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Favorecidos pela ausência de poder, jihadistas ganham força na Líbia

18/12/2015 21h18

Mohamad Abdel Malek.

Trípoli, 18 dez (EFE).- Grupos armados que apoiam a organização jihadista Estado Islâmico (EI) ampliaram sua influência e o domínio sobre territórios na Líbia em 2015, favorecidos pela ausência de poder e o fracasso da mediação da ONU.

Estabelecidos na cidade oriental de Derna, vizinha à fronteira com o Egito, os jihadistas não apenas conseguiram repelir os ataques das diferentes forças como também foram capazes de estender seu poder no restante do país.

O primeiro alvo foi Benghazi, a segunda maior cidade do país, aproveitando os combates entre as forças leais ao parlamento em Tobruk, que assediam a cidade, e as milícias islamitas fiéis ao governo rival de Trípoli, que a defendem.

A cidade vivencia um enorme drama humanitário desde que, em maio de 2014, soldados sob o comando do antigo general kadafista Khalifa Hafter ocuparam as ruas para tentar favorecer Tobruk no processo negociador com a ONU.

Desde então, a aviação de Hafter - que nos anos 80 se tornou o principal opositor a Muammar Kadafi no exílio - bombardeia com frequência a antiga capital rebelde sem obter avanços e já deixou mais de 100 mil deslocados internos.

Os combates foram aproveitados pelos jihadistas, que já controlam vários bairros e conseguiram abrir uma rota para o oeste. A divisão militar também serviu para o grupo tomar o controle de 80% da cidade portuária de Sirte, na qual nasceu e morreu linchado o ditador Muamar Kadafi durante a revolta que o tirou do poder em 2011.

Grupos fiéis ao EI criaram estruturas administrativas e militares no local, com as quais começaram a avançar rumo às principais instalações petrolíferas.

Com ajuda de voluntários treinados na Síria e no Iraque, grande parte deles tunisianos, o grupo jihadista também dominou os arredores da cidade de Sabratah, situada no caminho entre a capital e a fronteira da Tunísia.

Em relatório, a ONU admitiu que o auge do jihadismo é o principal problema da Líbia e pediu aos grupos políticos rivais que esqueçam suas diferenças para enfrentarem um inimigo comum.

O documento foi divulgado poucos dias após o fracasso da proposta do antigo enviado especial da ONU para a Líbia, Bernardino León, que abandonou o posto em outubro entre duras críticas.

No fim de setembro, após meses de diálogos conflituosos, León, que é acusado por Trípoli de trabalhar em prol dos interesses de Tobruk, defendeu um governo de união nacional recusado pelas duas partes.

A rejeição deixou o país sem governo legítimo, já que em 20 de outubro expirou o mandato de um ano que as urnas tinham concedido a Tobruk. A negociação foi retomada no fim de novembro pelo novo enviado especial, o alemão Martin Kobler, que precisa trabalhar com afinco na recuperação da confiança depositada na ONU por Trípoli.

O governo rebelde se considerou legitimado em suas denúncias ao descobrir que León almejava um cargo de grande importância nos Emirados Árabes, um dos países que apoiam financeira e militarmente Tobruk, e o pressionou para mudar as condições do acordo.

No dia 16 de dezembro, ambos os parlamentos assinaram um novo documento na cidade marroquina de Skhirat, pacto cujo futuro depende da inclusão dos grupos políticos que ainda se opõem à mediação da ONU.

Além disso, para o pacto ser bem-sucedido é necessário um acordo similar no comando militar, que desde o início do diálogo se sobressaiu como a questão mais complicada, já que o resto das milícias não aceita a exigência de Tobruk que o polêmico general Hafter seja nomeado chefe supremo.

O caos e a guerra civil afetam o país desde 2011, quando a comunidade internacional contribuiu militarmente para que os rebeldes derrubassem a ditadura de Kadafi. A situação foi explorada pelas máfias de tráfico de pessoas para enviar milhares de imigrantes de forma irregular à Europa.

Praias de cidades portuárias como Zawara e outras na periferia de Trípoli se tornaram o principal ponto de saída para pessoas provenientes da África Subsaaariana que tentam atravessar o Mar Mediterrâneo em embarcações precárias.

Segundo números das autoridades locais, mais de 500 pessoas morreram afogadas e milhares permanecem em centros de amparo após terem sido resgatadas, à espera de juntar dinheiro suficiente para tentar outra travessia.