Newtown enfrenta massacre em escola com dor, mas unida como uma família

Marta Quintín.

Newtown (EUA), 15 dez (EFE).- Os moradores de Newtown, a cidade assolada por um dos massacres mais sangrentos acontecidos em um colégio na história dos Estados Unidos, amanheceram neste sábado comovidos pela perda de 28 de seus moradores, mas determinados a enfrentar a tragédia como uma grande família unida.

"Gostaria de dizer às crianças que a vida não é assim, que isto não ocorre normalmente, mas vai levar muito tempo para curar essa ferida, e nunca conseguiremos totalmente, porque este lugar foi golpeado de uma forma tão horrível que nada voltará a ser igual", disse à agência Efe Marsha Moskowitc, ex-motorista do ônibus escolar do colégio atacado.

Devido a seu cargo na escola primária de Sandy Hook, que desempenhou de 1999 até o último mês de junho, Marsha, de 56 anos, conhecia muitas das 20 crianças que na sexta-feira morreram no massacre e, com visível emoção, declarou que eles que eram "estupendos, adoráveis, amáveis, encantadores".

"Vi tantas crianças crescerem. Muitos já estão no ensino médio, mas apesar disso não me esqueço deles e mantenho contato, porque esta é uma cidade pequena e os vejo pelas ruas", acrescentou.

Um dos que Marsha não tinha esquecido era exatamente Adam Lanza, o suposto autor do massacre, de 20 anos e a quem lembra da época na qual ele andava no ônibus.

"Era bastante calado, tímido, reservado, não tinha muitos amigos no ônibus, mas era educado", detalhou Marsha, que também conhecia a mãe de Lanza, que foi assassinada na casa que dividia com ele.

A motorista reconheceu que se sente "impotente", mas que passará o dia de hoje "falando com as pessoas, para reunir forças" e que rezará pelas famílias, principalmente "agora que se aproximam as datas natalinas".

A preparação para as festas é percebida nos adornos que enfeitam esta bucólica cidade de 27 mil moradores, localizada no estado de Connecticut, e que hoje se misturavam com as abundantes homenagens deixadas pelos vizinhos para transferir suas condolências às famílias das vítimas.

Velas e flores nas imediações da escola, uma bandeira confeccionada com os nomes dos falecidos e cartazes colocados nas lojas e casas com mensagens de pêsames evidenciavam a dor da comunidade, que enfrenta a tragédia unida.

"Estou aqui para ajudar qualquer um que precise. Este lugar é muito familiar e o que afeta uma pessoa afeta todos os demais. É uma tragédia, mas uniu o povo e estamos ajudando uns aos outros", contou à Efe Marcy Benítez, dona de uma loja que recebeu mensagens de apoio em seu perfil no Facebook de lugares como Austrália e Reino Unido.

"Não pude dormir esta noite, estava desejando acordar esta manhã e ver que tudo era um pesadelo", declarou, acrescentando que, por enquanto, prefere não saber o nome das vítimas, já que "provavelmente conheça, se não todas, a maioria", já que foram seus clientes durante dez anos.

No mesmo sentido se expressou Michael Porco, proprietário de uma escola de caratê pela qual passaram muitas crianças da cidade e que afirmou à Efe que pensa em passar o dia "conversando" com seus vizinhos, porque a "única coisa" que podem fazer é "permanecer unidos como uma grande família, e seguir adiante".

"Infelizmente, vamos nos sentir um pouco diferentes durante um tempo e estaremos afetados emocionalmente durante uma longa temporada", ressaltou Michael, que participou de uma vigília ontem na principal igreja da cidade.

Outros templos de Newtown também realizaram ofícios religiosos durante o dia para orar pelas vítimas.

Por sua parte, o colombiano Diego Jiménez, de 42 anos e pai de duas meninas, declarou à Efe que o mais importante agora é "estar presente" para seus filhos "quando façam perguntas ou tenham medo, para estar perto e dar-lhes tranquilidade".

Jiménez, que conhecia a diretora do colégio, Dawn Hochsprung, uma das vítimas do massacre, assinalou que, nos sete anos que vive nesta comunidade, "o máximo que tinha acontecido era o roubo de algum carro" e que as escolas "são verdadeiramente boas".

"Esta tragédia não indica que Newtown seja insegura, minhas filhas adoram viver aqui", garantiu Jiménez, que lançou uma mensagem de esperança ao dizer que ele e sua família continuarão sendo "felizes neste lugar".

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