"Abenomics", uma revolução monetária no Japão infestada de dúvidas
Andrés Sánchez Braun.
Tóquio, 20 dez (EFE).- O plano de reformas promovido pelo primeiro-ministro Shinzo Abe conseguiu dar uma reviravolta no panorama econômico japonês, embora sua verdadeira efetividade, assim como a solidez da recuperação japonesa, ainda gerem muitas incógnitas.
O programa, conhecido popularmente como "Abenomics", inclui entre seus três pilares básicos duplicar, em um ritmo até agora inédito, a base monetária do Japão de agora até 2015.
Este agressivo programa de compra de ativos, que visa acabar com a deflação e situar daqui a um ano e meio a alta de preços em 2% por ano, disparou a euforia investidora na Bolsa de Tóquio e favoreceu a queda do iene.
Desde que o primeiro-ministro formulou sua teoria no final de outubro do ano passado, o índice Nikkei escalou mais de 70% e recuperou o nível alcançado antes de a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, ter se transformado em uma crise financeira global.
Isso representou um bom estímulo ao consumo privado, que compõe 60% do Produto Interno Bruto (PIB) japonês, como põe de relevo a alta da despesa em produtos de luxo no Japão nos últimos tempos.
A divisa japonesa, por sua vez, se desvalorizou entre 30% e 40% com relação ao dólar e ao euro, alcançando taxas de câmbio pré-crise, o que propiciou um grande aumento dos lucros dos grandes grupos exportadores do país.
A leve alta de preços dos últimos meses parece afastar o ciclo deflacionário que a terceira maior economia do mundo sofreu nos últimos 15 anos, e o PIB japonês dá a impressão de ter retomado o caminho do crescimento.
No entanto, os alicerces sobre os quais se sustentaram até agora esse avanço econômico são os que ressaltam essas dúvidas em torno do "Abenomics".
O primeiro deles é o consumo, que cresceu neste ano e que provavelmente se expandirá mais até março.
O lado ruim é que a partir de 1º de abril de 2014 a entrada em vigor de uma alta do IVA (imposto sobre valor agregado) de três pontos percentuais pode frear de repente a despesa das famílias japonesas.
O segundo fator que deu fôlego à economia japonesa é o grande aumento dos gastos públicos (que por sua vez é a segunda "flecha" do "Abenomics"), uma torneira que não poderá ser deixada aberta de maneira indefinida no país com a pior saúde fiscal do mundo desenvolvido.
Por outro lado, o Japão dificilmente voltará a ter um saldo comercial positivo até que Abe e seu governo não resolvam a difícil encruzilhada energética do país, que viu aumentada sua dependência dos hidrocarbonetos que importa após o acidente em Fukushima, por causa do qual paralisou todos os seus reatores atômicos.
É por isso que Abe, como explicou publicamente seu entorno, focará seus esforços em 2014 em buscar um maior envolvimento do setor privado para que este ciclo de alta de preços, de consumo e, definitivamente, de crescimento econômico, se torne mais sustentável.
Abe deseja há meses um maior investimento de capital fixo e altas salariais que deem impulso ao consumo doméstico por parte das grandes empresas, a maioria das quais fez numerosos faturamentos neste ano graças ao barateado iene.
Mas quase nenhuma deu por enquanto seu braço a torcer, à espera de que o governo aceite antes cortar uma porção do imposto de sociedades destinada a apoiar a reconstrução da região japonesa que foi devastada pelo tsunami de 2011.
A terceira "flecha" do "Abenomics", que promete uma série de reformas estruturais em diversos setores (desde o agrícola até o elétrico), também apresenta sérias dúvidas aos analistas.
Abe formulou propostas ambiciosas, mas algumas delas, como a de conseguir em poucos anos uma incorporação mais plena da mulher ao mercado de trabalho japonês, um dos mais desiguais do mundo desenvolvido, se mostram complexas e carecem até agora de concretização.
Já os avanços legislativos para desregular e tornar mais competitivos vários setores-chave foram até agora praticamente inexistentes e sublinham, segundo os mais críticos, a preocupante paralisia da classe política japonesa.
Tóquio, 20 dez (EFE).- O plano de reformas promovido pelo primeiro-ministro Shinzo Abe conseguiu dar uma reviravolta no panorama econômico japonês, embora sua verdadeira efetividade, assim como a solidez da recuperação japonesa, ainda gerem muitas incógnitas.
O programa, conhecido popularmente como "Abenomics", inclui entre seus três pilares básicos duplicar, em um ritmo até agora inédito, a base monetária do Japão de agora até 2015.
Este agressivo programa de compra de ativos, que visa acabar com a deflação e situar daqui a um ano e meio a alta de preços em 2% por ano, disparou a euforia investidora na Bolsa de Tóquio e favoreceu a queda do iene.
Desde que o primeiro-ministro formulou sua teoria no final de outubro do ano passado, o índice Nikkei escalou mais de 70% e recuperou o nível alcançado antes de a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, ter se transformado em uma crise financeira global.
Isso representou um bom estímulo ao consumo privado, que compõe 60% do Produto Interno Bruto (PIB) japonês, como põe de relevo a alta da despesa em produtos de luxo no Japão nos últimos tempos.
A divisa japonesa, por sua vez, se desvalorizou entre 30% e 40% com relação ao dólar e ao euro, alcançando taxas de câmbio pré-crise, o que propiciou um grande aumento dos lucros dos grandes grupos exportadores do país.
A leve alta de preços dos últimos meses parece afastar o ciclo deflacionário que a terceira maior economia do mundo sofreu nos últimos 15 anos, e o PIB japonês dá a impressão de ter retomado o caminho do crescimento.
No entanto, os alicerces sobre os quais se sustentaram até agora esse avanço econômico são os que ressaltam essas dúvidas em torno do "Abenomics".
O primeiro deles é o consumo, que cresceu neste ano e que provavelmente se expandirá mais até março.
O lado ruim é que a partir de 1º de abril de 2014 a entrada em vigor de uma alta do IVA (imposto sobre valor agregado) de três pontos percentuais pode frear de repente a despesa das famílias japonesas.
O segundo fator que deu fôlego à economia japonesa é o grande aumento dos gastos públicos (que por sua vez é a segunda "flecha" do "Abenomics"), uma torneira que não poderá ser deixada aberta de maneira indefinida no país com a pior saúde fiscal do mundo desenvolvido.
Por outro lado, o Japão dificilmente voltará a ter um saldo comercial positivo até que Abe e seu governo não resolvam a difícil encruzilhada energética do país, que viu aumentada sua dependência dos hidrocarbonetos que importa após o acidente em Fukushima, por causa do qual paralisou todos os seus reatores atômicos.
É por isso que Abe, como explicou publicamente seu entorno, focará seus esforços em 2014 em buscar um maior envolvimento do setor privado para que este ciclo de alta de preços, de consumo e, definitivamente, de crescimento econômico, se torne mais sustentável.
Abe deseja há meses um maior investimento de capital fixo e altas salariais que deem impulso ao consumo doméstico por parte das grandes empresas, a maioria das quais fez numerosos faturamentos neste ano graças ao barateado iene.
Mas quase nenhuma deu por enquanto seu braço a torcer, à espera de que o governo aceite antes cortar uma porção do imposto de sociedades destinada a apoiar a reconstrução da região japonesa que foi devastada pelo tsunami de 2011.
A terceira "flecha" do "Abenomics", que promete uma série de reformas estruturais em diversos setores (desde o agrícola até o elétrico), também apresenta sérias dúvidas aos analistas.
Abe formulou propostas ambiciosas, mas algumas delas, como a de conseguir em poucos anos uma incorporação mais plena da mulher ao mercado de trabalho japonês, um dos mais desiguais do mundo desenvolvido, se mostram complexas e carecem até agora de concretização.
Já os avanços legislativos para desregular e tornar mais competitivos vários setores-chave foram até agora praticamente inexistentes e sublinham, segundo os mais críticos, a preocupante paralisia da classe política japonesa.
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