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Intervenção no Iêmen bloqueia avanço houthi, mas agrava crise humanitária

21/12/2015 19h28

Khaled Abdullah.

Sana, 21 dez (EFE).- A intervenção militar da coalizão árabe, liderada pela Arábia Saudita, no Iêmen conseguiu frear o avanço dos rebeldes houthis, mas deteriorou ainda mais a situação humanitária no país, um dos mais pobres do mundo.

A aliança militar começou a lançar ataques aéreos no dia 26 de março contra as posições do movimento xiita dos houthis e as tropas de seu aliado, o ex-presidente Ali Abdullah Saleh.

Essa ofensiva se baseou em um pedido do presidente iemenita, Abdo Rabbo Mansour Hadi, que teve que fugir da capital Sana em fevereiro, quando os houthis tomaram o poder após cinco meses de conflito.

O primeiro refúgio de Hadi foi a cidade sulina de Áden, sede provisória de seu governo, mas o destino final foi o exílio em Riad, quando os insurgentes começaram a se aproximar.

A possibilidade de os rebeldes xiitas - apoiados pelo Irã - dominarem todo o país provocou a reação da Arábia Saudita, que uniu Emirados Árabes, Catar, Kuwait, Bahrein, Egito, Marrocos, Jordânia e Sudão, com o apoio logístico dos Estados Unidos.

Os ataques aéreos diários conseguiram destruir o arsenal de mísseis e armas pesadas roubadas pelos houthis das bases do exército iemenita e que representavam uma ameaça para a Arábia Saudita.

Os bombardeios também conseguiram impedir o avanço dos rebeldes rumo às províncias meridionais, de onde foram expulsos em setembro por forças leais a Hadi, apoiadas por tropas terrestres dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita.

Riad ingeriu com frequência nos assuntos políticos internos do Iêmen, mas essa intervenção militar foi de grande envergadura e teve graves repercussões em nível humanitário após o conflito chegar a 20 das 22 províncias do país.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), cerca de 5,7 mil pessoas morreram, mais da metade civis, desde o início da intervenção militar liderada por Riad.

O coordenador da OCHA no Iêmen, Johannes van der Klaauw, informou em comunicado no dia 18 de novembro que o atual conflito está devastando o país e que "a situação humanitária, já miserável, se degradou nos últimos sete meses".

Klauuw acrescentou que mais de 21 milhões de pessoas, 82% da população, necessita ajuda humanitária para satisfazer suas necessidades fundamentais, já que mais da metade dos iemenitas carecem de acesso a atendimento de saúde e água limpa.

Ao todo, 14,4 milhões de pessoas se encontram em situação de insegurança alimentícia, enquanto 2,3 milhões se tornaram deslocados internos.

Os bombardeios da coalizão árabe no Iêmen ocasionaram críticas de organizações humanitárias e de direitos humanos, que denunciaram possíveis crimes de guerra e violações da lei humanitária.

O analista político Yassin Tamimi explicou à Agência Efe que a Arábia Saudita realiza uma batalha política junto à militar para fazer frente às pressões das organizações internacionais.

"O mundo olha para a guerra que se desenvolve no Iêmen pelo ângulo da intervenção árabe, para que os crimes do Saleh e dos houthis pareçam secundários", criticou o analista, que previu uma pronta "vitória" da coalizão.

A Arábia Saudita e as forças de Hadi apontam que as operações militares continuarão até que os houthis cumpram a resolução 2216 do Conselho de Segurança da ONU, que pede que os rebeldes abandonem o governo e as regiões que conquistaram.

O cumprimento dessa resolução coloca ambos os lados em conflito e dificulta um acordo, apesar da mediação da ONU, que propiciou conversas de paz e conseguiu vários avanços neste ano.

No entanto, essas tréguas de caráter humanitário não foram respeitadas por nenhuma das partes e não permitiram a distribuição da ajuda necessária, o que conduziu de novo à estaca zero.

Na opinião do ex-dirigente dos houthis Ali al Bajiti, os rebeldes devem priorizar uma solução política porque é "impossível que permaneçam sozinhos no poder".

Al Bajiti recomendou aos insurgentes, em comentário nas redes sociais, que façam "concessões valentes" enquanto ainda estão em posição de força.