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Presença feminina no governo dos EUA cai pela metade com chegada de Trump

Miriam Barchilon

Em Washington

29/01/2017 10h01

O presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, contará com quase metade de mulheres em seu governo e em sua equipe mais próxima da Casa Branca que seu antecessor no posto, o democrata Barack Obama.

Com o novo governo de Trump formado e após a primeira semana de sua presidência, a representação feminina nos principais postos de responsabilidade do país sofreu um corte considerável.

Este Executivo está se cristalizando, por enquanto, como o que conta com menor presença feminina desde que George Bush pai chegou ao poder em 1989, e iguala o de George W. Bush.

Uma prova muito gráfica dessa realidade é a foto de apresentação da conta presidencial de Trump no Twitter, na qual ele aparece no Salão Oval assinando uma ordem executiva, com cortinas douradas de fundo e sob o atento olhar de sete integrantes de sua equipe, todos homens com sóbrios ternos e gravatas.

Por isso, entre outros motivos, mais de um milhão de pessoas inundaram há uma semana várias cidades do país na chamada Marcha das mulheres, um dia após a posse de Trump, a quem criticam por suas atitudes contra a diversidade, a igualdade entre sexos, os direitos reprodutivos e aparente misoginia.

Enquanto Obama incorporou sete mulheres em seu primeiro governo em 2009 e incluiu outras duas entre seu pessoal mais próximo na Casa Branca, Trump só conta com quatro e uma, respectivamente.

Esta única conselheira em postos de confiança da Casa Branca é Kellyanne Conway, uma de suas principais assessoras de campanha e pessoa fundamental em sua luta para atrair o voto feminino, sobretudo após os infelizes e grosseiros comentários machistas do multimilionário durante a campanha eleitoral.

Betsy DeVos, indicada para o posto de secretária de Educação, se tornará outra das mulheres com mais visibilidade depois que superar a sabatina do Senado, pendente ainda por sua controvertida defesa da educação privada e pelo maior escrutínio a que é submetida pelo escritório de ética devido a sua condição de multimilionária.

Elaine Chao, esposa do líder da maioria conservadora no Senado, Mitch McConnell, é uma política republicana de origem taiwanesa e uma das pessoas nesta transição de governos que despertou mais consenso para se transformar na próxima secretária de Transporte.

Por sua parte, a governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, que tinha sido muito crítica ao magnata durante a campanha eleitoral, já atua como embaixadora dos EUA nas Nações Unidas após sua confirmação senatorial, enquanto a empresária da luta livre Linda McMahon ainda espera ser confirmada como diretora da Administração de Pequenas Empresas (SBA).

"É um autêntico retrocesso", comentou a diretora do Centro para Mulheres Americanas e Política (CAWP, na sigla em inglês), Debbie Walsh, ao site de informação feminina Refinery29.

"É decepcionante não ver mais mulheres nomeadas no gabinete de Trump. Por meio de pesquisas, sabemos que isso importa. (As mulheres) levam à mesa diferentes perspectivas, diferentes ideias. Não ter essas ideias, esse talento, essa criatividade sobre a mesa é uma perda para o país", acrescentou Walsh.

Em comparação, no começo de seu primeiro mandato, em 2009, Obama tinha em Valerie Jarrett uma de suas assessoras mais próximas e em Lisa Monaco sua conselheira de segurança nacional.

Em seu governo, a figura feminina mais visível foi a da secretária de Estado entre 2009 e 2013, Hillary Clinton, que enfrentou Trump nas últimas eleições para tentar se tornar a primeira mulher presidente.

Obama também contou com Hilda Solis como secretária de Trabalho, com Kathleen Sebelius como secretária de Saúde e com Susan Rice como embaixadora na ONU, que mais tarde se transformaria na assessora de Segurança Nacional da Casa Branca.

Além disso, Lisa Jackson foi nomeada para a Agência de Proteção Ambiental, a latina María Contreras-Sweet como diretora da Administração de Pequenas Empresas (SBA) e Christina Romer como presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca.

Embora as mulheres tenham ocupado mais postos de responsabilidade no governo de Obama, sua presença ficou muito longe da metade dos 24 postos de governo e 10 cargos principais da Casa Branca.

Por isso, essas mulheres usaram então uma estratégia conhecida como "amplificação", consistente em repetir as ideias das outras mulheres continuamente durante as reuniões para dar mais importância a suas contribuições e obrigar os homens a levá-las em consideração.

Nos próximos quatro anos, não só a presença de mulheres marcará a relação de Trump com a política feminina, mas questões como o aborto, do qual já retirou fundos, os direitos reprodutivos e a violência machista exercerão um papel importante.

O governo de Trump se transformou, além disso, no menos diverso em grupos étnicos desde o de George H. W. Bush, com as únicas presenças não brancas da asiática Chao, da indiana Haley e do afro-americano Ben Carson como secretário de Habitação.