Governo colombiano e Farc abrem diálogo de paz na Noruega com divergências

Anxo Lamela.

Hurdal (Noruega), 18 out (EFE).- O governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) instalaram nesta quinta-feira na Noruega a mesa de negociações de paz com uma entrevista coletiva em que mostraram seu compromisso de acabar com o conflito, mas deixaram patentes suas divergências.

A maior diferença foi a interpretação que as partes fizeram dos temas a serem discutidos na mesa de diálogo aberta durante o ato realizado em Hurdal, ao norte de Oslo, onde as duas delegações foram recebidas por representantes de Noruega, Cuba, Venezuela e Chile, países que acompanham o processo.

O número dois da guerrilha e chefe de sua delegação, "Ivan Márquez", criticou em um longo discurso a política econômica do governo, a reforma agrária, os "benefícios" às multinacionais, os tratados de "livre-comércio", o Plano Colômbia e a "corrupção"

"A paz não significa o silêncio dos fuzis, mas consiste em transformar a estrutura do Estado e as estruturas econômicas", afirmou "Márquez" e acrescentou que com essa política a violência e o conflito vão continuar independentemente da luta armada.

O ex-vice-presidente e chefe da equipe governamental, Humberto de la Calle, especificou que o modelo econômico e os investimentos estrangeiros não estão na agenda, que vai se concentrar nos temas estipulados em Havana: desenvolvimento rural, garantir a oposição política, o fim do conflito armado, a solução para o tráfico de drogas e os direitos das vítimas.

As Farc contestaram dizendo que tudo se deve a uma questão interpretativa, e leram o preâmbulo do acordo de Havana, assinado em agosto, que fala de desenvolvimento econômico e social.

"Se as conversas não avançarem, o governo não será refém deste processo", advertiu De la Calle.

As partes mostraram suas divergências em temas como a presença do guerrilheiro "Simón Trinidad" nas negociações, preso nos EUA e cuja participação é solicitada pelas Farc, enquanto o governo colombiano diz que esse tema não faz parte da negociação.

Na parte final da conferência de imprensa, na qual os representantes noruegueses e cubanos deram por instalada a mesa de diálogo, o guerrilheiro Luis Alberto Albán, conhecido como "Marcos León Calarcá", abandonou a mesa e deixou sua cadeira vazia com um papel com o nome de "Trinidad".

A guerrilha também mostrou sua inconformidade com o fato de o governo não ter aceitado um cessar-fogo bilateral antes da fase final de um processo que será retomado em Havana no dia 15 de novembro. Dez dias antes haverá um encontro preparatório, e o primeiro tema será o desenvolvimento rural integral.

O governo colombiano garantiu que respeitará seus compromissos internacionais em matéria judicial, apontados no Marco Jurídico para a Paz que o Congresso colombiano aprovou recentemente.

De la Calle pediu às Farc que deem a "cara" para suas vítimas, mas não quis dizer se o Estado também tem responsabilidade moral e se deve pedir perdão por outras mortes no conflito.

Os delegados das Farc ironizaram com a possibilidade de terem que cumprir penas de prisão no futuro, apelando para o "direito universal" de se recorrer às armas para lutar contra a "injustiça" e disseram que o Congresso é "um antro de corrupção".

As diferenças entre as duas equipes negociadores contrastaram com as palavras otimistas e positivas emitidas também pelas partes no começo.

Assim, De la Calle tinha reconhecido a forma "rigorosa" desempenhada pelas Farc, encorajando à guerrilha a defender seus ideais sem o uso das armas e falando de um "esforço mútuo" para acabar com um conflito que já dura meio século.

"Márquez" também tinha anunciado que o grupo armado chega para as negociações "com um sonho coletivo de paz e com um ramo de oliveira nas mãos" para buscar "a paz com justiça social por intermédio do diálogo".

A abertura da mesa aconteceu um dia depois do previsto, já que problemas logísticos atrasaram em três dias a chegada das delegações à Oslo, que tinha sido marcada para o último domingo.

O governo e as Farc assumiram o compromisso de estabelecer este diálogo de paz no dia 26 de agosto em Havana, mediante o chamado "Acordo geral para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura".

O acordo foi estipulado após seis meses de "conversas exploratórias" e secretas em Cuba, país que é fiador do processo junto com a Noruega e que tem Venezuela e Chile como observadores. EFE

alc/rpr

(foto)

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

UOL Cursos Online

Todos os cursos