Violência chega a Aleppo com pelo menos 28 mortes em duplo atentado


Damasco/Cairo, 10 fev (EFE).- A onda de violência que afeta a Síria chegou nesta sexta-feira a Aleppo, segunda maior cidade do país, que até agora tinha permanecido relativamente tranquila, com um duplo atentado que deixou 28 mortos e 235 feridos.

Duas explosões consecutivas foram registradas antes da oração muçulmana da sexta-feira em uma sede da Agência de Inteligência da Polícia Militar, no bairro de Novo Aleppo, e em um edifício das forças antidistúrbios, situado na área de Al Sajur.

Embora por enquanto seja desconhecida a origem das explosões, a televisão oficial síria acusou "grupos terroristas" de estarem por trás do duplo atentado nessa localidade, situada 360 quilômetros ao norte de Damasco.

O Exército Livre Sírio (ELS), integrado por militares desertores, não demorou em apontar o regime do presidente da Síria, Bashar al Assad, como autor das explosões.

O número dois do ELS, Malek Kurdi, disse à Agência Efe por telefone da Turquia que o regime preparou e executou o duplo atentado "para cobrir seus crimes em outras cidades".

Desta forma, o ELS tentou desvincular-se da autoria das explosões, apesar de ter reconhecido ser o responsável de um ataque com armas leves prévio às explosões.

"Grupos nossos atacaram estes dois edifícios, mas não estava previsto o uso de explosivos, mas o de armas leves e lança-granadas, porque não temos a logística para realizar um ataque dessa magnitude", frisou Kurdi.

A televisão oficial mostrou ao vivo os corpos mutilados de algumas vítimas, que jaziam no meio de veículos carbonizados e escombros nos locais das explosões. Os vidros de todas as janelas do edifício da Inteligência estavam quebrados.

Uma moradora de Aleppo, que se identificou como Mayada, afirmou à Efe que as explosões foram consecutivas e foram ouvidas em outros pontos da cidade.

"As paredes e as camas tremeram. Minhas filhas começaram a chorar, foi aterrorizante", disse Mayada, mãe de três meninas, por telefone.

Por sua parte, outro morador da cidade, Suleiman al Halabi, dirigente da opositora Comissão Geral da Revolução Síria, detalhou que a explosão na sede da Inteligência aconteceu na parte da frente do imóvel, e que logo depois houve disparos na área.

O atentado de hoje se assemelha aos ocorridos nos últimos dois meses em Damasco. No dia 6 de janeiro, mais de 20 pessoas morreram em um atentado no bairro de Al Midan, duas semanas depois que duas explosões causaram 44 mortos em um ataque contra edifícios dos corpos da segurança e da inteligência sírias

Nesses casos, as autoridades também responsabilizaram "grupos terroristas" pelos ataques.

Apesar da ocorrência de alguns protestos nos últimos meses em Aleppo, a cidade permanecia relativamente alheia à violência.

"Embora os protestos tenham começado em Aleppo no último mês de agosto, foi muito difícil continuar porque os grupos de 'shabiha' (pistoleiros do regime) controlam a cidade e reprimem as manifestações", destacou Halabi.

Aleppo é a capital econômica da Síria e nela se concentram fábricas de eletrodomésticos, tecidos e indústrias farmacêuticas.

De acordo com Halabi, nos últimos meses esta localidade se transformou em refúgio de ativistas que escapam da repressão em outras cidades, embora sua mensagem não tenha sensibilizado a população de Aleppo pelas dificuldades que têm para difundi-la pelo controle das autoridades e pela falta de coesão social.

Nesse sentido, o opositor detalhou que em Aleppo vivem muitas pessoas procedentes de outras cidades que têm mais vínculos com seus lugares de origem.

Enquanto isso, em outros pontos do país, pelo menos 35 pessoas morreram hoje pela repressão do regime, inclusive cinco menores e três mulheres, segundo os Comitês de Coordenação Local.

A organização opositora informou que as forças de leais a Assad continuaram os bombardeios em Homs, uma das principais fortificações da oposição, submetida a ataques do Exército há uma semana, onde pelo menos 11 pessoas morreram.

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