Brasileiros e Trump: imigrantes contam por que amam (ou odeiam) empresário
Ao propor deportar todos os imigrantes sem vistos, erguer um muro na fronteira com o México e barrar a entrada de muçulmanos, o pré-candidato à Presidência americana Donald Trump despertou a ira de muitos estrangeiros que moram nos Estados Unidos.
Mas isso não impediu que imigrantes brasileiros endossassem Trump em sua vitória na primária do Partido Republicano na Flórida, resultado que o deixou bem perto de concorrer à eleição em novembro.
"Ele não é contra o imigrante, ele é contra o imigrante ilegal", diz à BBC Brasil a estudante paulista Beatriz Coppola, 28.
Registrada como eleitora republicana, Coppola votou em Trump na prévia da Flórida em 15 de março e integrou o grupo de voluntários da campanha do empresário nos arredores de Miami.
"Não temos como bancar todas as pessoas que não estão pagando impostos e estão sugando a América", justifica. Coppola se tornou cidadã americana há alguns anos e votará para presidente pela primeira vez em novembro.
A estudante pertence a um grupo minoritário - embora cada vez mais visível - de brasileiros nos Estados Unidos que professam ideais conservadores e rejeitam o Partido Democrata, dono dos votos da maioria dos imigrantes no país.
Até agora eleitores latino-americanos têm expressado preferência nas prévias pela pré-candidata democrata e ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que disputa a vaga com o senador Bernie Sanders e ganhou a primária do partido na Flórida.
Participação recorde
O consulado do Brasil em Miami estima que 350 mil brasileiros morem na Flórida. Grande parte do grupo está em situação migratória irregular, mas o número de brasileiros legalizados e capazes de votar tem crescido.
Líderes comunitários esperam uma participação recorde de brasileiros no próximo pleito. "Com certeza a nossa comunidade fará uma grande diferença nas eleições deste ano", diz à BBC Brasil o baiano Silair Almeida, pastor da Primeira Igreja Batista Brasileira de Pompano Beach.
Só estrangeiros que obtenham a cidadania americana podem se tornar eleitores. O voto é facultativo nos Estados Unidos.
Almeida afirma que 80% dos fiéis brasileiros da igreja são cidadãos americanos e votarão em novembro.
À saída de um culto há duas semanas, a maioria dos brasileiros abordados dizia apoiar Hillary, mas alguns pregavam o voto em políticos republicanos por sua defesa de valores conservadores.
"A família é uma instituição básica da sociedade. Não podemos abrir mão do casamento entre homem e mulher", diz o autônomo Márcio Rodrigues, que mora nos Estados Unidos há 28 anos e espera que o senador Ted Cruz (Texas) se torne presidente.
As propostas de Cruz para a imigração são consideradas tão restritivas quanto as de Trump.
"Como imigrante gostaria que todos os que moram aqui pudessem conseguir a cidadania, mas ao mesmo tempo é preciso fechar as portas", afirma Rodrigues. Para ele, a entrada desordenada de pessoas pela fronteira com o México gera insegurança.
De Sanders a Trump
Eleitor de Trump e morador de Greenacles, o empresário paulistano Francesco Paciletti se diz preocupado não só com o risco de atentados nos Estados Unidos, mas com as ameaças enfrentados por americanos no exterior.
Casado com uma americana e pai de três filhas nascidas na Flórida, Paciletti afirma que a família jamais deixou o país por temer ataques.
O empresário - que vende materiais em mármore e granito - diz ter cogitado apoiar a candidatura de Bernie Sanders, atraído pelo caráter do senador. Sanders se define como socialista-democrático e é considerado o candidato mais à esquerda na disputa.
Mas Paciletti acabou optando por Trump porque o senador "não tem tino comercial".
Para o empresário, as propostas de Trump não devem ser levadas ao pé da letra. "Não acredito que ele vá banir os muçulmanos ou que vá cobrar do México a conta dessa muralha. É uma estratégia de marketing para os pontos dele subirem e ele conquistar o povo americano."
Outros fatores citados por apoiadores de Trump como razões para votar nele são seu sucesso como empresário e sua proposta de cortar impostos.
"Não gosto do assistencialismo democrata", diz a ex-trabalhadora doméstica paranaense Solange Colishesky, que também votou no empresário na primária da Flórida.
Nos Estados Unidos há quase três décadas, ela se diz entusiasta da "ideia de deixar o povo assumir mais (o poder) que o governo".
Reduzir a interferência do Estado e ampliar a autonomia dos cidadãos são dois pilares do Libertarianismo, uma corrente popular entre conservadores americanos. O grupo ficou órfão na corrida presidencial com a desistência do senador republicano Rand Paul, em fevereiro.
Contra-ofensiva democrata
Enquanto brasileiros que apoiam candidatos republicanos se tornam mais vocais, outros membros da comunidade se articulam para garantir que a Presidência continue em mãos democratas.
A assessora jurídica Isabel Ferreira, militante do partido na Flórida, lidera um grupo de voluntários que ajuda brasileiros a se cadastrar como eleitores para que possam votar em Hillary.
Ela aborda os imigrantes nas ruas ou em eventos, oferecendo auxílio para preencher formulários e entregar a documentação para o pedido de título de eleitor.
Ferreira estima que metade dos brasileiros aptos a votar nos Estados Unidos jamais se cadastraram por desinformação ou falta de interesse.
Para ela, não há nenhuma razão para que imigrantes brasileiros votem em Trump. "Muitas pessoas estão frustradas com elas mesmas, querem ser ricas e encontraram um ídolo. Mas elas não estão pisando no chão."
O pastor Silair Almeida é mais direto. "Trump é um idiota: não respeita minorias, é racista, não sabe lidar com a diversidade e levará o país ao caos se ganhar."
Almeida diz que, embora rejeite várias posições de Hillary, ela é a candidata que melhor atenderia os interesses dos imigrantes.
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