Oposição insiste que Maduro renuncie, após admitida a "catástrofe" econômica
A renúncia do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, uma das opções que a oposição vê como saída para antecipar o fim de sua gestão, voltou neste sábado ao primeiro plano, um dia depois que este avaliou de "catastrófica" a situação econômica vivida no país.
O chefe da agora majoritária bancada opositora no Parlamento, Julio Borges, declarou que é um "dever exigir" do governo de Maduro "uma mudança de rumo" e advertiu: "Se não fizer esta mudança teremos que liderar o país para mudar o governo".
"Maduro e seus assessores próximos não entenderam nada e por isso pretendem continuar aplicando as mesmas receitas que leva os venezuelanos a fazer filas e sofrer com a escassez, passando trabalho porque o salário não dá", disse Borges sobre o decreto de emergência econômica assinado nesta sexta-feira pelo presidente.
Borges disse que através desse decreto Maduro insiste em continuar o caminho do controle estatal sobre a economia, "que a única coisa que gerou foi corrupção e escassez de maneira escandalosa".
O chefe de Governo assinou o decreto enquanto dava conta de sua gestão anual ao Parlamento, desde este mês com maioria da oposição, cujos líderes acertaram em julho do ano passado buscar uma forma de antecipar o fim da gestão de Maduro.
Maduro foi eleito em abril de 2013 para um período de seis anos, mas a Constituição do país, além da renúncia voluntária, prevê diversos outros mecanismos para sua saída do poder, entre eles um referendo revogatório do mandato na metade da gestão do governante.
"Maduro diz que quer estimular o investimento, produção e exportações. Há uma medida com a qual conseguiria isso imediatamente: prestação de contas e renúncia", escreveu a titular do partido Vente Venezuela, María Corina Machado.
Em sua conta na rede social Twitter, María qualificou de "irracional" o decreto de emergência econômica que Maduro entregou nesta sexta-feira na Assembleia Nacional (AN, Parlamento), com o qual pediu para seu governo "todo o controle orçamentário sem controladoria nem ação da AN".
"Ou seja, que a corrupção continue alegre. Uma habilitante (dar poderes legislativos ao Executivo) a quem destruiu a economia, inaceitável!", ressaltou María.
O ex-candidato à Presidência, o opositor Henrique Capriles, escreveu que, apesar de um diálogo ser urgente, este "não é fazer o que o governo quer e menos com quem levou o país à ruína".
"Dar uma habilitante disfarçada ao destruidor do país é como dar uma pistola a um assassino, além de que o decreto de Maduro é um frasco de veneno para os venezuelanos", disse Capriles.
O ex-candidato e governador do estado de Miranda, que abrange uma parte de Caracas, também qualificou de falso o índice de 141,5% de inflação registrada entre setembro de 2014 e setembro de 2015, a taxa mais alta da Venezuela em toda sua história, sustentando que essa porcentagem é ainda maior.
Um relatório do Banco Central da Venezuela (BCV) emitido horas antes do discurso de Maduro indica que a taxa de inflação e a contração de 4,5% da economia são fruto da queda dos preços do petróleo, o principal produto da economia venezuelana.
"Estes números são falsos e sabemos do próprio BCV. Acham que o povo é idiota", declarou Capriles sem dar mais detalhes.
O secretário-geral do partido La Causa Radical, José Ignacio Guédez, qualificou a prestação de contas de Maduro como "um engodo" e destacou que assinou o decreto presidencial sem especificar nenhuma medida e "esperando que a AN aprove um cheque em branco para ele".
"Apesar da emergência ser econômica, a solução é política, e passa pela mudança de governo", disse Guédez.
Por sua vez, o secretário-executivo da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, emitiu uma declaração na qual destaca que Maduro falou de diálogo "para poder superar a terrível situação do país, mas seu decreto de emergência econômica foi publicado sem consenso com nenhum setor".
"O chefe de Governo sustenta que o mesmo modelo que gerou a catástrofe é a solução, quando não é mais que um instrumento que outorga amplos poderes às máfias oficiais que geraram a emergência, aos saqueadores", criticou Torrealba.
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