Dilma promete parceria com Cuba, mas evita falar de direitos humanos na ilha


(Atualiza com reunião com Fidel Castro e visita ao porto de Mariel).

Havana, 31 jan (EFE).- A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta terça-feira uma associação "estratégica e duradoura" com Cuba e se comprometeu com o desenvolvimento econômico da ilha, mas evitou debater sobre direitos humanos com o governo de Raúl Castro e pediu que o tema seja tratado de forma abrangente entre as nações.

Em sua primeira visita a Cuba, Dilma se reuniu nesta terça-feira com o presidente Raúl Castro para analisar as relações bilaterais e também se encontrou com Fidel, líder da revolução cubana e retirado do poder desde 2006 após grave doença.

Até o momento não foram fornecidos maiores detalhes sobre o encontro de Dilma com Fidel Castro.

Com Raúl Castro, a líder brasileira analisou projetos econômicos como a ampliação do porto de Mariel, uma infraestrutura estratégica com investimento aproximado de US$ 900 milhões - US$ 640 milhões fornecidos pelo Brasil.

Os dois governantes visitaram na tarde desta terça-feira as obras do porto de Mariel, 45 quilômetros ao oeste de Havana, onde conheceram o andamento dos investimentos e a "importância estratégica" deste futuro terminal de contêineres que beneficiará tanto Cuba como o comércio da região.

"A grande contribuição que nós podemos dar aqui em Cuba é ajudar a desenvolver todo o processo econômico", declarou Dilma, em referência ao plano de reformas econômicas empreendido pelo general Castro para enfrentar a grave crise que atinge a ilha há décadas. Ela defendeu uma associação "estratégica e duradoura" entre os dois países.

Em suas declarações à imprensa, a presidente brasileira desconversou sobre a situação dos direitos humanos em Cuba ao pedir que o assunto seja discutido de forma abrangente "no mundo todo", inclusive no Brasil. Ela fez questão de mencionar a polêmica base militar americana de Guantánamo, cuja prisão é alvo de denúncias de violações dos direitos humanos.

"O mundo precisa se comprometer, em geral, e não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países do mundo têm de se responsabilizar, inclusive o nosso", declarou a líder.

Dois polêmicos assuntos precederam a visita de Dilma nos últimos dias: a morte do prisioneiro político cubano Wilman Villar, que, segundo a dissidência da ilha, teria sido vítima da própria greve de fome iniciada na prisão; e o visto de turista que o Brasil concedeu à blogueira cubana Yoani Sánchez, crítica ao regime Castro.

Como as viagens internacionais dos cidadãos cubanos são restritas pelo governo de Havana, Dilma se limitou a comentar sobre o tema: "O Brasil deu seu visto para a blogueira. Os demais passos não são da competência do governo brasileiro".

Para sair de Cuba, a crítica autora do blog "Generacion Y" ainda precisa de uma autorização do governo cubana, conhecida eufemisticamente como "cartão branco", que já lhe foi negada em várias ocasiões.

A governante brasileira confirmou nesta terça-feira que se reunirá com o ex-presidente cubano Fidel Castro, retirado do poder desde 2006 por problemas de saúde, mas ainda não se sabe quando será o encontro de ambos.

Além do destacado envolvimento do Brasil no porto de Mariel (situado a 45 quilômetros de Havana), Dilma disse que seu governo apoia Cuba em política alimentar, facilitando o acesso a um crédito de US$ 400 milhões para a compra de produtos no mercado brasileiro.

Brasília também financiará - através do programa Mais Alimentos - equipamentos, máquinas e tratores para Cuba mediante outra linha de crédito de US$ 200 milhões, dos quais US$ 70 milhões já foram aprovados.

A possível injeção de investimentos brasileiros na indústria açucareira cubana representa outro dos assuntos que pauta a visita de Dilma à ilha - o grupo Odebrecht confirmou nesta segunda-feira a iminente assinatura de um contrato para a gestão produtiva de uma usina na província de Cienfuegos.

A Companhia de Obras em Infraestrutura (COI), subsidiária da Odebrecht, pretende assinar o acordo - que terá validade de dez anos - com o grupo empresarial estatal Azcuba, encarregado do controle da produção de cana-de-açúcar e derivados em Cuba, segundo fontes da entidade brasileira.

Dilma encerrará sua visita a Cuba nesta quarta-feira, quando seguirá ao Haiti, onde se reunirá com o presidente Michel Martelly e visitará o contingente militar brasileiro, que lidera a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah).

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