Violência irrompe no Egito em plena campanha eleitoral

Susana Samhan.

Cairo, 2 mai (EFE).- A violência abalou o Egito nesta quarta-feira local em meio à campanha das eleições presidenciais do país com a eclosão de distúrbios, que causaram 20 mortes no Cairo e ameaçaram o processo de transição política.

A mobilização da polícia e do exército impôs uma calma relativa, mas os estragos da batalha campal eram visíveis nas imediações do Ministério da Defesa, situado no bairro de Abassiya, na capital egípcia.

Vários manifestantes entrevistados pela Agência Efe disseram que, por volta de 1h30 local (20h30 de terça-feira pelo horário de Brasília), grupos de "baltaguiyas" (agitadores) atacaram com armas de fogo, pedras e coquetéis molotov o acampamento de salafistas (muçulmanos ultraconservadores) e revolucionários em frente à sede do Ministério.

Centenas de jovens portavam paus e barras para se defender de um possível novo ataque, enquanto salafistas rezavam guiados pelo deputado islamita Mamdouh Ismail.

Esses últimos foram os que instigaram o acampamento na sexta-feira passada em protesto contra a decisão da Comissão Eleitoral de rejeitar a candidatura presidencial do xeque salafista Abu Ismail, mas agora a maioria dos manifestantes é detratora da Junta Militar, autoridade máxima do Egito.

Em um hospital de campanha improvisado com cobertores e lonas, o médico e porta-voz Tareq Said disse à Efe que o número total de mortos nos choques chega a 20, o que também foi confirmado por fontes de segurança.

Said explicou que sua equipe recebeu 11 mortos, todos eles com ferimentos de bala na cabeça, e atendeu 150 feridos, 15 dos quais tinham perdido um olho por disparos. Num hospital próximo, chegaram dois corpos.

Um dos manifestantes, Sameh al Masry, de 26 anos, disse à Efe que havia militares infiltrados entre os agitadores. "São soldados, como se pode perceber pela forma como mataram, que foi muito precisa", declarou Masry com a camisa manchada de sangue, antes de ressaltar que sua reivindicação é a entrega do poder a uma autoridade civil.

A violência teve repercussões imediatas na cena política, com a decisão de três candidatos à Presidência de suspender sua campanha eleitoral: os islamitas Abdel Moneim Abul Futuh e Mohammed Mursi e o independente Khaled Ali, que estava no local dos enfrentamentos.

"A revolução deve continuar. Precisamos de uma solução revolucionária a esses incidentes", disse Ali à imprensa.

Outro dos candidatos à presidência, o ex-secretário-geral da Liga Árabe Amre Moussa, lamentou "o derramamento de sangue" em Abassiya e exigiu a proteção dos manifestantes.

Em comunicado, a Irmandade Muçulmana insistiu na necessidade de manter o calendário do pleito e da transferência de poder, e reiterou que o governo deve renunciar para que um novo Executivo, de caráter imparcial, supervisione as eleições.

Os dirigentes militares buscaram apaziguar esses temores com o anúncio de que cogitam abandonar o poder no dia 24 de maio, caso algum candidato alcançar a maioria absoluta já no primeiro turno das eleições. Esta possibilidade foi mencionada pelo chefe do Estado-Maior, Sami Anan, durante uma reunião com alguns responsáveis políticos, segundo explicou à imprensa o deputado nacionalista Mustafa al-Bakri.

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