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Contra Trump, democratas se unem em convenção que deve chancelar Hilllary

Embora não seja unanimidade, Hillary deve contar com apoio massivo na convenção democrata  - Lucas Jackson/Reuters
Embora não seja unanimidade, Hillary deve contar com apoio massivo na convenção democrata Imagem: Lucas Jackson/Reuters

Joao Fellet

Da BBC Brasil

25/07/2016 07h47

A ex-secretária de Estado Hillary Clinton não é unanimidade entre os eleitores do Partido Democrata e enfrentou uma longa disputa com o senador Bernie Sanders para ganhar a vaga do partido na eleição presidencial em novembro.

Ainda assim, ela deve contar com um apoio massivo na convenção democrata que se inicia nesta segunda (25) e que deve oficializar sua candidatura. O motivo: o rival de Hillary na eleição em novembro, o empresário republicano Donald Trump, provoca calafrios em eleitores democratas de quase todos os matizes.

O próprio Sanders -- escalado para discursar na primeira noite da convenção -- disse que faria de tudo para que Hillary derrotasse o empresário.

"Enquanto Donald Trump está ocupado ofendendo mexicanos, muçulmanos, mulheres, afro-americanos e veteranos, Hillary Clinton entende que nossa diversidade é uma das nossas maiores forças", ele afirmou ao declarar seu apoio à candidata, há duas semanas.

Um dos principais objetivos do Partido Democrata na convenção será se apresentar como mais diverso e aberto que os rivais republicanos, aproveitando seu apoio entre minorias étnicas e sexuais e a mudança demográfica em curso nos Estados Unidos.

Segundo o Censo americano, até 2020 mais da metade das crianças americanas pertencerão a minorias étnicas, e até 2043 brancos deixarão de ser maioria na população geral.

Entre os convidados a discursar estão imigrantes latinos, mães de americanos negros mortos por policiais e ativistas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). Também participação da convenção ou de eventos paralelos o rapper Snoop Dogg e as cantoras Lady Gaga e Demi Lovato, entre outras celebridades.

Tropeços de Trump

Se puder unir o partido em torno de si na Filadélfia, Hillary fará algo que Trump não conseguiu fazer na convenção republicana na semana passada, em Cleveland.

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Trump não teve apoio de nomes importantes do partido Republicano, como Jeb Bush
Imagem: Timothy A. Clary/ AFP

Ainda que tenha tido sua candidatura confirmada no evento, o empresário enfrentou momentos desagradáveis ao longo da semana e não contou com a presença de importantes líderes republicanos, como o ex-governador da Flórida Jeb Bush e o governador de Ohio, John Kasich.

Logo no início da convenção, delegados eleitorais contrários a Trump tentaram constrangê-lo ao propor uma votação que atrasaria o início da programação, gerando tumulto e reações acaloradas entre os apoiadores do empresário.

Na mesma noite, a esposa do empresário, Melania Trump, foi acusada de plágio ao repetir trechos do discurso da atual primeira-dama, Michelle Obama, na convenção democrata de 2008, o que ofuscou o segundo dia do encontro.

Na penúltima noite da convenção, Trump passou por outra situação indesejada quando o senador Ted Cruz, segundo colocado nas prévias republicanas, se recusou em seu discurso a pedir votos para o empresário, deixando o palco sob forte vaia.

Já Hillary contará com o apoio e a presença de todos os principais membros do Partido Democrata, entre os quais o presidente Barack Obama, a primeira-dama Michelle Obama e a senadora Elizabeth Warren, além de vários governadores e congressistas do partido.

'Berniemaníacos'

Ainda não se sabe, porém, como os delegados de Sanders reagirão ao cortejo da candidata. Com suas propostas à esquerda (como criar um sistema público de saúde e tornar gratuitas as universidades públicas), o senador venceu as prévias em 23 dos 57 Estados e territórios e foi tratado quase como um herói por seus apoiadores.

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Ainda não se sabe como os delegados de Sanders reagirão ao cortejo de Hillary na convenção
Imagem: Mary Schwalm/Reuters

Durante a disputa, Sanders disse que Hillary não tinha preparo para ser presidente e criticou vários pontos de sua biografia, como seu apoio à invasão americana no Iraque, em 2003, e seus laços com banqueiros de Wall Street.

No fim da corrida, mesmo quando já não tinha mais chances de ultrapassá-la, ele se manteve crítico à rival e afirmou que levaria suas bandeiras para a Convenção Democrata.

Outro fator que pode provocar turbulências na convenção são protestos. Nas últimas semanas, ativistas do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), que protestam contra a violência policial contra negros americanos, disseram que poderiam se manifestar durante o evento se a plataforma aprovada na convenção deixar a desejar.

O ativista DeRay McKesson afirmou ao jornal USA Today que o grupo poderia seguir o exemplo de congressistas democratas e se sentar no chão do salão da convenção por várias horas até ter suas demandas atendidas.

Os parlamentares adotaram a estratégia em junho para pressionar os colegas republicanos a aprovar restrições à venda de armas, mas não tiveram sucesso.

Mas mesmo ativistas à esquerda descontentes com a vitória de Hillary têm indicado que, por mais reservas que tenham em relação à candidata, poderão poupá-la de ataques mais duros nos próximos meses para não fortalecer a candidatura de Trump.