Passeatas, violência e mortes marcam um mês de protestos na Venezuela

Nélida Fernández.

Caracas, 12 mar (EFE).- Com passeatas da oposição e dos governistas, incidentes de violência e vandalismo em Caracas e em outras cidades do país, além de três novas mortes, a Venezuela completou nesta quarta-feira um mês de protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro.

Estudantes simpáticos à oposição convocaram para hoje uma manifestação com o objetivo de protestar em frente à sede da Defensoria Pública pela falta de ação dessa instituição em relação às denúncias de violações dos direitos humanos por parte do governo contra os manifestantes.

A mobilização, no entanto, não prosperou.

Como Maduro tinha antecipado na terça-feira, a passeata não teve permissão para entrar em Caracas, algo que pode ocorrer a partir de agora com todas as manifestações da oposição que tenham a intenção de entrar no Distrito Capital.

O presidente afirmou que só vai permitir passeatas em Caracas quando a oposição se reunir com ele e as barricadas ('guarimbas') e o golpe que, afirma, existe contra ele acabarem.

A deputada de oposição Maria Corina Machado e o líder estudantil Juan Requesens tentaram dialogar com os policiais para que o grupo marchasse pacificamente até a Defensoria Pública, mas as conversas não foram em frente e os agentes da polícia e da Guarda Nacional dispersaram a concentração com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de balas de chumbo.

A passeata que conseguiu chegar até as portas da Defensoria foi a dos estudantes que apoiam o governo e que saíram hoje para condenar a violência em alguns protestos da oposição.

Os jovens foram recebidos pelo presidente, Nicolás Maduro, e pelo vice, Jorge Arreaza.

O presidente declarou que sua vontade era realizar uma "conferência pela paz com todos os dirigentes estudantis" no dia de hoje, mas os dirigentes estudantis "da direita" supostamente pediram que o encontro fosse dividido em dois capítulos, o "bolivariano, patriota e socialista" e depois o da "oposição".

"Está bem então, hoje vamos começar o capitulo bolivariano, patriota e socialista e convoco para amanhã os estudantes da oposição", disse, apesar de o encontro não ter sido confirmado pelos universitários que o criticam.

Enquanto isso, os protestos na cidade de Valência, no estado de Carabobo, deixaram um saldo de três mortos, dois civis e um guarda nacional, de acordo com as informações fornecidas pelo governador, o chavista Francisco Ameliach, e pelo prefeito, Miguel Cocchiola, da oposição.

Ameliach culpou franco-atiradores de serem os responsáveis pelos disparos "contra sua própria gente", que causou a morte de um universitário de 23 anos e ferimentos em outros em uma localidade de Valência, no mesmo lugar no qual Cocchiola disse que um homem de 42 anos também morreu.

Maduro lamentou as mortes e disse que os que estão atirando contra as pessoas são militantes do partido opositor, Voluntad Popular, que tem como líder "o fascista Leopoldo López", preso há três semanas, e os policiais dos municípios governados pela oposição.

Também criticou que Altamira, uma localidade do município Chacao - no leste de Caracas - e que é governado pelo prefeito da oposição Ramón Muchacho, seja o cenário de atos de vandalismo e protestos há um mês e chamou o governante municipal de "irresponsável" por não reprimir a violência.

O prefeito, por sua vez, "alertou" através do Twitter "sobre uma dinâmica estranha" que acontece no local e afirmou que "grupos pequenos, porém organizados, aproveitam os protestos para cometer atos de vandalismo" contra edifícios do Estado, "sem que o governo os impeça".

Muchacho, assim como os outros três prefeitos da oposição que governam quatro dos cinco municípios que formam a região metropolitana de Caracas, garantiram que as forças policiais municipais não estão capacitadas e que também que não está entre suas tarefas a repressão dos protestos.

O prefeito de Chacao disse que essas ações de vandalismo servem como "álibi para o governo" desprestigiar as reivindicações do movimento estudantil que convoca os protestos e atacar à polícia municipal. Também acusou Maduro de permitir a violência para "desviar a atenção das verdadeiras causas da crise".

Em San Cristóbal, capital do estado de Táchira, onde os protestos acontecem há mais de um mês, houve novos enfrentamentos entre as forças de segurança e os opositores, enquanto novas manifestações ocorreram na zona sul da cidade.

A Venezuela vive uma onda de protestos que completou hoje um mês, alguns deles violentos, com um saldo, até o momento, de mais de 20 mortes, centenas de feridos e mais de mil de detidos.

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