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Venezuela: Quem é o cérebro da política de Maduro para tentar salvar a economia

17/01/2016 11h17Atualizada em 17/01/2016 14h42

Ele quer "aprofundar a revolução". Aumentar a intervenção do Estado na economia no lugar de reduzi-la. E concorda com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que uma "guerra econômica" impulsionada pela "burguesia parasita" é a origem da crise.

Este é Luis Salas, o novo ministro da Economia venezuelano e o cérebro por trás da nova política de Maduro para fazer frente aos problemas econômicos que afetam o país.

Na sexta-feira, a Venezuela declarou estado de emergência econômica em todo o território nacional por 60 dias.

O decreto não especifica se haverá alguma mudança drástica na política econômica do país, mas se especula que o país planeje uma desvalorização cambial e elevação no preço subsidiado dos combustíveis.

No mesmo dia, o Banco Central da Venezuela revelou dados sobre a inflação do país, que chegou a 141% em setembro de 2015 e é a mais alta do mundo.

Salas, um sociólogo de esquerda, foi nomeado na primeira semana de janeiro por Maduro em meio a uma reestruturação de seu gabinete, após a posse da Assembleia Nacional, que pela primeira vez é dominada pela oposição.

Sua nomeação causou rejeição em setores da oposição e preocupação entre alguns economistas.

O novo ministro, que é fundador do centro de Economia Política da Universidade Bolivariana da Venezuela, parece mais jovem do que é: tem 39 anos.

Maduro diz acreditar que ele é a melhor pessoa para solucionar a crise econômica que afeta o país e que, em sua opinião, só terá fim desmantelando o Estado Burguês e estabelecendo um Estado Comunal.

Os ensaios de Salas estão publicados na internet. Neles, o sociólogo não só retifica o modelo econômico socialista implantado pelo chavismo, como defende um aprofundamento da revolução.

"Não tem muito sentido continuar falando de 'inflação e escassez' quando estamos realmente falando de especulação, ganância e monopólio", afirma, em um deles.

Com a teoria do Estado Comunal, o governo também justifica a criação do Parlamento Comunal, que opositores enxergam como uma forma de suplantar a Assembleia Nacional.

'Participação popular'

A crise econômica é a maior preocupação do venezuelanos e, segundo alguns analistas, a razão pela qual a oposição teve ampla maioria nas eleições parlamentares em dezembro.

Ao expor seu plano econômico no início de janeiro, Maduro disse que esperava decretar emergência econômica em breve e que vai "combater" a chamada guerra econômica "reforçando o poder do povo para impulsionar a produção".

O presidente venezuelano afirmou ainda que o tipo de economia que é preciso desenvolver no país é a que tem nascido artesanalmente em meio à crise.

Por causa da escassez, muitos venezuelanos fabricam detergente, sabão e alguns remédios. O próprio presidente afirma usar xampu artesanal.

Uma "economia de participação popular" é sua proposta para acabar com a dependência da burguesia, que seria a responsável pela atual situação.

A crise, que Maduro já não nega, é profunda e também sofreu o impacto da redução de cerca de 60% no preço do petróleo --a maior fonte de divisas de um país que importa a maior parte do que consome-- no último ano.

Contra a maré

Economistas críticos ao atual governo recomendaram, como medidas urgentes, reduzir os gastos públicos, unificar as atuais quatro taxas de câmbio, subir o preço da gasolina, que é muito baixo, e deixar de financiar o deficit fiscal com a impressão de dinheiro por parte do Banco Central.

Nada disso vai na linha do que propõe Luis Salas, que também não reconhece vários dos problemas que, segundos os mesmos economistas, se resolveriam com tais medidas de ajuste.

Salas, na verdade, escreveu ensaios criticando a ala do chavismo que propôs a unificação das quatro taxas de câmbio --um esquema que, para os críticos, é fonte de inflação, corrupção e distorções econômicas.

Maduro afirma que Salas "estudou com profundidade os fenômenos do rentismo petroleiro (dependência da renda gerada pelo petróleo) e seu esgotamento e os fenômenos da guerra econômica".

Nesse sentido, segundo o presidente, seu novo ministro teria concluído que a inflação, por exemplo, não seria produto do alto gasto público do governo e da impressão de dinheiro, mas sim uma consequência da especulação e da cobiça de alguns monopólios do setor privado.

"A classe empresarial venezuelana é uma classe boa-vida e malcriada que ao longo do tempo se transformou em um tumor econômico que vive da renda petroleira e de tirar o salário dos trabalhadores e trabalhadoras através da especulação", escreve Salas em um dos seus ensaios.

"O fim último da guerra econômica empreendida pela burguesia parasita é a consolidação das condições sociais de reprodução e da exploração dos grupos concentrados, transnacionais, mafiosos e especulativos sobre a sociedade."

Por isso, o sociólogo nomeado ministro propõe reforçar os controles dos preços e das importações para aumentar a intervenção do Estado na economia.

Segundo ele, "derrotar a guerra econômica" passaria por dois mecanismos: tirar os consumidores da dependência do setor privado e gerar uma mobilização popular em defesa dos direitos coletivos.