Após 14 anos, China volta a expulsar correspondente do país
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Jason Lee/Reuters
Fotografia da correspondente da Al Jazeera permanece na mesa da jornalista em redação de Pequim
O governo chinês decidiu não renovar o visto da correspondente da versão em inglês da emissora "Al Jazeera", Melissa Chan, o que levou a cadeia a fechar sua delegação no país asiático e representa a primeira expulsão de um jornalista estrangeiro desde 1998.
O Clube dos Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC, na sigla em inglês) informou nesta terça-feira (8) que o regime comunista decidiu não renovar o visto de Chan - o que implica sua expulsão como jornalista - após um documentário emitido por sua emissora que não foi bem visto pelas autoridades chinesas.
Chan, que trabalha na China desde 2007 e tem nacionalidade americana, sequer participou desse documentário, transmitido em novembro e que tratava de campos de reeducação. Ainda assim, o governo chinês se mostrou "descontente" com a linha editorial da emissora catariana e acusou a correspondente de violar as normas, sem especificar quais, disse o FCCC.
O governo chinês, por sua vez, ainda não se pronunciou sobre o caso. Para o FCCC, do qual a correspondente era membro da junta diretiva, a decisão das autoridades chinesas "é o exemplo mais extremo da recente moda de utilizar os vistos dos jornalistas como um elemento de censura e intimidação".
A China aumentou as restrições aos jornalistas estrangeiros desde o último ano devido às tentativas de promover no país protestos similares aos da Primavera Árabe.
Nos últimos dias, vários jornalistas que cobriam a situação do dissidente cego Chen Guangcheng foram convocados ao Departamento de Segurança Pública, onde, segundo o FCCC, ouviram a ameaça de terem seus vistos retirados se descumprirem as normas do país.
Questionado sobre isso, o porta-voz da Chancelaria, Hong Lei, se limitou a destacar que "a China respeita a liberdade dos jornalistas estrangeiros, mas espera que eles trabalhem de acordo com o regulamento".
A versão da "Al Jazeera" em inglês também emitiu nesta terça-feira um comunicado em resposta ao caso e especificou que fechará sua delegação depois de as autoridades chinesas terem se negado a renovar as credenciais de Chan, assim como a permitir que seu posto fosse substituído.
O caso de Chan é a primeira de expulsão de um jornalista em 14 anos, desde que em 1998 essa medida foi aplicada ao correspondente do diário japonês "Yomiuri Shimbun" Yukihisa Nakatsu, acusado de "roubar segredos de Estado" devido a sua viagem ao Tibete.
Na época, também foi expulso o jornalista da revista alemã "Der Spiegel" Jürgen Kremb, que se negou a assinar a ata policial que o acusava de também possuir segredos de Estado.