Campanha eleitoral italiana é travada na televisão e esquece os comícios

Cristina Cabrejas.

Roma, 17 fev (EFE).- A tradicional imagem do político que aperta mãos nos mercados ou pede voto em grandes comícios desapareceu em uma anômala campanha eleitoral italiana, onde os candidatos a presidente do Governo preferiram aparições na televisão e o uso das redes sociais.

Desde que em 25 de dezembro do ano passado o primeiro-ministro Mario Monti anunciou que deixaria sua condição de tecnocrata para concorrer às eleições dos próximos 24 e 25 de fevereiro, se iniciou uma longa campanha eleitoral onde a principal característica foi a falta de contato direto com os eleitores.

Os candidatos invadiram dia e noite os canais de televisão - públicos e privados - e as emissoras de rádio, participando de todo tipo de programas, desde os de atualidade informativa aos de simples entretenimento.

A única exceção nesta campanha é do cômico Beppe Grillo, de 65 anos, líder do Movimento 5 estrelas, cujo blog é o mais seguido da Itália e tem 800 mil seguidores no Twitter, mas que além disso encheu com seus comícios as praças de toda a Itália.

O próximo objetivo: encher a grande Praça de São João Latrão de Roma, conhecida pelas manifestações da esquerda e dos sindicatos e que nestas eleições ninguém se atreveu nem a se aproximar.

No entanto, como exemplo do bombardeio na mídia, de 24 de dezembro a 14 de janeiro, o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, que lidera a coalizão de centro-direita, tinha somado 63 horas e 19 minutos de presença nas telas, destas 28 dedicadas a conceder entrevistas, segundo um relatório publicado na imprensa.

Berlusconi, de 76 anos, passou de contar sua vida privada e anunciar que tem uma namorada em conhecidos "magazines" para o grande público, a lançar seu programa eleitoral em pequenas rádios e televisões locais e também não duvidou em se prestar a mais de três horas de confronto com um dos inimigos, o jornalista Michele Santoro.

A entrevista a Santoro se transformou em um dos programas mais vistos de toda esta campanha eleitoral.

Se a presença de Berlusconi nas televisões é conhecida, quem vem se desembaraçando com naturalidade foi também o até agora "cinza" e "parco" Mario Monti, que no mesmo tempo contabilizava 62 horas e 27 minutos de presença na televisão.

Monti, de 69 anos, não só se conformou em anunciar suas propostas eleitorais mas também deu "espetáculo" adotando um cachorro durante um programa ou bebendo uma cerveja e brindando com a apresentadora.

Agora estes dados se duplicaram, já que as entrevistas e aparições não pararam.

O paradoxo é que apesar de tanta presença na televisão, os candidatos a estas eleições não conseguiram entrar em acordo para protagonizar um esperado debate conjunto.

Tanto Monti como Berlusconi justificaram sua falta de contato com os italianos.

"Il Cavaliere" assegura que ficaria encantado em encher as praças, mas que depois da agressão que sofreu em dezembro de 2009 em Milão, o Ministério do Interior lhe pediu que não organize comícios "por motivos de segurança".

Monti confessou que gostaria e seria algo estupendo, mas que não se considera capaz de realizar este tipo de presença pública.

Por isso, ambos se dedicaram a participar de atos para setores muito limitados, quase sempre no âmbito industrial ou empresarial, ou perante pequenos grupos de militantes.

Menos afeito à mídia é o líder da coalizão da centro-esquerda, Pierluigi Bersani, de 61 anos, a quem as pesquisas apontam como ganhador destas eleições, e que sim preferiu se dedicar a pequenos atos por toda a Itália e se deixou fotografar tomando um aperitivo com os aldeões, embora afastado de grandes eventos.

Além dos meios de comunicação, os candidatos se entregaram às redes sociais, sobretudo Twitter e Facebook, onde bombardearam a cada dia com dezenas de mensagens, fotos e vídeos.

"WOW!!", escreveu pessoalmente - assegura Monti - quando atingiu os 100.000 seguidores no Twitter, após se dedicar durante duas horas a uma sessão de perguntas através desta rede social.

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