que o livro fosse republicado para evitar incitação ao racismo, apesar do fácil acesso ao livro, que foi publicado em outros países, como o Egito.

Sob as leis europeias, os direitos de um autor de um trabalho literário ou musical são válidos durante a vida do autor e por 70 anos após sua morte -- no caso de Hitler em 30 de abril de 1945, quando ele se matou em Berlim. Os direitos expiram no primeiro dia de janeiro, 70 anos após a morte do autor.